Anualmente, o programa de vacinação contra o vírus influenza conta com a produção de uma vacina diferente a fim de atingir a proteção contra os vírus da época. Assim, a cada ano, os componentes da vacina contra a gripe sazonal são alterados, na esperança de que correspondam às novas cepas de vírus cirulantes. Isso pode resultar em vacinas com baixa eficácia, como o que ocorreu recentemente na temporada de gripe 2007/2008, a vacina sazonal apresentou pouca proteção contra a infecção com as cepas circulantes. Ainda, quando uma nova cepa do vírus é introduzida em seres humanos, tais como o vírus H1N1 em 2009, uma vacina totalmente nova é necessária. Leva tempo para se produzir uma vacina para uma nova cepa circulante, e uma cepa particularmente virulenta pode alcançar o status de pandemia antes que o processo esteja completo. Isso tem estimulado a busca de anticorpos que possam neutralizar não só múltiplas cepas dentro de um subtipo do vírus da gripe, mas os vírus dos subtipos diferentes também, a fim de se desenvolver uma vacina universal contra a gripe.
Anticorpos neutralizantes para o vírus da gripe com uma reação cruzada maior, tornariam a vacina mais eficaz, mas estimular a produção desses anticorpos é um desafio. Um número crescente de anticorpos neutralizantes para o HIV têm sido identificados, por exemplo, mas nenhuma estratégia de vacinação até a data suscitou tais anticorpos eficazes. As estratégias para atingir a neutralização geral dos vírus da gripe incluem a geração de novos imunógenos que estimulem anticorpos neutralizantes, ou modificações nos procedimentos de imunização com os componentes da vacina existente. Em um trabalho recente publicado na Science, Wei et al, utilizaram a segunda abordagem, usando a estratégia prime-boost. Eles primaram camundongos e macacos com uma vacina de DNA que expressa a HA de uma vacina contra a gripe sazonal já existente. Os animais receberam, então, um boost com a vacina de vírus inativado. Surpreendentemente, quando a HA da vacina contra a gripe sazonal de 1999 foi utilizada desta forma, o soro resultante foi capaz de neutralizar a H1 do vírus de 1934, bem como o vírus que surgiu em 2006 e 2007, uma extensão de mais de 70 anos. A neutralização cruzada dos vírus H3 e H5 também foi atingida, e os animais foram protegidos contra o desafio com o vírus letal. Será este o ponto de partida para uma vacina mais eficaz e universal contra a gripe, tornando desnecessária a vacinação anual?
Renata Sesti Costa - IBA, FMRP, Ribeirão Preto.
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