Post do Prof. Dr. João Paulo Martins do Carmo
Titular das disciplinas de Genética e Biologia Molecular para Medicina (2015.1),
Imunologia e Patologia para Odontologia (2015.2),
Genética e Evolução para Enfermagem (2015.2) e
Metodologia da Ciência para Arquitetura (2015.2).
Orientador de TCCs nos cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia.
FAPAC-ITPAC (Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos)
Porto Nacional, Tocantins, Brasil.
Preparando aula de Metodologia da Ciência para o curso de Arquitetura, para esta terça-feira, 4 de agosto, ao mesmo tempo em que organizo minha nova estante e minha nova biblioteca, deparo-me com este exemplar impresso da Nature, que eu trouxera de uma das “feiras de ciências” de que participei enquanto Fellow do National Institutes of Health, ao mesmo tempo em que julgava pôsteres de recém-bacharéis no evento “Postbac and Postdoc Appreciation Day”, em algum dia de agosto de 2011, há 4 anos. O periódico comemorava em fevereiro daquele ano o aniversário de 10 anos do término de realização do Projeto Genoma Humano (“The Future is bright: reflections on the first ten years of the human genomics age). Mas o assunto genoma eu vou deixar para a aula de Genética, da 4ª feira... (ou seja, deixo claro que estou preparando 2 aulas para 2 disciplinas ao mesmo tempo, e que não são exatamente as mesmas, pois o enfoque, como o próprio nome sugere, é completamente diferente – acho que já mudei o foco deste post pra metaciência e metafísica, numa tentativa de multidisciplinaridade, palavra tão em voga e em moda ultimamente...).
Titular das disciplinas de Genética e Biologia Molecular para Medicina (2015.1),
Imunologia e Patologia para Odontologia (2015.2),
Genética e Evolução para Enfermagem (2015.2) e
Metodologia da Ciência para Arquitetura (2015.2).
Orientador de TCCs nos cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia.
FAPAC-ITPAC (Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos)
Porto Nacional, Tocantins, Brasil.
Preparando aula de Metodologia da Ciência para o curso de Arquitetura, para esta terça-feira, 4 de agosto, ao mesmo tempo em que organizo minha nova estante e minha nova biblioteca, deparo-me com este exemplar impresso da Nature, que eu trouxera de uma das “feiras de ciências” de que participei enquanto Fellow do National Institutes of Health, ao mesmo tempo em que julgava pôsteres de recém-bacharéis no evento “Postbac and Postdoc Appreciation Day”, em algum dia de agosto de 2011, há 4 anos. O periódico comemorava em fevereiro daquele ano o aniversário de 10 anos do término de realização do Projeto Genoma Humano (“The Future is bright: reflections on the first ten years of the human genomics age). Mas o assunto genoma eu vou deixar para a aula de Genética, da 4ª feira... (ou seja, deixo claro que estou preparando 2 aulas para 2 disciplinas ao mesmo tempo, e que não são exatamente as mesmas, pois o enfoque, como o próprio nome sugere, é completamente diferente – acho que já mudei o foco deste post pra metaciência e metafísica, numa tentativa de multidisciplinaridade, palavra tão em voga e em moda ultimamente...).
Mas
voltando ao foco da Metodologia da Ciência, o que me chamou a atenção neste
momento não foi tanto o assunto, que já deve ser velho para alguns de vocês,
mas a forma, a metodologia que o
artista utilizou para descrever a sua sensação. Os cientistas e imunologistas mais
céticos estariam se perguntando agora: “ora, o que tem a ver imunologia com a
arte?” Bom, eu poderia tentar explicar, mas é
necessário mais do que uma página de 30 linhas para conseguir um bom resultado.
Teríamos que partir da era Medieval, de Galileu que quase morreu queimado na
fogueira pela “Santa” Inquisição da Igreja Católica Apostólica Romana. Diga-se
de relance que Galileu foi perdoado pela Igreja, numa das poucas vezes em que
reconheceu que estava errada, apenas com um lapso de mais 400 anos...
A Idade das Trevas, em que se considerava o homem na
escuridão científica, aos poucos foi cedendo espaço para o Renascentismo, onde o
arquiteto Filippo Bruneleschi é considerado o primeiro arquiteto que usou
métodos científicos (sem que essa terminologia ainda existisse) na construção
da cúpula do Duomo da catedral de Florença, na Itália. Foi também o primeiro a
utilizar a perspectiva para dar a ideia tridimensional de um objeto na pintura
ou na escultura. Modelo que foi seguido por vários de seus discípulos e
colegas, como Rafael, Leonardo da Vinci e Michelangelo, tanto na pintura quanto
na escultura. Sem falar que Leonardo da Vinci era um gênio não só das artes
como também das ciências, da matemática, engenharia e arquitetura, tendo
projetado e executado vários trabalhos, demonstrando uma visão multidisciplinar
(essa senhora tão desejada hoje) do ser humano, da vida e do mundo, como jamais
se repetiu.
Teríamos que passar pela descrição do Método Científico de
René Descartes, o fundador da filosofia moderna, no século XVII, cuja visão
mecanicista (também chamada de “cartesiana”) dominou o pensamento humano por
séculos, e faz parte do que se convencionou chamar de Revolução Científica. No
seu discurso, revelou sua decepção ao constatar que grande parte do que acreditava
era falso, passando a buscar o conhecimento dentro de si mesmo e na natureza. E
por Francis Bacon, cuja abordagem ressalta a indução e a experimentação,
métodos que seguimos até hoje, inclusive na Imunologia.
Chegaríamos a Fritjoff Capra, em cuja obra “Ponto de
Mutação”, de 1983 (e filme de 1998), descreve que estaríamos numa época de
crise da percepção, refutando a ideia mecanicista do próprio revolucionário
Descartes de que o ser humano funciona com uma máquina, que pode ser analisada
em suas partes (daí surgiu a Anatomia) e tal qual um reloginho, poderíamos montá-lo
e desmontá-lo a nosso bel prazer, ou melhor, para analisar e compreender cada
uma das peças. Porém, essa visão do ser humano como uma máquina exclui uma
visão mais sistêmica não só do corpo humano quanto dos outros seres vivos, suas
relações e interrelações, o ecossistema, o ambiente, a sustentabilidade e a
harmonia entre os povos e seres vivos (não preciso nem citar o caso do leão
Cecil, grande notícia dessa semana e cuja morte causou comoção mundial).
Pois bem, cheguemos à obra descrita no periódico. "A
representação visual tem sido usada por muito tempo pela Medicina, seja para
ilustrar um modelo de DNA em 1953, cuja existência era apenas teórica, ou para
uma exposição, como a do Museu de História Natural de Nova York, realizada no
Ibirapuera em 2008 com o nome de “Revolução Genômica”.
Como a arte tradicionalmente se centra em assuntos da
existência humana, a medicina também tem inspirado muitos artistas. Trabalhos
recentes com temas médicos tendem a usar a metáfora e alusão em vez da
ilustração direta. Um forte exemplo é fornecido pela artista biomédica belga e poeta Pascale Pollier, em uma escultura
exposta na exibição “Picturing Science”
na Riverside Gallery em Richmond, perto de Londres. A peça enigmática “Autópsia
em uma Casca de Nozes” (Autopsia (sic) in a Nutshell) é uma jarra de vidro em
forma de sino, na qual entram 2 cabos helicoidais. A jarra contém 2 diodos
emissores de luz e 2 ferramentas utilizadas em procedimentos de necropsia, cada
uma apoiando uma peça, um pequeno modelo de cérebro humano e metade da casca de
uma noz moscada, cujo interior foi detalhadamente remodelado para caber o
interior de um crânio.
Como o título sugere, foi inspirado pelo testemunho de Polly
ao ver uma necropsia. A primeira versão da peça foi supervisionada pelo perito
belga Bernard Lernout, grande fã de Leonardo da Vinci e do excentricamente
histórico livro de Michael Gelb “Como pensar como Leonardo da Vinci” (“How to Think Like Leonardo da Vinci”,
Delacorte Press, 1998). Lernout dirigiu Pollier para os 7 “princípios”
Leonardescos: curiositá, dimostrazione, sensazione, sfumato (smokiness ou ambiguidade, um
efeito de pintura em camadas), arte-scienza
(arte-ciência), corporalitá e conexão
entre as coisas (conessione).
Pollier focou em 3 destes: demonstração, definido por Gelb
como “aprender a partir da experiência”; arte-ciência, como o equilíbrio entre
as 2 partes do cérebro; e conexão, como a necessidade de ver a grandiosidade da
figura conectada. Sua obra de arte nos convida a ler o significado dentro da
conjunção dos objetos" – o que poderíamos
chamar de interdisciplinaridade (grifo meu).
(...) e a casca de noz? Stephen Hawking, o físico
portador de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) escreveu o livro intitulado “O
Universo numa casca de noz”. Poderíamos considerar o cérebro humano como um
universo à parte, tamanho o mistério que o envolve, tamanho é o desconhecimento
(se pudéssemos medi-lo) que possuímos sobre a mente humana. Já foi dedicada uma
década a esse órgão, mas pouco se falava de neuroendocrinoimunologia na década de 90.
Sem
mais delongas, "a obra de Pollier explora a ressonância visual entre o buraco
interno de uma casca de uma noz e a configuração enrugada do cérebro. Também se
refere à ideia antiga e à intertextualidade do microcosmo e macrocosmo, que enfoca
as semelhanças de forma e função ao longo de cada escala na natureza e no
Universo mais amplo". Lembrem-se que a
configuração de um átomo, em relação aos seus componentes (prótons, nêutrons e
elétrons), tal qual aprendemos nas aulas de Química e Física, não é muito diferente
da organização do Sistema Solar, em volta de uma estrela, o Sol, composta
primariamente dos elementos químicos (átomos) Hidrogênio e Hélio. A nova teoria
Heliocentrista de Galileu e Copérnico dizia que este Sistema possui planetas
orbitando ao redor do Sol, de maneira semelhante aos elétrons ao redor do
núcleo de um átomo, como... os mais simples elementos químicos: Hidrogênio e
Hélio.
Mais de 500 anos depois,
tanto a teoria Heliocêntrica quanto a atômica sofreram algumas adaptações
recentemente, para incluir um novo planeta, ou para acrescentar novas
partículas ao átomo (bósons, mésons, quarks, etc), provando que o conhecimento
científico não é algo acabado e imutável, ou com um fim em si mesmo, vide aqui a descoberta do sistema linfático encefálico, relatada no SBlogi, de 2 de agosto (grifo meu).
Voltando
ao artigo da Nature, "plantas medicinais usadas tanto na cultura Oriental quanto
na Ocidental usaram a doutrina da semelhança entre forma e função para ajudar a
determinar a fonte de tratamentos. Uma erva ou fruta que se assemelha a um
órgão humano foi vista como potencialmente eficaz para tratar doença naquele
órgão.
Antes
de sorrir condescendentemente para tal misticismo antigo, é curioso observar
que o consumo de noz-moscada poderia ter algum efeito sobre doenças
neurodegenerativas. James Joseph e sua equipe na Tufts University em Boston,
relataram no British Journal of Nutrition em 2009 que uma dieta que inclua
nozes pareceu melhorar a função cognitiva em ratos idosos.
Como acontece nas melhores obras de arte
orientadas cientificamente, um ponto de início visual abre uma amplitude de
associações ao longo da prática histórica e contemporânea".
Martin
Kemp é professor emérito de História da Arte na Universidade de Oxford, Reino
Unido.
Falando em cérebro, dedico este post à memória de meu pai, cuja
passagem para um outro universo aconteceu há exatos 5 anos, em 5 de agosto de
2010. Agradeço à sua existência neste nosso universo, que me ensinou e me
inspirou muito, principalmente o gosto e interesse pela leitura, que por sua
vez, estimularam minha aventura pelas ciências. Quando cheguei à minha cidade
Natal 4 meses depois de sua passagem, já havia algumas plantinhas em seu túmulo, e meses
depois, flores nasceram no lugar. Como bem diria Lavoisier: “Na natureza, nada se
cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Referências:
1. Ponto
de Mutação. Fritjoff Capra, 1983.
2. The
brain in a nutshell: Martin Kemp explains the resonances of Pascale Polliers’s
autopsy-inspired sculpture. Nature. Vol. 470, p 173. 2011.
3. O
discurso do método. René Descartes. 1637. Tradução de Enrico Corvisieri.
Editora Escala, 2006 (domínio público).
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