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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Será tempo de repensar a vacina contra a poliomielite?



Por Eduardo Silveira, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo

A poliomielite é uma doença causada por um enterovirus, pertencente à família Picornaviridae, chamado Poliovírus. Ele invade células do sistema nervoso, causando rapidamente paralisia em um ou mais membros. Até o fim da década de 80, esta infecção viral ainda afligia a população da maior parte dos países do mundo. Entre os vários cientistas que trabalharam para gerar uma vacina protetora contra este vírus, destacou-se Albert Sabin. Ele desenvolveu uma formulação composta de partículas virais atenuadas dos tipos 1, 2 e 3 daquele poliovírus que apresentava alta grau de proteção quando administrada na forma oral. Devido à alta eficácia e baixo custo, essa vacina foi incluída em programas de imunização, com o apoio da Organização Mundial de Saúde, culminando na erradicação da doença em quase todo o mundo. No entanto, foi descoberto que estes vírus atenuados derivados da vacina podem readquirir virulência e, até mesmo, patogenicidade. Este fato abriu um precedente tanto para a manutenção quanto para a transmissão destas formas, as quais têm sido associadas aos recorrentes surtos de poliomielite que ainda acontecem em países como Índia, Afeganistão, Paquistão e Nigéria. Uma forma de se evitar este problema é através da imunização com vacina composta de partículas virais inativadas, como as desenvolvidas por Jonas Salk, que são administradas por via intramuscular. Esta última vacina ainda não é amplamente usada no mundo, já que ela ainda é bem mais cara que a oral atenuada.
            
Um artigo muito interessante e recém publicado na revista Plos Pathogens por Dunn e colegas mostra o caso de um indivíduo imunodeficiente do Reino Unido que, mesmo após 28 anos da vacinação com a forma oral e atenuada da vacina da polio, continuou a excretar poliovírus do tipo 2 nas fezes. Isso representa o maior período de excreção destes poliovírus derivados de vacinação até então. Amostras de fezes deste paciente foram coletadas e analisadas continuamente nos últimos 20 anos e dados de sequenciamento comprovaram que ele é derivado do tipo 2 do vírus, porém vêm adquirindo mutações com o passar do tempo. Alguns destes poliovírus foram isolados de diferentes amostras e, após testes em camundongos, mostraram que eles readquiriram a capacidade de não só infectar novas células, mas também apresentavam virulência similar a de vírus circulantes (derivados de vacinação ou selvagens). Como conseqüência das mutações, vários anticorpos neutralizantes a poliovírus selvagens, por exemplo, não reconheceram as formas isoladas deste paciente. Somente soros humanos de indivíduos vacinados foram capazes de reconhecer um dos vírus isolados. Ainda, camundongos transgênicos vacinados com Poliovírus inativados, oriundos daqueles utilizados na vacina oral e atenuada, e desafiados com um isolado deste paciente mostraram que a proteção era variável. Ainda, a concentração de soro destes animais vacinados necessária para neutralizar o mesmo isolado do desafio foi 7 vezes maior que o observado para um vírus selvagem. 


Desta forma, fica claro que, mesmo com o advento das vacinas inativadas para a Polio, é possível que elas não tenham a eficácia esperada caso elas sejam produzidas a partir das seqüências dos vírus usados nas vacinas orais e atenuadas. Além do desenvolvimento de novas vacinas, seria interessante o desenvolvimento de novos anticorpos neutralizantes a estas novas formas circulantes do vírus.


Referência bibliográfica:
Dunn G, Klapsa D, Wilton T, Stone L, Minor PD, Martin J. Twenty-Eight Years of Poliovirus Replication in an Immunodeficient Individual: Impact on the Global Polio Eradication Initiative. PLoS Pathog. 2015 Aug 27;11(8):e1005114.






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