Modelo temporal para predição de vias de
diferenciação de linfócitos T CD8+ individuais. (a) Modelo mais
provável para diferenciação de linfócitos T CD8+ com mudanças-chaves na
expressão gênica associado com as seguintes transições celulares: células não
primadas para pré-TSLE; não primadas para pré-memória; pré-TSLE para TSLE;
pré-memória para memória efetora e pré-memória para memória central. (b) Genes
com mudanças consistentes na sua expressão durante cada fase de transição
celular, preditos pelo modelo temporal para a diferenciação de linfócitos T
CD8+ (mudança na expressão durante uma transição comparada com mudança na
expressão durante outras transições). Fonte: Adaptado de Arsenio et al., Nature
Immunology, 2014.
Durante uma infecção microbiana, linfócitos T
responsivos se subdividem em duas classes distintas de progênies celulares:
células efetoras que promovem a defesa inicial do hospedeiro e células de
memória de longa vida responsáveis pela imunidade duradoura. Células T efetoras
de vida curta, diferenciadas terminalmente (células TSLE) podem ser
identificadas fenotipicamente pela expressão do receptor tipo lectina KLRG1 e
pela baixa expressão do receptor para IL-7 (IL-7R). Pelo menos duas
subpopulações distintas das células de memória, células T de memória central (células
TCM) e células T de memória efetora (células TEM) já foram descritas. Essas
células podem ser distinguidas com base em sua capacidade proliferativa,
citotoxicidade, localização anatômica e expressão de certos receptores de
migração e de quimiocinas, incluindo L-selectina (CD62L) e CCR7, respectivamente.
Estudos prévios utilizando transferência
adotiva de células individuais e a abordagem de código de barras genético
demostraram que linfócitos T CD8+ não primados podem originar células com mais
de um destino e serão capazes de gerar todos os destinos celulares necessários
para uma resposta imune efetiva. O processo pelo qual linfócitos T ativados
individuais produzem progênies efetoras ou de memória e o tempo pelo qual essas
vias de diferenciação iniciam esse processo de diferenciação celular,
permanecia ainda desconhecido.
Um grupo de pesquisadores liderados pelo Dr.
John T. Chang do Departamento de Medicina da Universidade da Califórnia nos EUA
em estudo recente publicado na revista Nature Immunology, abordou exatamente
essa questão. Os pesquisadores combinaram análise de expressão gênica de uma
célula-específica e análises de bioinformática para traçar o mapa
transcricional de linfócitos T CD8+ individuais por meio do acompanhamento da
resposta imune in vivo.
Para delinear a hierarquia e os mecanismos de
diferenciação de células T CD8+ durante uma resposta imune adaptativa,
considerando-se uma célula-específica, foi utilizado um sistema experimental que
permite investigar a expressão gênica de linfócitos T CD8+ individuais por meio
do curso de uma infecção microbiana in
vivo. Células T CD8+ OT-I, que possuem um TCR transgênico capaz de
reconhecer epitopos de ovalbumina (OVA), foram transferidas adotivamente para
camundongos selvagens receptores. Após 24 h, os camundongos foram infectados
por via intravenosa com a bactéria Listeria monocytogenes recombinante que
expressa ovalbumina (Lm-OVA) e os linfócitos T CD8+ isolados foram analisados,
considerando-se células TSLE (KLRG1hiIL-7lo), células T potencialmente precursoras de memória celular (KLRG1loIL-7hi), células T TCM (CD44hiCD62Lhi) e TEM
(CD44hiCD62Llo).
Adicionalmente, análise de expressão gênica por PCR em tempo
real foi realizada, caracterizando-se genes que codificam proteínas reguladoras
transcricionais, capazes de influenciar a diferenciação de linfócitos T CD8+,
citocinas, quimiocinas e seus receptores e moléculas associadas com migração
para os tecidos e sobrevivência celular.
Os dados demonstraram que assinaturas de
expressão gênica preditoras de destino celular podem ser encontradas muito
precocemente, desde o primeiro estágio de divisão celular dos linfócitos T. Esse
fenômeno pode estar sendo influenciado pela partição assimétrica do receptor
para IL-2 (IL-2Ra) durante o processo de mitose celular. Assim, a decisão
de um linfócito T específico em produzir células efetoras e de memória celular
é feita quase no momento da infecção microbiana. Dessa forma, o “linfócito-mãe” se
divide em duas células-filhas, que já são diferentes ao nascimento, enquanto
uma torna-se célula efetora, a irmã torna-se célula de memória.
Esses achados enfatizam a importância das
análises de células individuais na compreensão do destino de populações
celulares específicas, bem como na geração de novos conhecimentos para
especificação de destinos distintos de linfócitos em fases iniciais da resposta
imune contra infecções microbianas. Uma vez que a proposta primária de vacinas
é produzir uma proteção imune durável e protetora e que depende
significativamente da geração de linfócitos de memória, esse estudo sugere que
o caminho que linfócitos T se dividem durante as fases iniciais de uma infecção
microbiana pode ser decisivo para produção efetiva de células de memória. Estratégias
que ampliem esse processo poderiam potencialmente aumentar a duração da
imunidade e auxiliar o delineamento de vacinas mais efetivas.
Referências
- Stemberger, C. et al. A single
naive CD8+ T cell precursor can develop into diverse effector and memory
subsets. Immunity 27, 985–997 (2007).
- Gerlach, C. et al. One naive T
cell, multiple fates in CD8+ T cell differentiation. J. Exp. Med. 207,
1235–1246 (2010).
- Arsenio J, Kakaradov B, Metz
PJ, Kim SH, Yeo GW, Chang JT. Early specification of CD8(+) T lymphocyte fates
during adaptive immunity revealed by single-cell gene-expression analyses. Nat
Immunol. 2014
Apr;15(4):365-72. doi: 10.1038/ni.2842. Epub 2014 Mar 2.
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