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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Modelos murinos no estudo de doenças inflamatórias humanas, funcionam?


O uso de camundongos em pesquisas biomédicas é realizado por mais de 50 anos, e muitos deles em estudos de respostas inflamatórias humanas. O menor custo, tamanho, conveniência, e facilidade de manipulação genética estão entre as razões do escolha de camundongos em pesquisas. Entretanto, um importante ponto frequentemente deixa de ser levado em consideração: camundongos parecem ser mais resistentes à inflamação e infecção do que humanos. 



Uma pesquisa realizada por um consórcio nacional americano envolvendo diferentes grupos de pesquisa da Harvard Medical School, Mass General Hospital e Stanford University, entre outros, investigaram as respostas genômicas de camundongos e humanos em respostas inflamatórias. Eles constataram que embora o estress inflamatório agudo de diferentes origens resultam em respostas genomicas similares entre humanos de diferentes idades, elas não se correlacionam com aquelas observadas em camundongos submetidos as mesmas condições.

O estudo levanta uma discussão, entre os pesquisadores da área, sobre qual é o real valor informativo que modelos murinos possuem em diferentes circunstâncias específicas de pesquisas sobre doenças inflamatórias humanas.

Seok et al. Genomic responses in mouse models poorly mimic human inflammatory diseases. PNAS, 2013.

http://www.pnas.org/content/early/2013/02/07/1222878110

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8 comentários:

  1. Muito interessante o post.

    Este parece ser um tema cada vez mais discutido e que vem preocupando diversos grupos de pesquisa. Além de gerar modelos experimentais que podem não mimetizar as características de cada patologia, a utilização de camundongos esbarra nas diferenças fisiológicas do sistema imunológico entre eles e humanos. Um destes aspectos, a manutenção da células T naive, foi discutida em março de 2012 no Jornal Club do Programa de Pós-graduação em Imunologia Básica e Aplicada da FMRP-USP.

    “How long do naive T cells live and how are they replenished? ... den Braber et al. (2012) examines the longevity of naive T cells. Their data suggest that mechanisms maintaining T cells with naive phenotypes might differ in humans and mice”

    Os links para o comentário e o artigo da Immunity seguem abaixo.

    http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1074761312000544

    http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1074761312000556

    Certamente são leituras que nos levam a refletir sobre o quanto nossas conclusões podem ser extrapoladas. De outro lado, existe a certeza de que, por enquanto, não existem ferramentas de estudos melhores ou que solucionem completamente essas limitações (embora a “engenharia” de animais tenha feito progressos). De todo modo, dependemos desses modelos.

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  2. Gostei do post! Parabéns! não tem um de nós que seja indiferente a esta questão, por mais que não trabalhe com modelo experimental diretamente...

    Entendo a questão e realmente isto é importante. Porém, estudamos modelos animais principalmente pq nao podemos fazer experimentações em humanos e pq as abordagens possíveis em pacientes são limitadas, não é mesmo?

    Enquanto os pacientes seguem tratamento de padrão ouro (enquanto outros melhores não são desenvolvidos, justamente surgidos na pesquisa experimental), os pesquisadores seguem em seus laboratórios utilizando os camundongos como "tubos de ensaios" para possíveis drogas, mecanismos etc.... Uma vez detectado um alvo em potencial, especula-se se isso se aplicaria ao ser humano tbm, se neste processo x somos semelhantes ou muito diferentes dos camundongos...

    Se formos semelhantes, ótimo! confirmamos de maneira indireta uma determinada coisa e passamos a realizar trials para comprovar realmente isto.

    Se formos muito diferentes, mas conhecemos estas diferenças, podemos inferir quais moléculas/vias no ser humano podem ser a chave da questão justamente comparando a molécula/via que foi descoberta nos animais, certo? Ganhamos igualmente....

    Se caso não tiver nadinha mesmo haver uma coisa com outra: que pena! resolvemos o problema do camundongo mas o do paciente continua... MAS agora já temos elementos a serem descartados nas próximas abordagens, ou seja, ganhamos, ou melhor, progredimos de qualquer forma!

    É o que me parece, pelo menos... não sei se concordam...

    Acho SIM que a pesquisa com animais É IMPORTANTïSSIMA!!! não só no contexto da inflamação, mas em todos... E justamente devido a esta importância, acredito que o ponto que deve ser sempre levantado, visto, revisto, discutido, etc é o USO RACIONAL desses animais. A questão do n de cada experimento, repetições, procedimentos realizados, qualidade e controle do desenho experimental, condicoes do biotério (que diretamente influencia na qualidade dos resultados obtidos com os animais, reprodutibilidade etc..) Enfim, essa discussão sim dá pano pra manga e nos levaria a melhorar a qualidade e "humanidade" da pesquisa.

    Abs

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  3. Rodrigo e Gabi, obrigada pelos comentários! Essa é uma questão realmente muipolêmica e levanta uma boa discussão. De fato, nós não temos como "fugir" do uso de camundongos na maioria das vezes, principalmente em estudos de entendimento dos mecanismos celulares que envolvem determinado fenômeno imunológico. Porém, temos que lembrar que o objetivo final dos nossos estudos de forma geral é (ou deveria ser) a aplicação do conhecimento descoberto, usando o modelo murino, na melhoria da qualidade de vida humana, na cura e tratamento das doenças que nos atingem. O uso racional de animais com ética e a tentativa de usar o menor número de animais possíveis é um fato. Mas a questão é se conseguiremos aplicar estes conhecimentos, por exemplo na área de doenças inflamatórias, em humanos. Até quanto as informações que estamos produzindo usando modelos murinos vai efetivamente nos ajudar a melhorar o tratamento de doenças inflamatórias humanas. Não queremos curar os camundongos, rs! : ) E o mais difícil é que não temos saída, não dá para estudarmos humanos. Realmente esta discussão dá muito pano pra manga! Mas é ótima, porque nos faz refletir mais sobre até quanto podemos extrapolar as conclusões tiradas com camundongos para os humanos!
    Abs!

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  4. Um fato simples pra reflexao: humanos e camundongos divergiram ha approx 75 milhoes de anos atras. Nao da pra acreditar que tem gente que insiste em igualar um com o outro. Minha gente, os animais sao usados como "modelos". O proprio termo define o que sao. E claro, quanto mais entendermos a diferença, melhor.

    Acho toda polarizacao ridicula e burra. Esse debate e' instrutivo, mas esta sendo espetacularizado pela media e pelo pessoal anti-ciencia, pelos fundamentalistas, etc. Deu de capa no NYT. Representa uma luta pela obtencao de fundos. E' uma vera briga entre os "sabirotos dos sistemas" e os "humanistas" e o resto da raça. Cada uma querendo falar mais alto e ganhar uma maior fatia do bolo

    Kelly, estou de acordo com seus pontos. Penso como voce que o uso dos achados para melhorar a saude humana e' um negocio nobre, mas discordo que esse deva ser o fim unico da pesquisa. A gente precisa da biologia pra entender a vida. Homem, passarinho, e peixe incluidos.
    Bom fim de semana pra voces


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  5. Oi Sergio! Concordo plenamente com vc, nos meus pontos a cima eu estava me atendo apenas ao estudo das respostas inflamatórias em doenças humanas, que era o foco do artigo em questão. Neste quesito em específico, é que estava fazendo a reflexão do quanto pode ser extrapolado e ser efetivamente usado na medicina translacional!
    Bom final de semana!

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  6. Concordo com o Sérgio e adiciono boi, cachorro, cavalo, ovelha, jacaré e demais na lista.

    Sou médico veterinário de formação e minha linha de pesquisa é voltada para relação parasito-hospedeiro entre protozoários e seus hospedeiros animais - humanos e não humanos.

    Digo para vocês que os camundongos dão respostas infinitamente mais ricas para as perguntas que fazemos, se comparados a células de linhagem espécie-específicas e demais ferramentas disponíveis.

    Aqui vai um ponto para reflexão de vocês:
    - Se o camundongo não serve como modelo para doenças inflamatórias humanas, onde estaríamos (Imunologia) hoje sem a Drosophila???? Tendo a acreditar que o camundongo é um modelo mais próximo de outros mamíferos do que uma mosca.... correto? E, senão tivéssemos a mosca, não saberíamos nada sobre os TLRs e toda a cadeia inflamatória derivada do reconhecimento inato.

    Colegas, não se deixem enganar pelo sensacionalismo barato dos 'sem-causa definida'. Hoje eles são contra o uso de modelos animais, amanhã serão contra o cultivo celular ou manipulação gênica.

    Abraços,
    Tiago.

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  7. Muito interessante a discussão.
    Neste aspecto, como em muitos, não podemos perder a perspectiva e os objetivos. Os modelos podem ser (e frequentemente são) usados de maneira simplista para extrapolar diretamente para respostas no homem.
    A verdade é que precisamos ter o compromisso de entender as respostas (inflamatória e outras) humanas para maior efetividade de intervenção. Entender a resposta humana, contudo, é muito mais difícil sem a contribuição dos modelos. Se tomarmos os modelos como modelos, podemos avançar bastante. Se tomarmos o modelo como fonte direta, podemos ter muitos problemas.

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  8. Parece que o palpitante tema pode ser simplificado, sem reduzir a discussão, para:

    1. Cuidado com a onda dos anti-ciência ( anti-animais nas pesquisas e etc.). Cada vez mais assistimos esses ensaios contra o desenvolvimento científico em grupos anti-qualquer coisa.

    2. Pesquisadores jamais devem extrapolar de forma direta os achados em modelos, seja qual for (roedores, primatas, etc), para humanos (Quem não lembra da Talidomida ?). Entretanto "é que o temos para hoje" e não é tão ruim assim, afinal, muitos avanços até hoje tiveram que passar por essa fase "murina", "primata", etc.

    3. Ciências da vida não são unicamente fonte de pesquisa para cura para doenças mas para o entendimento da própria vida.

    Abraço

    Edson

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