Desde que foram desenvolvidos na primeira metade
do século XX até hoje, os antimoniais pentavalentes são os principais agentes
no tratamento de todas as formas de leishmaniose ao redor do mundo. Tais
compostos desempenham importante papel no controle da doença visto que vacinas
contra a leishmaniose ainda estão em fase de desenvolvimento. Entretanto, nos
últimos anos têm sido reportados grande número de casos de resistência aos
antimoniais pentavalentes. Na Índia, um dos países com maior número de casos da
doença, a taxa de falha no tratamento com o antimonial chega a mais de 60%, o
que resultou na retirada deste medicamento da prática clínica. Outras drogas
estão disponíveis no mercado e grande número de estudos têm sido feitos para
avaliar sua eficácia e aprimorá-las, dentre estas estão a anfotericina B e seus
derivados lipossomais, a miltefosina e o sulfato de paramomicina.
A origem da resistência aos antimoniais é
multifatorial e os diversos mecanismos moleculares envolvidos podem variar de
espécie para espécie do parasita. Isso explica porquê na Índia o antimonial não
é mais utilizado, enquanto que em outros países, como no Brasil, o tratamento
da leishmaniose depende grandemente dele. Contudo, mesmo no Brasil, os casos de
resistência a este tratamento chegam a quase 30%. Com base nesses fatores, há
um significante estímulo para investigação das estruturas e mecanismos que
conferem à Leishmania poder para
driblar a ação dos antimoniais.
Um recente estudo investigou genes de Leishmania braziliensis que estariam
potencialmente envolvidos com a resistência ao antimônio. Neste trabalho, que
contou quase exclusivamente com técnicas de biologia molecular, foi possível
partir do DNA genômico de L. braziliensis,
clonado em cosmídeos, identificar o gene específico, bem como seu produto,
que está envolvido com uma via de resistência ao antimônio. Vale ressaltar que
este gene, denominado ARM58 (do inglês Antimony Resistance Marker of 58kDa),
não está relacionado com nenhum mecanismo de resistência já reportado na
literatura e seu papel não está ainda completamente elucidado. Isso demonstra o
quanto abordagens não tradicionais e muitas vezes não direcionadas por uma
hipótese são necessárias em estudos de investigação de mecanismos moleculares. Além
disso, a identificação de marcadores moleculares de resistência à drogas se faz
extremamente necessária para o aprimoramento destas ou formulação de outras
mais eficazes, bem como monitoramento precoce dos casos de resistência
terapêutica.
Referência: Nühs A, Schäfer C, Zander D, Trübe L,
Tejera Nevado P, Schmidt S, Arevalo J, Adaui V, Maes L, Dujardin JC, Clos J. A novel marker,
ARM58, confers antimony resistance to Leishmania spp. Int J Parasitol Drugs Drug Resist. 2013 Dec 6;4(1):37-47.
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