“Adjuvants are the ‘the immunologists’ dirty little secret” é uma
citação famosa de Janeway sobre os adjuvantes em geral e que se encaixa muito
bem quando nos referimos ao alúmen e seus mecanismos de ação. Isto porque o
alúmen foi descrito há quase um século como potente adjuvante, no entanto o seu
mecanismo de indução da resposta imune ainda não é totalmente compreendido e
esse tema já até chegou a ser discutido aqui no blog.
O termo alúmen aplica-se especificamente ao sulfato de potássio e
alumínio, sendo que existem outras formulações de sais de alumínio empregadas
como adjuvante, entre elas a mais utilizada nas vacinas comerciais é o
hidróxido de alumínio. Os sais de alumínio são descritos como potentes
indutores da resposta de perfil Th2, além de induzirem a migração de células
(monócitos, células dendríticas, eosinófilos e neutrófilos) para o local da
injeção. Sua função adjuvante também tem sido associada com a indução da
maturação de células dendríticas e aumento da expressão de moléculas
co-estimuladoras. Alguns estudos também sugerem que o efeito adjuvante dos sais
de alumínio seja mediado por substâncias como o ácido
úrico ou o próprio DNA do hospedeiro que são liberados no local da injeção como consequência
do pequeno efeito citotóxico deste adjuvante.
Em um estudo recente, McKee e colaboradores demonstraram que o DNA do hospedeiro é importante para a expansão de
células T e produção de anticorpos antígeno-específicos, pois quando
administravam DNAse juntamente com o hidróxido de alumínio e OVA, essa resposta
era diminuída. Para desvendar a via envolvida nessa ativação, os autores utilizaram camundongos deficientes
para a expressão de STING ou do receptor de IFN do tipo I (INFAR) e concluíram que
o DNA do hospedeiro liberado no local da injeção provavelmente interage com uma
molécula adaptadora desconhecida e desencadeia a ativação da via de STING/TBK1/IRF3,
assim como de outra via de sinalização não identificada neste trabalho, e a via
do receptor de IFN tipo I não está relacionada.
De forma interessante, os autores demonstraram
ainda que a imunização com sais de alumínio pela via intramuscular não aumenta o número de células apresentadoras de antígeno ou a expressão de moléculas
co-estimuladoras como comentado anteriormente. Os autores sugerem que essas
controvérsias possam ser devido às diferenças nas vias de imunização utilizadas
em cada estudo, pois na via intraperitoneal o NF-kB foi demonstrado
como envolvido na migração das células apresentadoras de antígeno para o
linfonodo drenante, mas este fenômeno não é observado na via intramuscular.
A partir de um ensaio de microscopia multifóton
para avaliar a interação entre células T antígeno-específicas e células dendríticas, observou-se que o DNA do hospedeiro liberado após
injeção do hidróxido do alumínio estava envolvido no aumento do tempo e da estabilidade
destas interações. Esse efeito foi decorrente de uma maior concentração de
antígeno apresentado pelas células dendríticas para as células T, sendo este um
dos mecanismos pelo qual o hidróxido de alumínio e a consequente liberação de
DNA após injeção estimularia então a resposta imune.
Portanto, o DNA do hospedeiro
liberado após injeção dos sais de alumínio parece ser um fator-chave no seu
efeito adjuvante, no entanto ainda permanecem várias dúvidas sobre os
mecanismos envolvidos na ativação da resposta imune e também levanta a questão se
esse efeito não poderia desencadear respostas auto-imunes. Enfim, vamos esperar
pelas cenas dos próximos capítulos...
Post de: Luana Soares e William Marciel (FMRP/USP-IBA)
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