Uma das razões
pelas quais as pessoas implicam com nerds é porque elas sabem tanto, mas tanto
sobre alguma coisa, no nível molecular do assunto, que quando alguém fala algo
errado sobre isso, eles sabem destrui-lo com argumentos, pois amam
apaixonadamente aquilo ao qual dedicam seu saber. Fico pensando o que aconteceria se os nerds do Brasil se unissem e se
organizassem politicamente?
Na semana
passada a National Review, uma revista conservadora associada com o Partido
Republicano dos Estados Unidos, publicou o artigo de um colunista descascando o
Neil de Grasse Tyson por se achar melhor que os outros só por ser nerd. O Neil acho que atualmente é o cientista mais pop que tem por aí – diretor do Planetário
do Museu Americano de Historia Natural, apresentador do remake do show Cosmos, e apresentador de um show de radio chamado
StarTalk, muito ouvido nos EUA.
Ele se posiciona sobre tudo, sempre de maneira didática e bem
humorada:evolução; religião; organismos geneticamente modificados; mudança climática.
Ele aparece em vários shows de TV, e com muito charme ensina de forma leve
sobre diferentes assuntos, sempre de maneira muito articulada.
Isso irrita
demais os conservadores americanos, partidários do ensino de criacionismo nas
escolas, e que vivem em negação em relação às mudanças climáticas, renegam
formas alternativas de energia. Para eles, o Neil epitomiza um medo muito
grande: o de que as idéias liberais sejam, afinal, muito bem fundamentadas. Que
perigo! Imaginem se todos realmente souberem que realmente existe evolução e que
houve uma grande explosão que iniciou o universo. E, pior, se isso for
descolado!
Hoje nos
EUA e ao redor do mundo os nerds vem aos poucos aparecendo não tanto como
malucos e introvertidos, mas até que simpáticos e engraçados. Shows de TV como
o Big Bang Theory , o Sillicon Valley, são um exemplo claro dessa nova popularidade.
Na carona disso, nerds já aparecem como alguém que realmente pode contribuir
para uma sociedade melhor, não apenas com frutos do seu trabalho, como
microchips, telefones celulares ou medicamentos revolucionários. Mas com idéias.
Idéias de que mudança possa não apenas ser algo bom, mas o melhor.
A maioria
dos nerds – e como cientista me incluo orgulhosamente nessa tribo – é introvertida
e/ou tem vergonha colocar abertamente
o que sabe para o público em geral. Quando coloca, muitas vezes o faz de
maneira meio desastrada pois vamos combinar muitos de nós não tem muitas
habilidades sociais, ou acha que simplesmente as pessoas não vão estar
interessadas, e vão tirar com a sua cara. Muitas vezes disfarçamos essa
insegurança pensando – nem adianta eu argumentar, que o outro não vai entender
o que vou dizer.
Mas, e se a
gente achasse maneiras de ensinar de leve aos outros o que sabemos? Se nos
colocássemos mais, se usássemos todo o conhecimento que temos para mostrar, de
forma irrefutável, ou seja, baseada em evidência, quais idéias de um candidato
ou governo são absurdas e quais idéias podem realmente trazer beneficio para a sociedade?
Nem todos podemos ser charmosérrimos como Neil, mas cada um tem o seu tipo de
charme. Acho pena que como categoria, principalmente os cientistas, sejamos tão
pouco organizados nesse sentido. Pois acredito que temos muito a oferecer, mas
não adianta guardar só dentro do laboratório. Você pode pensar que as pessoas não
estariam interessadas. Mas, e se a gente soubesse como fazê-las se interessar?
Aqui o link
de um artigo do NY times que adorei e fala um pouco sobre isso.
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