A origem da microglia provavelmente é um dos assuntos
mais controversos na neurociência. Inicialmente, acreditava-se que a microglia
se originava de macrófagos localizados na meninge que penetram no encéfalo e na
medula durante os últimos estágios do desenvolvimento embrionário (Rio-Hortega,
1919). Porém, apesar da microglia e os macrófagos possuírem os mesmos
marcadores, parece que eles apresentam morfologia e origem distintas (Perry
et al., 1985; Gordon
et al., 1992; Ling
e Wong, 1993; Kurz
e Christ, 1998; Cuadros
et al., 1993). Aparentemente, essa controvérsia terminou quando se mostrou
que a microglia provém de progenitores localizados no saco vitelínico, migrando
para ao encéfalo e medula espinal (Alliot
et al., 1998; Ginhoux
et al., 2010; Kaur et
al., 2001). Schulz
et al. (2012) mostraram que os precursores localizados no saco vitelínico
expressam o receptor para M-CSF. Porém, posteriormente, verificou-se que esses
progenitores eram as células CX3CR1+ já comprometidas (macrófagos
imaturos). É aí que a história começa a ficar interessante.
Os autores analisaram células progenitoras do saco
vitelínico do 8° dia pós-concepção (DPC) com potencialidade para gerar
macrófagos. Três populações CX3CR1-
foram encontradas: CD45+
c-kit−, CD45− c-kit+ and CD45−
c-kit−. No 8° DPC, somente as células CD45− c-kit+ podem dar origem a macrófagos CX3CR1+
CD45+. Para confirmar esse dado, os autores transferiram essas
células para culturas de hipocampo livres de microglia. Após 12 dias da transferência
foi encontrada a expressão de Iba-1 e CX3CR1-GFP somente em
células CD45+ c-kit-/low (que antes eram
eritromielóides CD45- c-kit+). Os autores postularam que
existe uma expressão transitória de CD45 e c-kit ao longo da diferenciação e
migração de progenitores para microglia (Figura 1).
Em resumo, o artigo sugere que a microglia se
desenvolve e prolifera a partir de precursores eritromielóides via ativação de
Pu.1 e Irf8, transformando-os em macrófagos imaturos. O desenvolvimento de
macrófagos imaturos para maduros e consequentemente para a microglia se dá por
meio da sinalização por MMP8/9 (Kierdorf
et al. 2013).
E ficamos com a pergunta: a partir de qual momento do
desenvolvimento podemos ter uma diferença real entre as células do sistema
imune e do sistema neural? O que realmente vai diferenciar o desenvolvimento de
um tipo celular em outro: a localização ou o isolamento de um determinado órgão
(nesse caso, a barreira hematoencefálica) que impede a migração e consequente
sinalização exclusiva daquele órgão isolado, desviando o desenvolvimento para
outro tipo celular?
Pois é, às vezes me divirto mais com as perguntas do que
com as respostas.
Post de Gabriel Bassi. FMRP/IBA
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