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domingo, 22 de março de 2015

Journal Club IBA: Adoçantes artificiais induzem alterações à microbiota intestinal, causando intolerância à glicose


       Introduzidos a mais de um século atrás, adoçantes artificiais não calóricos fornecem sabor adocicado aos alimentos sem, no entanto, fornecerem calorias e energia – motivo pelo qual são amplamente utilizados por pessoas que desejam perder peso, ou aqueles que possuem Diabetes Mellitus do Tipo 2 (1). Todavia, em outubro de 2014, pesquisadores israelenses demonstraram em estudo publicado na revista Nature (2) que adoçantes artificiais poderiam afetar a composição e função da microbiota intestinal, contribuindo para o desenvolvimento da síndrome metabólica.
Para testar tal hipótese, foram utilizadas formulações de adoçantes artificiais comuns (contendo sacarina, sucralose e aspartame) e ração comum, ou rica em caloria, incorporando as formulações à água de camundongos C57Bl/6 do grupo teste, ao passo que animais do grupo controle recebiam água, glicose ou sacarose. Após 11 semanas de tratamento, foram realizados testes orais de tolerância à glicose e todos os animais do grupo teste, alimentados com as diferentes condições de ração, apresentaram sinais de intolerância à glicose, enquanto nenhum animal do grupo controle apresentou os mesmos efeitos. Animais que consumiam sacarina apresentaram efeitos mais pronunciados, sendo então escolhida como adoçante artificial para os experimentos seguintes.Utilizando o mesmo delineamento experimental, após tratamento por 4 semanas com antibióticos, foi possível observar uma melhora evidente nos níveis glicêmicos de camundongos tratados com sacarina.
Com o intuito de determinar se o papel da microbiota era causal, foi adiministrado conteúdo fecal de animais expostos à sacarina ou não, para animais recipientes germ-free que recebiam ração comum. Interessante que os animais que receberam o conteúdo fecal de animais expostos à sacarina apresentaram um perfil aos que recebiam sacarina em sua alimentação. Foi observado que esses animais apresentaram diferenças nas espécies de bactérias presentes na microbiota intestinal, refletindo de uma maneira direta nas vias metabólicas, com destaque para vias de degradação de glicosaminoglicanos.
Por fim, os efeitos dos adoçantes artificiais foram examinados em 7 voluntários saudáveis que comumente não fazem uso de adoçantes artificiais, para serem expostos ao consumo de sacarina por 7 dias. Quatro desses participantes apresentaram piora na resposta glicêmica, e esse fenômeno foi reproduzido por animais germ-free que receberam o conteúdo fecal desses voluntários. Os resultados apresentados nesse trabalho sugerem que os adoçantes artificiais podem ter contribuído diretamente para o aumento da mesma epidemia a qual foram criados para combater.

Figura 1. Adoçantes artificiais não calóricos induzem intolerância à glicose através de disbiose microbiana. (A) Camundongos que receberam adoçantes desenvolveram alterações na microbiota intestinal e intolerância à glicose. (B) Tratamento com antibióticos eliminou o efeito de intolerância à glicose, indicando envolvimento da microbiota. Transferência da microbiota (C) de camundongos tratados com adoçantes para camundongos germ-free que recebiam ração regular induziu intolerância à glicose, comparado aos camundongos recebendo microbiota controle. (D) Microbiota proveniente de animais controle foram cultivadas na presença de adoçantes in vitro e transferidas para camundongos germ-free, induzindo intolerância à glicose. Resposta em seres humanos depende da microbiota (E): A responsividade de humanos à intolerância à glicose induzida por adoçantes foi dependente da composição da microbiota pré-existente. Quando transferida para camundongos germ-free, a microbiota de pacientes responsivos aos adoçantes induziu intolerância à glicose, enquanto o mesmo não ocorreu com a microbiota dos pacientes não responsivos aos mesmos.

Post de Amanda Zangirolamo e Thaís Arns (FMRP/USP/IBA)





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