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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Quando o Baço é Vilão?

O baço é um importante órgão do sistema linfoide, repleto de células B e T e fonte de produção de imunoglobulinas e citocinas. O baço tem uma grande importância nos mecanismos de defesa do hospedeiro, pois encontra-se no circuito da circulação sanguínea, por onde passam vários patógenos e células presentes na circulação.
Cada vez menos, há indicações para retirar o baço (esplenectomia terapêutica). Dentre as situações clínicas com indicação de esplenectomia, destacam-se a esferocitose, anemia hemolítica e púrpura trombocitopênica refratárias ao uso de corticóide, hiperesplenismo associado à condição clínica com risco de sangramento, como acontece em esquistossomose com varizes de esôfago.
A esplenectomia pode levar a complicações infecciosas, como a sepse por bactérias gram positivas, principalmente por estreptococo.
Contudo, na leishmaniose visceral ou calazar, houve 2 situações em que a esplenectomia fez-se necessária e foi benéfica para os pacientes. Foram 2 pacientes com leishmaniose visceral, ambos com baços muito volumosos e que não respondiam à terapêutica específica com antimonial e várias outras drogas, sendo considerados refratários ao tratamento. Optou-se pela retirada do baço, devido também a outras indicações, como hiperesplenismo e investigação de doenças associadas. Ambos os pacientes curaram do calazar após a retirada do baço com apenas um curso de tratamento com antimonial.
Por que estes pacientes melhoraram tão intensamente a resposta ao tratamento da doença com a esplenectomia?
Leishmaniose visceral é caracterizada por uma deficiência na produção de gama-interferon e elevada produção de IL-10 por PBMC estimuladas por antígenos do parasita. Há intensa proliferação de parasitas no baço, fígado e medula óssea. Estas alterações estão associadas à patogênese da doença. Alguns experimentos em animais têm demostrado que o tamanho do baço está associado a gravidade de doença. Nylén e col (JEM, 2007) demonstraram que há células T no baço dos pacientes com calazar produtoras de IL-10 e perfil funcional de células T regulatórias, porém não são CD4+CD25+Foxp3high. Ao contrário, quando as células T CD25+ são depletadas, as células esplênicas produzem grandes quantidades de mRNA para IL-10. Os níveis elevados de IL-10, detectados em pacientes com calazar, explicam o crescimento acelerado da Leishmania nos macrófagos dos tecidos, inclusive no baço.
Seria esta a explicação para a melhora da resposta ao tratamento dos nossos pacientes relatados acima?
Deste modo, a retirada do baço nos nossos pacientes pode ter contribuído para diminuir a quantidade de IL-10, facilitando uma melhor resposta dos linfócitos desses pacientes, aumento da produção de gama interferon e destruição dos parasitas em outros tecidos.
Como saber em que situação o baço é vilão?
Será que os Imunologistas podem responder a esta questão?

Roque Almeida e Amelia de Jesus

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