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sábado, 13 de agosto de 2011

Journal Club- IBA:...mais um -AMP (-associated molecular patterns)!!!

A relação simbiótica entre bactérias intestinais e o homem é um fato co-evolutivo bastante antigo. Nós, representando um ecossistema rico em nutrientes para elas e elas, aumentando nossa eficácia digestiva. Entretanto, os padrões moleculares (LPS, peptideoglicano, DNA não metilado, flagelina, etc) presentes em bactérias patogênicas e que desencadeiam resposta inflamatória, também estão presentes nestas bactérias simbiontes. Aí vem aquela velha pergunta: então, como as toleramos? (pergunta velha, né?). Diferente dos artigos que mostram o sistema imunológico como “todo poderoso” na distinção de simbiontes ou patógenos, o recente trabalho de June L. Round e colaboradores mostra que quem tem o “poder” de induzir ou não a tolerância, são as próprias bactérias! O polissacarídeo A (PSA), presente na cápsula da bactéria Bacteroides fragilis (integrante convencional da nossa microbiota intestinal), seria o fator microbiano responsável pela indução da tolerância à sua presença.

Em 2010 o grupo de Round mostrou que este polissacarídeo é capaz de induzir células T reguladoras Foxp3+ produtoras de IL-10 com grande capacidade supressora, de modo dependente de TLR2. Este efeito imunoregulador do PSA foi avaliado em modelo experimental de colite induzida por TNBS, no qual foi observado que o tratamento dos animais com o PSA preveniu e curou a doença, mesmo em altas concentrações do TNBS, o que não ocorreu nos animais nocautes para TLR2(1). O mecanismo pelo qual o PSA induz esta resposta foi elucidado no último trabalho publicado pelo mesmo grupo, onde foi demonstrado que o PSA se liga ao TLR2 presente nas células T (e não nas células dendríticas), levando a um aumento dose-dependente do desenvolvimento de células T reguladoras induzíveis, observado pela alta expressão de Foxp3, IL-10 e TGF-β. Quando adicionado outros ligantes de TLR2 o mesmo não ocorreu, mostrando que a indução destas células foi específica para o PSA via TLR2. Concomitante com o aumento da IL-10 houve uma significante redução dos níveis de células produtoras de IL-17, o que permite esta bactéria se associar intimamente ao epitélio intestinal(2).

Dessa forma, o artigo vem refutar o conceito de ignorância imunológica que se baseia na teoria da compartimentalização das bactérias nas camadas mucosas mais externas do epitélio intestinal, uma vez que foi, então, demonstrado que a bactéria comensal B. fragilis está associada ao epitélio. Além disso, o artigo traz uma nova classe de ligantes de Toll denominada SAMPs (Symbiont-Associated Molecular Patterns), que orquestram a resposta imune para ativamente promover a tolerância imunológica às bactérias simbiontes.

Rafael Prado/ Claúdia Poli / Thaís Herrero
Referências:
(1) Round, L.J. & Mazmanian, S.K. 2010. Inducible Fox-regulatory T cells development by a commensal bacterium of intestinal microbiota. PNAS. Jul 6;107(27):12204-9
(2) Round JL, Lee SM, Li J, Tran G, Jabri B, Chatila TA, Mazmanian SK. 2011. The Toll-like receptor 2 pathway establishes colonization by a commensal of the human microbiota. Science May 20;332(6032):974-7.

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