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domingo, 14 de outubro de 2012

Journal Club Iba: Gritos e sussurros da célula T CD4+

           Quando falamos das funções efetoras de células T é claro para nós o que cada uma faz: após o reconhecimento de antígeno cognato, a CD8+ induz a morte de células-alvo por secreção de grânulos líticos e a CD4+ secreta citocinas e quimiocinas que recrutam e ativam outras células do sistema imune. Ambas funções efetoras têm de ser finamente reguladas com o objetivo de prevenir atividade efetora “indesejada”.
Muitos estudos mostram que células T CD8+ agem com acurácia, matando células-alvo de maneira específica e não interferindo em células vizinhas. Entretanto, muito pouco é conhecido sobre o direcionamento da entrega de citocinas por T CD4+. Embora as citocinas podem exercer suas atividades a longas distâncias in vitro, não é claro se suas concentrações in vivo permitem um espectro de ação frente as células que estão em contato com as células T CD4+. Será que in vivo, a secreção das citocinas por células T CD4+ é limitada à sinapse imunológica (sussurros...) ou é multidirecional (gritos!!!), agindo em células que não “experimentaram” a apresentação antigênica?
Tentando responder esta questão, um trabalho recente publicado por Muller et al. na Immunity, demonstrou que pelo menos em relação ao IFN-γ, as células T auxiliares gritam!
Os autores descrevem que a secreção desta citocina no local da infecção (no caso, Leshmania major) é multidirecional e tem atividade bystander, ativando APCs a expressarem iNOS e matarem os parasitas mesmo sem entrarem em contato com um célula T antígeno-específica. Esta atividade bystander diminui a necessidade de encontros antígeno-específicos de APC-células T, já que eles demonstraram que apenas 10% das APCs infectadas tendo seu antígeno reconhecido por células T cognatas é necessário para completo clearance do parasita. Além disso, analisando a marcação de iNOS do sítio de infecção por microscopial confocal, os autores viram que o efeito multidirecional do IFN-γ forma um gradiente, já que quanto mais distante da apresentação antigênica (80µm), menos iNOS é produzido.

Os trabalhos nesta área (o direcionamento da secreção de citocinas por T CD4+) possuem resultados bastante discrepantes, mas muito é devido a modelos e metodologias distintos. Há quem demonstre que, ao contrário do que citamos acima, o IFN-γ tem sua secreção limitada à sinapse, mas será mesmo? Não achamos que isto teria muito “sentido imunológico”. Acreditamos que a entrega de citocinas após o reconhecimento do antígeno em múltiplas direções é um forma de “economizar esforço” das célula T...mas, será que esta “economia”, no entanto, geraria efeitos colaterais no tecido circundante? Bem provável, é esperar para ver.

 
Post de: Taise Landgraf e Rafael Prado.

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