O
sistema complemento é tradicionalmente conhecido por suas funções de eliminação
de patógenos e indução da inflamação. No entanto, estudos recentes vêm
demonstrando a atuação desse sistema também na regulação de resposta imune
adaptativa. Um trabalho recente publicado na revista Immunity, em junho desse ano, demonstrou que o complemento é
importante para induzir a reprogramação metabólica, necessária para a
diferenciação de células T efetoras, mais especificamente as Th1. O receptor
CD46 é expresso em células humanas e atua como uma molécula reguladora do
complemento, se ligando aos fragmentos C3b e C4b, e como molécula
coestimuladora de linfócitos T CD4+.
Kolev e
colaboradores demonstraram que, após a ativação da célula T CD4+,
o CD46 atua na indução do subtipo Th1. Após a ativação de linfócitos T CD4+,
uma das isoformas da cauda citoplasmática do CD46, a CTY-1, migra para o núcleo
e induz o aumento na expressão dos transportadores de glicose (GLUT1) e
aminoácidos (LAT1), resultando na ativação de mTORC1 e aumento na glicólise e
fosforilação oxidativa pelo linfócito T. Ações estas essenciais para o suporte
da maturação de células Th1 e a produção de IFN-γ (Figura 1).
Fig 1: Efeito
do receptor CD46 no metabolismo celular e indução de células Th1.
Pacientes
com deficiências na expressão de CD46 apresentam expressão menor de GLUT1 e
LAT1, redução da ativação de mTORC1, com
consequente redução na fosforilação oxidativa, glicólise e diferenciação de
linfócitos Th1. Por outro lado, apenas a ausência total da expressão de CD46
afeta a maturação de células Th17, demonstrando que existe um limiar metabólico
que diferencia a indução desses dois subtipos. Já as respostas de linfócitos
Th2 permanecem inalteradas.
Evidências
sobre novas funções do sistema complemento como regulador de respostas imunes,
junto com a descoberta que sua ativação também ocorre no interior das células,
nos leva a possibilidade de que o complemento tenha evoluído inicialmente como
um sistema de detecção de stress intracelular. Descobertas como essas
demonstram que na Imunologia, mesmo os sistemas mais bem caracterizados e
aparentemente conhecidos, ainda podem nos surpreender com respostas cada vez
mais encantadoras.
Post
de Gabriela Pessenda (Doutoranda IBA-FMRP-USP)
parabéns.....muito interessante. Deve ser por isso que morre mais diabético séptico, quando comparado com séptico não diabetico.
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