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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Nobel e a plasticidade




Quando eu era garota aprendíamos nas aulas de ciências que as células dos tecidos estavam terminalmente diferenciadas, por exemplo, uma célula da pele não poderia gerar um novo individuo.  Na semana passada, um grupo japonês reportou a geração de bebês camundongos a partir de células da pele. O método utilizado era inspirado num artigo da Cell de 2007, de Shinya Yamanaka, outro cientista japonês. Naquele artigo, Yamanaka e colegas mostravam que com apenas quatro fatores de transcrição (Oct3/4, Sox2, Klf4, e c-Myc) introduzidos por retrovirus, podiam gerar células tronco pluripotentes a partir de fibroblastos humanos.

Hoje de manhã Yamanaka tornou-se o ganhador do Nobel de Medicina deste ano, dividindo o premio com John Gurdon, um britânico que foi pioneiro nas tecnologias de transferência de núcleos entre as células. Gurdon fez isso em 1967, ano em que Yamanaka nasceu.  Da mesma tecnologia que Gurdon estabeleceu, derivou-se a ovelha Dolly, deu tempo de nascer e crescer o cientista que mostrou que podia ser ainda mais simples que transferir núcleos,  e mudando as aulas de ciências de todos os meninos e meninas para sempre.

A maneira como estudamos doenças também mudou pra sempre, pois hoje podemos recriar a doença na plaquinha de cultura, e pensar em testar drogas sem envolver animais.

Na imunologia isso é  hoje também um ponto crucial de estudo– por exemplo temos falado muito em plasticidade de linfocitos T e da diferenciação das T helper que antes parecia terminal. Nos debruçamos ávidos sobre os milhões de dados que os arrays genéticos nos fornecem sem ainda poder entender completamente toda essa informação. Embora muitos questionem os fatos, embora se discuta ainda se isso acontece in vivo, no meio do tumor ou durante uma infecção, sem duvida, tem alguma coisa importante acontecendo ali que não devemos ignorar ao trabalhar em nossos modelos.

Plasticidade. Mais que uma palavra, uma tendência mundial, para esse mundo que muda tão rápido – até o Nobel mudou, lembram, não teve como voltar atrás do premio póstumo do Steinman ano passado.  Que seja mais uma inspiração pra o nosso dia a dia, que a gente tenha em mente que, para nos diferenciarmos,  precisamos, entre outras coisas, manter flexibilidade suficiente para compreensão e adaptação a novos cenários, e quem sabe, reprogramar um pouco as idéias.

Takahashi et al., Cell 131, 861–872, November 30, 2007
Gurdon et al., PNAS September 30, 2003 vol. 100 suppl. 1 ;11819–11822

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6 comentários:

  1. Sem dúvida uma descoberta que ampliou e reforço o campo das células-tronco. Apenas fico receoso quando a utilidade prática desta técnica para modelos não experimentais, quando a segurança e eficiência.
    E normalmente estamos acostumados com descobertas ganhadoras do Nobel que já são consagradas em seu campo de estudo.
    Acho que a imunologia tem muito a progredir através deste prisma. Aprendamos com eles.

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  2. Excelente post.

    Tava precisando ouvir algo assim, motivador.

    Parabéns mais uma vez Cris.

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  3. valeu meninos. rafael, acho que o premio é uma mensagem de incentivo a esse tipo de trabalho, como foi quando o obama ganhou o da paz. bernardo, que bom que ajudou - esse nosso dia a dia é complicado, we need all the motivation we can muster. bjs

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  4. Parabéns pelo post. Sem dúvida, a plasticidade é um dos temas que mais eu gosto. Sem dúvida alguma acho que os papers de hoje mostram que na Biologia, principalmente na Imunologia, os fenômenos não são tao estáticos e os nossos resultados muitas vezes mostram isso.

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  5. Cris, Parabéns pelo post. Às vezes me parece que o sistema imune não funciona para defesa ou reconhecimento, mas para adaptação. Nisso, a plasticidade tem um papel importante.

    Sobre as coisas que mudam no Nobel, terá algum dia cabimento para mais de 3 ganhadores? Isso levando em conta que a ciência torna-se cada vez mais ampla e as grandes descobertas tendem a ser a somatória de muitas contribuições pequenas.
    http://goo.gl/plNSU.

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