Silvia Ponzoni, Departamento de Ciências Fisiológicas, UEL.
Phileno Pinge Filho, Laboratório de Imunopatologia Experimental, UEL
Ação de radicais livres Ação de antioxidantes |
Uma das teorias do envelhecimento
estabelece que a sua origem esteja precisamente na ação dos radicais livres. Esta
teoria foi proposta por Harman em
1957 (Harman,D. Aging: a theory based on the free radical and radiation
chemistry. J.Geront.(1957) 2:298-300) e atualmente está demonstrada por meio
de um grande número de publicações científicas.
O artigo “The
myth about antioxidants” de Melinda Wenner Moyer publicado na Scientific American deste mês
coloca em dúvida esta teoria. De fácil leitura a autora sugere que a
confirmação dos resultados obtidos de pesquisas recentes com vermes e
camundongos indicará um novo olhar para a utilização de antioxidantes na forma
de vitaminas ou de outros suplementos, pois eles podem causar mais mal do que
bem à saúde das pessoas.
Quando
lemos o artigo, imediatamente somos bombardeados por imagens e pensamentos da
ficção “O medico e o monstro” de Stevenson. Neste caso as protagonistas com
duplas personalidades são as moléculas de radicais livres.
Durante décadas
estas moléculas foram descritas como os responsáveis diretos do processo de
envelhecimento, desordens neurodegenerativas e diversas patologias. Níveis estratosféricos nas
concentrações de radicais livres são obtidos em C. elegans modificados geneticamente para não
produzirem enzimas antioxidativas. Com concentrações tão elevadas destas
moléculas reativas aliada à incapacidade de neutralizá-las e o número de
reações oxidativas presentes neste organismo modificado, o resultado esperado é
a morte prematura deste verme. Mas não foi este o resultado encontrado, os
vermes modificados geneticamente não tiveram morte prematura e apresentaram a
mesma expectativa de vida daqueles não modificados. O aspecto interessante é
que os animais modificados geneticamente apresentavam acúmulo de radicais
livres bem como danos
oxidativos severos, mas não morreram prematuramente.
O rato-toupeira
pelado, um roedor com a maior expectativa de vida dentre os roedores (capaz de
sobreviver de 25 a 30 anos) apresenta as menores concentrações de antioxidantes
naturais em relação ao camundongo, acumulando maior número de lesões oxidativas
em seus tecidos do que outros roedores e mesmo assim vive aproximadamente oito
vezes mais que outros roedores. Estes experimentos com o rato-toupeira pelado
foram realizados por Rochelle Buffestein, fisiologista, que durante os últimos
11 anos tenta entender a longevidade desta espécie.
Sabe-se que em
certas quantidades e situações os radicais livres podem não apenas serem
perigosos, mas úteis e saudáveis, capazes de dispararem mecanismos de defesa
que mantém nosso organismo em forma. Por exemplo, alguns radicais livres ativam
o gene HIF-1 que é responsável pela ativação de outros genes que participam dos
mecanismos de reparo celular incluindo aquele que auxilia no reparo de mutações
de DNA.
Em adição, o
artigo ainda discute a utilização de vitaminas E e A como antioxidantes, a sua eficácia e benefícios para o usuário.
O uso destes suplementos multivitamínicos não parece reduzir o risco de morte e
ao contrário, há fortes indícios experimentais para o aumento dos riscos para o
desenvolvimento de doenças como câncer de pulmão e morte prematura de seus
usuários.
Boa leitura!
Referência Bibliográfica
Moyer, M.W. The Myth of Antioxidants. Scientific American 308, 62 - 67 (2013) doi:10.1038/scientificamerican 0213-62
Prof. Rubens Cecchini- Chefe do Laboratórios de fisiopatologia e radicais livres da Universidade Estadual de Londrina
ResponderExcluir---------------------------------
Para os pesquisadores e os laboratórios cuja linha central de pesquisa é Estresse oxidativo, este artigo não traz nenhuma novidade. Há muito tempo o estresse oxidativo não é mais tratado de forma cartesiana. Sabemos que o estresse oxidativo pode ser bom ou mal dependendo das condições, do modelo experimental, da doença, do estadio da doença etc... . Há mais de duas décadas sabe-se que a vitamina E pode dar origem a compostos clastrogênicos. Os laboratórios do mundo todo que trabalham profundamente no estudo do estresse oxidativo, estão muito mais interessados em sinalização do que na lesão causado por RL. O autor ainda faz um confusão básica entre longevidade e lesão oxidativo. Há muito tempo esta idéia não faz parte dos grupos que trabalham com RL. Nosso laboratório tem demonstrado em inumeros artigos publicados neste última década esta multiplicidade de efeitos das espécies reativas de oxigênio e sua participação no processo de sinalização. Estamos indo mais além, considerando ainda não o estresse oxidativo como evento único mas a ação de cada metabolito formado neste processo e suas interrelações com o processo de expressão genica através de análise proteômica das proteínas de estresse. Portanto para nós a única novidade deste artigo está na surpresa de ter sido publicado em um periódico de alto impacto.
Olá prof. Rubens, agradecemos seus comentários sobre o post. O mito dos radicais livres de Moyer faz uma reflexão sobre os radicais livres e seu envolvimento no evelhecimento, ratificando o papel bom e mal dos radicias livres. A autora ainda chama atenção para a utilização de antioxidantes pela população americana e mostra que estudos epidemiológicos bem controlados não sustentam a hipótese inicial de Harmam defendida por muitos nos últimos sessenta anos. Intitulamos o post como "O lado Jekyll e Hyde dos radicais livres" justamente para chamar atenção dos leitores do papel duplo exercido por esta moléculas reativas e que o mecanismo do envelhecimento é muito mais intrincado e complexo do que o imaginado inicialmente por Harman.
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