Introduzidos a mais de um século
atrás, adoçantes artificiais não calóricos fornecem sabor adocicado aos
alimentos sem, no entanto, fornecerem calorias e energia – motivo pelo qual são
amplamente utilizados por pessoas que desejam perder peso, ou aqueles que
possuem Diabetes Mellitus do Tipo 2 (1).
Todavia, em outubro de 2014, pesquisadores israelenses demonstraram em estudo
publicado na revista Nature (2)
que adoçantes artificiais poderiam afetar a composição e função da microbiota
intestinal, contribuindo para o desenvolvimento da síndrome metabólica.
Para testar tal
hipótese, foram utilizadas formulações de adoçantes artificiais comuns (contendo
sacarina, sucralose e aspartame) e ração comum, ou rica em caloria, incorporando
as formulações à água de camundongos C57Bl/6 do grupo teste, ao passo que
animais do grupo controle recebiam água, glicose ou sacarose. Após 11 semanas
de tratamento, foram realizados testes orais de tolerância à glicose e todos os
animais do grupo teste, alimentados com as diferentes condições de ração, apresentaram
sinais de intolerância à glicose, enquanto nenhum animal do grupo controle
apresentou os mesmos efeitos. Animais que consumiam sacarina apresentaram
efeitos mais pronunciados, sendo então escolhida como adoçante artificial para os
experimentos seguintes.Utilizando o mesmo delineamento experimental, após
tratamento por 4 semanas com antibióticos, foi possível observar uma melhora evidente
nos níveis glicêmicos de camundongos tratados com sacarina.
Com o intuito de
determinar se o papel da microbiota era causal, foi adiministrado conteúdo fecal
de animais expostos à sacarina ou não, para animais recipientes germ-free que recebiam ração comum.
Interessante que os animais que receberam o conteúdo fecal de animais expostos
à sacarina apresentaram um perfil aos que recebiam sacarina em sua alimentação.
Foi observado que esses animais apresentaram diferenças nas espécies de
bactérias presentes na microbiota intestinal, refletindo de uma maneira direta
nas vias metabólicas, com destaque para vias de degradação de
glicosaminoglicanos.
Por fim, os
efeitos dos adoçantes artificiais foram examinados em 7 voluntários saudáveis
que comumente não fazem uso de adoçantes artificiais, para serem expostos ao
consumo de sacarina por 7 dias. Quatro desses participantes apresentaram piora
na resposta glicêmica, e esse fenômeno foi reproduzido por animais germ-free que receberam o conteúdo fecal
desses voluntários. Os resultados apresentados nesse trabalho sugerem que os
adoçantes artificiais podem ter contribuído diretamente para o aumento da mesma
epidemia a qual foram criados para combater.
Figura 1. Adoçantes artificiais não calóricos
induzem intolerância à glicose através de disbiose microbiana. (A) Camundongos que receberam adoçantes
desenvolveram alterações na microbiota intestinal e intolerância à glicose. (B)
Tratamento com antibióticos eliminou o efeito de intolerância à glicose,
indicando envolvimento da microbiota. Transferência da microbiota (C) de
camundongos tratados com adoçantes para camundongos germ-free que recebiam
ração regular induziu intolerância à glicose, comparado aos camundongos
recebendo microbiota controle. (D) Microbiota proveniente de animais controle
foram cultivadas na presença de adoçantes in vitro e transferidas para
camundongos germ-free, induzindo intolerância à glicose. Resposta em seres
humanos depende da microbiota (E): A responsividade de humanos à intolerância à
glicose induzida por adoçantes foi dependente da composição da microbiota
pré-existente. Quando transferida para camundongos germ-free, a microbiota de
pacientes responsivos aos adoçantes induziu intolerância à glicose, enquanto o
mesmo não ocorreu com a microbiota dos pacientes não responsivos aos mesmos.
Post de Amanda
Zangirolamo e Thaís Arns (FMRP/USP/IBA)
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