No congresso da SBI uma das aulas do Ruslan Medzhitov
prestava-se a refutar a teoria de que respostas alérgicas são um erro do
sistema imune, mas pelo contrário, seriam, assim como a dor, um desconforto
fisiologicamente útil e necessário. Enquanto ele falava, pensava eu:
“essencialmente, esse cara não veio aqui falar de nenhuma molécula nova,
nenhuma célula nova, nenhuma via nova que explique a alergia, então essa
discussão (semântica?) efetivamente muda o quê na Imunologia?”. Um pouco mais de reflexão me levou a concluir
que na verdade estas questões são fundamentais para nós, que muitas vezes nos esquecemos
das amarras filosóficas a que estamos presos. Quantas perguntas importantes somos
incapazes de conceber por falta de uma visão global que dê sentido a tudo? As
teorias que adotamos, conscientemente ou não, definem o que pesquisamos, como
interpretamos os dados e que perspectivas damos ao nosso trabalho. E eis que na Nature Reviews Immunology deste
mês o assunto reaparece: Thomas Pradeu, Sébastien Jäger e Eric Vivier
publicaram um ensaio defendendo uma nova teoria unificadora para a Imunologia:
a teoria da descontinuidade. Observando o comportamento de macrófagos e células
NK, os autores relembram que o balanço entre sinais ativadores e inibidores
determina o surgimento de respostas efetoras, mas, mais do que isso, a falta
prolongada de sinais inibidores ou a presença crônica de sinais ativadores levam
a um estado de hiporesponsividade, com aumento do limiar necessário para
indução de resposta. Evidências menos claras, mas possíveis, também são
apontadas para linfócitos B e T. Revisitando vários modelos experimentais, os
autores sugerem que as respostas imunes efetoras são induzidas por uma
descontinuidade antigênica, ou seja, o aparecimento de padrões moleculares
qualitativa e quantitativamente distintos do que o sistema imune encontra no
estado homeostático. Formalmente, a teoria é apresentada num modelo matemático
onde uma dada resposta efetora é função da variação
da quantidade de antígeno em relação ao tempo. Além da velocidade e duração do
aparecimento dos antígenos (que seriam moléculas reconhecidas por receptores,
sejam de células do sistema imune inato ou adaptativo), os autores apontam para
a importância da estrutura antigênica e local onde o antígeno aparece. De
qualquer forma, esta teoria estaria de acordo com um princípio biológico maior
onde se assume que entidades biológicas respondem às variações de estímulo. O modelo pareceu
interessante, mas certamente ainda faltam dados experimentais que desafiem e
testem esta teoria.
Olá, que post interessante! Será possível disponibilizar o link do paper pra lermos sobre essa teoria?
ResponderExcluirAbs
Luísa.
Oi, Luísa. Segue o link. Boa leitura!
ResponderExcluirhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=nat+rev+immunol+764+2013
Obrigada, Jonatan!
ExcluirMuito interessante, Jonatan!
ResponderExcluirRafael.