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domingo, 25 de janeiro de 2015

Reflexões evolutivas e o modelo animal



Muito se discute a respeito da validade dos modelos experimentais nos estudos imunológicos e de sua eficácia em explicar os fenômenos biológicos envolvidos. Nesse sentido, a discussão pode não ser tão simplória e envolver todo um contexto evolutivo. Podemos nos indagar sobre os “porquês” da presença e persistência de tanta variação imunogenética associadas, por exemplo, às doenças autoimunes em camundongos e humanos. “Por que” começa a fazer sentido quando pensamos que a história evolutiva de um grupo ocorre num ambiente bastante diverso em termos de complexidade e pressão seletiva. Em relação ao sistema imunológico, muito dessa pressão é ocasionada por parasitos, os quais, sabidamente, interagem com a imunidade do hospedeiro.
É de se supor que as respostas imunológicas observadas em populações de ambientes naturais difiram daquelas observadas no ambiente controlado, como o laboratorial. Tudo isso pode ser explicado baseado em uma espécie de gradiente pautado na própria seleção natural e na “artificialidade do ambiente”. Dessa forma, temos em extremos opostos animais domésticos/laboratoriais, os quais estão poucos expostos à seletividade natural e muito expostos a condições ambientais artificiais como limpeza, oferta de alimento, etc. No outro extremo, animais selvagens, os quais estão expostos a pressões seletivas e ambientes ditos naturais, numa condição altamente susceptível às infecções parasitárias e escassez alimentar. A título de exemplificação desses extremos, é relatado que populações selvagens tendem a ter uma maior concentração de imunoglobulinas e células NK responsivas em relação às linhagens laboratoriais. Uma explicação seria a perda da capacidade de resposta em vista dos múltiplos intercruzamentos aos quais tais linhagens são expostas. Também é relatado que um loci associado ao desenvolvimento de doenças inflamatórias intestinais está relacionado à proteção contra microbactérias em ambientes naturais. Desse modo, as variações imunogenéticas assumem um papel adaptativo importante na natureza.
Se pensarmos na espécie humana como apenas um raminho da imensa árvore da biodiversidade que já habitou o planeta terra, em que ponto do gradiente ela estaria? A espécie é exposta a todo momento a condições próximas às naturais, artificiais e a todo tipo de stress típico da modernidade. Dessa forma, a velha discussão sobre experimentação animal e sua aplicabilidade na saúde humana torna-se mais complexa, uma vez que é inerente à espécie utilizada como modelo um histórico de condições que o tornam muito destoante do histórico de condições da própria espécie humana.  Nesse contexto, tem se tornado cada vez mais evidente a importância de se mudar, ou mesmo, adicionar um novo foco no entendimento do surgimento das doenças, deixando um pouco de lado a perspectiva médico- epidemiológica e evidenciando o entendimento da doença no contexto ecológico/evolutivo da espécie em questão.

Post de Murilo Solano Dias FMRP/USP/IBA

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