A relação harmônica com as bactérias intestinais é
importante para a defesa do nosso organismo e requer mecanismos tolerogênicos
que impeçam o sistema imunológico de montar respostas inflamatórias indesejadas.
Três estudos recentes que descreveram novas maneiras de alcançar essa
tolerância da mucosa foram destacados pela Nature Reviews desse mês de agosto.
O primeiro deles, descrito por um grupo chinês (Zhang
et al.), foca nas células de Paneth que estão localizados na parte inferior das
criptas intestinais e mantém a função de barreira epitelial através da secreção
de peptídeos antimicrobianos (AMPS). Os autores observaram que os camundongos sem
o gene Lrrk2 (que codifica repetições
ricas em leucina quinase 2 e são mais susceptíveis à inflamação intestinal) não
conseguiram controlar a infecção intestinal com Listeria monocytogenes, que depende da atividade bactericida das
células de Paneth. A análise da expressão de proteínas revelou que a deficiência
de Lrrk2 levou à uma redução
específica na produção do antimicrobiano lisozima pelas células de Paneth, mas
não de outros AMPs. Notavelmente, foi também encontrado alteração na liberação
de lisozima mediada pela Lrrk2 em
camundongos germ-free, sugerindo que bactérias
comensais são necessárias para a adequada triagem e liberação da lisozima.
No segundo trabalho, Wang et al. descreveram como a
detecção de bactérias comensais por receptores do tipo Toll (TLRs) nas células
T reguladoras (Tregs) em placas de Peyer estabelece uma resposta imune tolerogênica
focada na produção de IgA que mantém uma flora microbiana saudável. Camundongos
com uma depleção da molécula adaptadora de TLR MYD88 específica nas células Treg
tiveram número reduzido da população de Treg e aumento das células Th17 na
mucosa intestinal, o que contribuiu para uma colite mais grave. A deficiência
de MyD88 específica nas células Treg também conduziu à uma redução no número de
células T reguladoras foliculares (TFR) e auxiliares (TFH). Como consequência,
a produção de IgA intestinal foi prejudicada e bactérias comensais foram mal
controladas; houve um crescimento excessivo de bactérias filamentosas segmentadas
e aumentou a carga microbiana em tecidos profundos. Os autores concluíram que a
deficiência de MYD88 e STAT3 na diferenciação de TFR e TFH a partir das Tregs
na placa de Peyer prejudica a geração de resposta de IgA para controlar a invasão
bacteriana e o estabelecimento do comensalismo.
O terceiro artigo, por Sefik et al., descreve uma
população distinta de células Treg que são cruciais para restringir a
inflamação intestinal e apoiar a simbiose. Os autores mostram que um
subconjunto de células T reguladoras, que expressam o receptor de fator de transcrição
nuclear RORγ é induzido por vários, e ainda individuais, membros simbióticos da
microbiota intestinal e contribuem substancialmente para a regulação da
inflamação do cólon. Esse papel para RORγ no comensalismo contrasta com a noção
aceita que RORγ antagoniza a função de FOXP3 de promover a diferenciação de
células Th17. No entanto, a transcrição de RORγ diferiu entre as células Treg e
Th17, sugerindo que a sua função e os resultados são altamente específicos ao
contexto.
Leia mais em:
Zhang, Q. et al. Commensal bacteria direct selective
cargo sorting to promote symbiosis. Nat. Immunol. http://dx.doi.org/10.1038/ni.3233, (2015)
Wang, S. et al. MyD88 adaptor-dependent microbial
sensing by regulatory T cells promotes mucosal tolerance and enforces
commensalism. Immunity http://dx.doi.org/10.1016/j.immuni.2015.06.014, (2015)
Sefik, E. et al. Individual intestinal symbionts induce
a distinct population of RORγ+ regulatory T cells. Science http://dx.doi.org/10.1126/science.aaa9420, (2015)
Bordon, Y. Microbiota-induced T cells block allergic inflammation. Nat.
Rev. Immunol. 15, 468 (2015)
Bird, L. (2015). "Mucosal immunology: Living in
harmony." Nat Rev Immunol 15(9): 527-527
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