Post de
Marcia Weber: pós-doc do LHGB/CPQGM/Bahia
O HTLV é um retrovírus da mesma família do HIV,
que infecta a célula T humana. Existem dois tipos desse vírus: o HTLV-1 e o
HTLV-2. O HTLV-1 está associado a doenças graves neurológicas degenerativas
(paraparesia espástica tropical) e hematológicas, como a leucemia e o linfoma
de células T humana do adulto (ATL). Da mesma forma que o HIV, o HTLV é
transmitido por via sexual (relações sexuais desprotegidas), nas transfusões de
sangue, pelo uso compartilhado de seringas e agulhas e da mãe para o filho
durante a gestação, o aleitamento e no momento do parto. No Brasil, representa
um problema de saúde pública, apesar de o número de pessoas infectadas ser
proporcionalmente baixo, uma vez que não existe tratamento nem vacinas para
esta patologia.
Mais de 90% dos indivíduos infectados com
HTLV-1 permanece assintomático (AC), e apenas cerca de 4% desenvolvem HAM/TSP.
Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença é o gênero feminino e a
alta carga proviral (CPV). Existem evidências de que ACs possuem uma resposta
de células T CD8+ mais eficiente que controla a CPV, além de uma maior
frequência de alelos de HLA classe I capaz de apresentar peptídeos de uma
proteína regulatória do HTLV-1: HBZ. O HTLV-1 causa a proliferação de clones de
células T infectadas in vivo, e cada clone possui um sitio único de integração
do DNA viral ao genoma. Assim, Niederer e colaboradores avaliaram se o
ambiente genômico do provirus difere entre indivíduos assintomáticos (AC) e
pacientes com HAM/TSP. Para isso, eles quantificaram os sítios de integração de
95 pacientes com HAM/TSP e 68 ACs de Kagoshima, Japão, e 75 ACs de Kumamoto,
Japão. Indivíduos com 2 ou mais alelos de HLA classe I que se ligam ao HBZ
foram classificados como ligantes de HBZ fortes, o restante como fracos.
Neste estudo, foi observado que a integração do
HTLV nas áreas de transcrição ativa aumentou a frequência de clones infectados expressando
altos níveis de HBZ. Além do mais, a presença de alelos de HLA I capazes de
apresentar HBZ às células T CD8 foi associado a menor CPV, sugerindo um maior
controle de células infectadas nestes pacientes. Com isso, a pressão seletiva mediada
pela resposta imune eficiente destes indivíduos explica a maior frequência da integração
do HTLV em genes e regiões ativas do genoma de clones de ACs.
Pouco se sabe sobre a resposta imune contra o
HTLV. Os retrovírus diferem dos outros tipos de vírus pela capacidade de
integrar o DNA da célula hospedeira, e esta integração em regiões específicas pode
determinar a eficiência da resposta imune. Assim, elucidar os sítios de integração
viral no genoma da célula do hospedeiro e os mecanismos de escape das células
infectadas tornam-se relevantes para compreender os fatores de proteção ou
susceptibilidade a esta infecção.
Niederer HA, Laydon DJ, Melamed A, Elemans M, Asquith B, Matsuoka M, Bangham CR. HTLV-1 proviral integration sites differ between asymptomatic carriers and patients with HAM/TSP. Virol J. 2014 Sep 30;11:172.
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