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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A velocidade das mudanças é imunogênica?


No congresso da SBI uma das aulas do Ruslan Medzhitov prestava-se a refutar a teoria de que respostas alérgicas são um erro do sistema imune, mas pelo contrário, seriam, assim como a dor, um desconforto fisiologicamente útil e necessário. Enquanto ele falava, pensava eu: “essencialmente, esse cara não veio aqui falar de nenhuma molécula nova, nenhuma célula nova, nenhuma via nova que explique a alergia, então essa discussão (semântica?) efetivamente muda o quê na Imunologia?”.  Um pouco mais de reflexão me levou a concluir que na verdade estas questões são fundamentais para nós, que muitas vezes nos esquecemos das amarras filosóficas a que estamos presos. Quantas perguntas importantes somos incapazes de conceber por falta de uma visão global que dê sentido a tudo? As teorias que adotamos, conscientemente ou não, definem o que pesquisamos, como interpretamos os dados e que perspectivas damos ao nosso trabalho.  E eis que na Nature Reviews Immunology deste mês o assunto reaparece: Thomas Pradeu, Sébastien Jäger e Eric Vivier publicaram um ensaio defendendo uma nova teoria unificadora para a Imunologia: a teoria da descontinuidade. Observando o comportamento de macrófagos e células NK, os autores relembram que o balanço entre sinais ativadores e inibidores determina o surgimento de respostas efetoras, mas, mais do que isso, a falta prolongada de sinais inibidores ou a presença crônica de sinais ativadores levam a um estado de hiporesponsividade, com aumento do limiar necessário para indução de resposta. Evidências menos claras, mas possíveis, também são apontadas para linfócitos B e T. Revisitando vários modelos experimentais, os autores sugerem que as respostas imunes efetoras são induzidas por uma descontinuidade antigênica, ou seja, o aparecimento de padrões moleculares qualitativa e quantitativamente distintos do que o sistema imune encontra no estado homeostático. Formalmente, a teoria é apresentada num modelo matemático onde uma dada resposta efetora é função da variação da quantidade de antígeno em relação ao tempo. Além da velocidade e duração do aparecimento dos antígenos (que seriam moléculas reconhecidas por receptores, sejam de células do sistema imune inato ou adaptativo), os autores apontam para a importância da estrutura antigênica e local onde o antígeno aparece. De qualquer forma, esta teoria estaria de acordo com um princípio biológico maior onde se assume que entidades biológicas respondem às variações de estímulo. O modelo pareceu interessante, mas certamente ainda faltam dados experimentais que desafiem e testem esta teoria.

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4 comentários:

  1. Olá, que post interessante! Será possível disponibilizar o link do paper pra lermos sobre essa teoria?
    Abs
    Luísa.

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  2. Oi, Luísa. Segue o link. Boa leitura!
    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=nat+rev+immunol+764+2013

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