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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O bate-papo entre NK uterinas e células dendríticas no inicio da gravidez murina


 Post por Danielle Tocantins Moura Costa - Graduanda em Biomedicina – UEL e Phileno Pinge Filho – Laboratório de Imunopatologia Experimental - UEL

              
 A relação entre mãe e feto ainda está, do ponto de vista teleológico, de certo modo ineficiente, e podemos argumentar que certas tendências observadas na evolução da viviparidade ocasionam dificuldades imunológicas especiais para o feto (PB Medawar).

A gravidez é um evento único, o feto geneticamente e imunologicamente estranho, geralmente sobrevive a termo, sem rejeição aparente pelo sistema imunológico da mãe. Como foi dito por Medawar em 1952 – e suas observações ainda são verdadeiras hoje em dia, durante a gravidez, o sistema imunológico tem duas funções vitais: proteger a mãe contra infecções e tolerar o feto semi-alogênico.

Desde o primeiro contato do espermatozóide com a mucosa vaginal observam-se sinais da resposta imune. Ocorre a comunicação de linfócitos presentes na superfície da mucosa e àqueles do espaço subendotelial. Os linfócitos podem ser ativados por antígenos apresentados por macrófagos, no endométrio e endocervix e células de Langerhans na vagina e ectocevix.  Porém algumas substâncias contidas no sêmen possuem ação imunossupressora, o que pode contribuir para que a resposta local seja pequena.  Além desta característica do ejaculado, foi verificado experimentalmente que, momentos antes da ovulação há uma eficiência diminuída na apresentação de antígenos, o que demonstra uma preparação para o recebimento do embrião.

Crítico na sobrevivência do feto está o papel da placenta, ou especificamente, as células do trofoblasto. Há importantes componentes imunológicos dessas células para garantir a sobrevivência do feto, evitando a rejeição pelo sistema imunológico da mãe e escapando de infecções. Estas características incluem alterações no fenótipo do complexo de histocompatibilidade principal (MHC), mudança no padrão Th1/Th2, predominância de células natural killer uterinas (uNK) e outras respostas imunes. 

Muitos dos sinais iniciais que envolvem a manutenção da gravidez são derivados de populações celulares que infiltram a decídua e a mais abundante é formada por células uNK. Estas células mantêm a integridade da decídua e participam da remodelação da artéria uterina espiral e foi recentemente demonstrado que o recrutamento normal destas células bem como suas propriedades funcionais são dependentes de sinais derivados de células dendríticas (DCs). O fato que a depleção de DC no modelo murino provocou falhas na implantação do zigoto devido a má formação da decídua e da vascularização local, sugere que as DCs constituem uma população celular chave que determina o sucesso da gravidez.

Desta forma, o diálogo de cooperação entre DCs e uNK que auxilia cada uma delas a se tornarem maduras e funcionais, é observado na decídua durante a gravidez murina e humana. Esta conversa parece ser muito importante para restringir a ativação de DC e das NK no útero e desta forma manter suas funções celulares compatíveis com o sucesso da gravidez.

O artigo de González e colaboradores [1] mostra que as uNK são importantes na modulação das funções imunogênicas de DC compatíveis com o sucesso da gravidez. Utilizando diferentes estratégias (depleção e expansão celular) para manipular a freqüência de uNK e DC durante a gestação no modelo murino, os autores demonstram de maneira elegante o papel chave das uNK sobre irregularidades causadas pela expansão e super-atividade das DCs na decídua, contribuindo para uma progressão normal da gravidez. Os principais resultados encontrados pelo grupo de pesquisadores acima citado são os seguintes: 1) a depleção combinada de DC e NK afeta de maneira drástica a decidualização o que inviabiliza a gravidez; 2) células NK exercem funções chave para a manutenção da gestação durante a fase de expansão das DCs; 3) a depleção de NK e expansão das DCs estão associadas com aumento na expressão de genes envolvidos com a ativação imunológica e inflamação.

Boa leitura!

Referência

[1] González IT, Barrientos G, Freitag N, Otto T, Thijssen VL, Moschansky P, von Kwiatkowski P, Klapp BF, Winterhager E, Bauersachs S, Blois SM. Uterine NK Cells Are Critical in Shaping DC Immunogenic Functions Compatible with Pregnancy Progression. PLoS One. 2012; 7(10): e46755. doi: 10.1371/journal.pone.0046755.



 

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