Nós, seres humanos, somos
criaturas sociais e a tendência é que formemos vínculos de amizade com pessoas
que compartilham gostos e características sociais e comportamentais semelhantes
às nossas. No entanto, em estudo publicado este mês na PNAS (http://www.pnas.org/content/early/2014/07/10/1400825111.full.pdf+html),
o grupo de James Fowler demonstra que a semelhança entre nós e nossos amigos
estende-se a níveis genéticos. O
objetivo do trabalho foi avaliar como as amizades se estabeleceriam do ponto de
vista evolutivo. Foram utilizados dados do Framingham Heart Study, um famoso
estudo iniciado em meados de 1948 com moradores de Framingham que foram
seguidos por décadas. Na época, o mesmo teve como objetivo principal estudar
fatores de risco para doenças cardiovasculares e os resultados obtidos lançaram
evidências de que o colesterol atuaria como um fator agravante no
desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Avaliando o genoma de 1.932
indivíduos, dentre eles pares de amigos sem nenhum parentesco, bem como pares
de indivíduos que nunca se relacionaram, e um total de 466.608 SNPs
(polimorfismos de nucleotídeo único), os pesquisadores constataram que
indivíduos com forte vínculo de amizade compartilham 1% desses polimorfismos.
Isso seria o equivalente a quantidade de SNPs compartilhada entre primos de
quarto grau! Em particular, eles encontraram que os genes relacionados ao
olfato são os que apresentam maior similaridade entre amigos. É possível que os
indivíduos que possuem a mesma capacidade olfatória sejam atraídos para
ambientes similares onde acabam por interagir e formar laços de amizade; além
disso, o olfato também está ligado a outros processos sociais, tais como
relações afetivas e comunicação. Em contrapartida, genes que relacionados ao
sistema imune são bastante distintos entre estes indivíduos, o que é
evolutivamente interessante, uma vez que a propagação interpessoal de patógenos
seria reduzida.
Ainda utilizando essas análises
como base, a equipe desenvolveu um "score amizade", capaz de prever
quais indivíduos seriam possíveis “melhores amigos” dentro de uma população, e
afirmam que podem prever uma possível amizade com tanta confiança quanto os
médicos podem prever a probabilidade de obesidade ou esquizofrenia com base em
análises do genoma. Será???
Post de Marcela Davoli
(FMRP/USP-IBA)
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