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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O que sonha a nossa vã filosofia


Então, mais uma vez eu estava nos EUA na hora da eleição do Obama. E mais uma vez, tratava-se do International Symposium on Heat Shock Proteins in Biology and Medicine. Ha quatro anos atrás era o IV Simpósio,  em Woods Hole, e este era o VI, em Washington mesmo. E o Obama ganhou! GOOOOOObama! Muito emocionante, e  o interessante é que os maiores entusiastas do Obama  ali eram os não americanos – tinha gente do mundo todo no evento. Isso me fez pensar, como há 4 anos atrás,  que os americanos não entendem exatamente o Obama, como as vezes não entendem exatamente o resto do mundo. É difícil para o cidadão médio pensar que existe muito mais daquilo que é o seu mundinho. Como pensar além daquilo que conhecemos, do nosso dia a dia, daquilo que sempre foi? Mas alguns conseguem, e o homem ganhou – bom eu já tinha feito a pesquisa entre os motoristas de táxi , e estava dando Obama, 2:1, então eu estava confiante...

O evento reuniu e apresentou algumas das melhores palestras que ouvi nos últimos tempos. Foi fantástico. Essa senhora na foto com o  homem é a Susan Lindquist, uma das lideres deste campo de estudo. Ela vem recebendo o merecido reconhecimento pela identificação das Hsps e seu papel no protein folding e tumorigenese, tem um mega lab no MIT. Ela estava no último simpósio, há 4 anos, quando demonstrou que a perda do HSF-1, o fator de transcrição que regula a heat shock response, leva a proteção de tumorigenese – foi capa da Cell. Portanto, HSF1 é essencial para a formação de tumores. Naquela época,  todos, inclusive ela, assumiam que a regulação da tumorigenese pelo HSF1 era feita através das Heat Shock Proteins, pois se você faz knockdown da Hsp70 ou da 90, isso é altamente anti-tumoral.

Este ano, o Luke Whitesell,  braço direito dela no laboratório, estava lá no evento para mostrar algo extraordinário. Eles descobriram – outro paper da Cell – que o HSF1 regula uma outra assinatura genética, totalmente diferente daquela conhecida como heat shock response.  Então, em alguns cânceres, o papel do HSF1 é realmente como se pensava, via heat shock proteins, mas em outros, muito agressivos, são genes completamente diferentes que estão sendo regulados pelo HSF1. Estes genes são principalmente ligados a ciclo celular,  migração e metástase. Tudo fortemente corroborado em amostras de tumores de pacientes. Acaba de se abrir uma nova frente no estudo de câncer, quando os pesquisadores que fazem uma descoberta seminal pensaram muito além daquilo que estavam observando. E se?

Outra palestra sensacional foi da Elizabeth Repasky, do Roswell Park Institute – a fonte do meio RPMI. Esta não está publicada ainda. Betsy trabalha há muitos anos com os efeitos da elevação da temperatura corporal e o tratamento de câncer. Ela mostrou algo inesperado.  Que a temperatura utilizada para manter os animais de laboratório, 21 graus, cria um estresse metabólico que não existe nos animais criados em temperaturas termoneutras, de 23  a 25 graus. Como conseqüência, esses animais comem mais, ganham peso, criam gordura – e isso influencia muitíssimo na resposta que fazem a tumores. Já falamos aqui no blog varias vezes, em outros posts, sobre a influencia da gordura e células associadas a ela na resposta imune. Betsy mostrou que os animais criados a 21 graus tem tumores maiores, baços aumentados, e morrem mais. Isso tem uma implicância crucial nos estudos que fazemos quando estudamos terapias anti-tumorais – nossa baseline, o controle, pode não ser real. Isso pode ser mitigado se damos aos animais material pra eles fazerem casinhas na caixa e se abrigarem, mantendo sua temperatura corporal sem o estresse metabólico. Vou correndo checar a temperatura dos meus bichos. Este vai ser um outro paper bem legal. De novo, pensando além do dia a dia, vem a mudança de paradigma.

GObama!

·       Heat shock factor 1 is a powerful multifaceted modifier of carcinogenesis.Cell. 2007 Sep 21;130(6):1005-18.

·       HSF1 drives a transcriptional program distinct from heat shock to support highly malignant human cancers. Cell. 2012 Aug 3;150(3):549-62.

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6 comentários:

  1. Oi Cris,
    Eu complementaria o comentário sobre o trabalho genial da Susan e do Luke com a seguinte frase do paper deles da Cell:

    "Ironically, the evolutionarily ancient role played by HSF1 in helping cells to adapt, survive, and proliferate is co-opted frequently to support highly malignant cancers."

    Parabéns pelo post!

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  2. Tks Thiago. De fato os tumores tem o habito desagradável se pegar aquilo que existe de melhor em nos e usar para seus fins... talvez uma boa estratégia de encontrar alvos tumorais fosse ver o que é mais importante pra célula e olhar isso em tumores... certamente o HSF é um exemplo disso. precisamos de HSF para espermatogenese e oogenese. Não fica mais crucial que isso... bj!

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  3. A pergunta que vem na sequência e que também é importante, qual o gatilho para que HSF venha a desempenhar este papel?

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  4. sem duvida Bruno. Eles ja começaram a olhar isso e viram que essa ativação diferencial de HSF1 nesses tumores precisa de ras mutado. velha historia... bjo.

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  5. Oi Cris,
    Muito legal. Aqui em Stanford um pessoal tambem mostrou que os camundongos realmente gostam do quentinho, e de um material para fazer um ninho.
    E sobre o Obama, tambem vibrei com a vitoria dele, ele fala muito em investir em pesquisas, se vao mesmo, nao sei, mas ele da impressao de pelo menos entender o quanto ciencia e importante para o pais.
    E sobre predicoes - o Obama bateu o Romney tambem 2:1 nas mascaras vendidas para o Halloween. E segundo a companhia, as vendas das mascaras tem tido 100% de acerto nas eleicoes. Entao, estava claro, Obama na cabeca!
    Abracos,
    Claudia

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  6. Legal, Claudia! adorei Obama na cabeça, devia ter comprado uma pra mim!

    Agora essa coisa do quentinho, quem não gosta? lembrando que gostar é uma liberação de neurotransmissores que evoluiu pra maximizar nossas vantagens adaptativas, né?

    bjo!

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