BLOG DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE IMUNOLOGIA
Acompanhe-nos:

Translate

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Notícia Urgente

Parece que finalmente foi descoberto o mecanismo de ativação do inflammosoma formado por NLRP3.

O grupo do Prof. Pablo Pelegrin publicou ontem na Immunity um trabalho que parece adicionar a importante peça faltante ao intricado quebra-cabeça que é a ativação do inflammosoma formado por NLRP31.

Os autores mostraram que a ativação do NLRP3 inflammosoma é controlada por um mecanismo primitivo, presente desde às células peixes às de mamíferos, que detecta alterações no volume celular ocorridas em função de distúrbios na osmolaridade celular.

Quando submetidas à diferentes estímulos e condições osmóticas, que causam alterações no volume celular, as células rapidamente ativam uma resposta que reguladora do volume celular (Cell Volume Regulation-CVR) para retomar sua funcionalidade. O aumento do volume celular, ou cell swelling, é observado em uma variedade de processos fisiológicos e patogênicos, tais como hipóxia, isquemia, hipotermia, acidose celular e diabetes. A resposta CVR é de extrema importância para restaurar o volume e a viabilidade celular. Esta resposta é essencialmente importante para o sistema nervoso central devido ao volume rígido do crânio. Imagine um inchaço no cérebro! Assim, a administração de soluções hipertônicas está entre as principais opções de tratamento para derrames. 

A ativação do NLRP3 tem sido, sem dúvidas, o maior mistério para os estudiosos da imunidade inata. As evidencias até agora existentes eram de que NLRP3 poderia ser ativado por efluxo de potássio celular, pela presença de espécies reativas de oxigênio (ROS)2, e/ou pela ruptura da membrana dos lisossomos3. O interessante é que todos estes processos são afetados durante o cell swelling.

No estudo, a exposição de células humanas, de camundongos e de peixes a meio hipotônico levou à ativação do CVR e do NLRP3 inflammosomo resultando na ativação de caspase-1 e no processamento e liberação de IL-1? e IL-18. Da mesma forma, a exposição de células à condições hipertônicas inibiu a ativação do NLRP3 por vários de seus ativadores como nigericina, ATP, cristais de ácido úrico e alum, mas não por DNA que é reconhecido pelo inflamosomo formado por AIM2.

Com isso, este estudo identifica um mecanismo de alerta conservado evolutivamente de peixes a mamíferos contra ambientes hipotônicos; revela que o cell swelling pode funcionar como um DANGER signal e que a resposta CVR, que controla o volume celular, também controla a ativação do NLRP3.

O estudo abre perspectivas para novas opções de tratamento para doenças autoimunes em que o NLRP3 tem um papel.


1.     Compan, V. et al. Cell Volume Regulation Modulates NLRP3 Inflammasome Activation. Immunity 1–14 (2012).doi:10.1016/j.immuni.2012.06.013
2.     Schroder, K. & Tschopp, J. The Inflammasomes. Cell 140, 821–832 (2010).
3.     Hornung, V. et al. Silica crystals and aluminum salts activate the NALP3 inflammasome through phagosomal destabilization. Nat Immunol 9, 847–856 (2008).

Comente com o Facebook :

5 comentários:

  1. Bernardo, gostei do seu comentário. Uma pergunta, o inflamassoma (é assim que se escreve?) percebe o que? Eu acho que percebe que a permeabilidade celular ou a concentração de íons está alterada. Ou a célula recompõe o problema ou ele suicida. O problema é simplesmente de homeostasia celular do organismo. Danger, defense, whatever...são metáforas aplicadas na ciencia e na Imunologia que com certeza não foram informadas à célula ou ao organismo, pois não há como processos biológicos serem regidos por metáforas. Ou seja, o inflammassoma é um exemplo claro que o que move a ação da célula não é uma defesa contra patógenos. É simplesmente um sensor de homestasia interna.
    momtchilo
    Momtchilo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O correto é inflammasome.

      Honestamente eu nao sei como seria em portugues.

      Excluir
  2. Bernardo, muito legal o post.

    Alguns possíveis mecanismos upstream da ativação dos inflamassomas foram publicados nestes últimos meses. Chamo a atenção para a quinase PKR, que aparentemente está envolvida na ativação da maioria dos inflamassomas conhecidos; e a fosforilação de NLRC4, que é necessária para a sua atividade.

    Muito interessante essas novas descobertas que estão surgindo!

    Novel role of PKR in inflammasome activation and HMGB1 release. doi:10.1038/nature11290

    Phosphorylation of NLRC4 is critical for inflammasome activation. doi:10.1038/nature11429

    ResponderExcluir
  3. bem legal o post, bernardo. acho importante a colocação do momtchillo - o swelling é uma coisa fisica, que a célula deve ter mecanismos moleculares pra perceber. é como a stress response - o calor é fisico, mas seu efeito se traduz molecularmente na exposição de regioes hidrofobicas de proteinas que normalmente nao estariam expostas. esses mecanismos citados pelo Pedro dão pistas, o pessoal tá chegando perto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eie Cris,

      Pois é! Achei exatamente a descoberta de que o inflamassomo é simplesmente mais um mecanismo celular para lidar com stress, como bem colocou o Momtchilo, fantástica.

      E o mais interessante é vc observar q, mesmo com os grandes tubarōes do inflamassoma procurando extensivamente pelo ativador de NLRP3, foi um grupo bem mais modesto na área de inflamassomo que encontrou a resposta.

      Provavelmente esse grupo do Pelegrin usou sua experiencia em outra área (no caso o controle osmótico celular) para enxergar o que os grandalhōes do inflamassomo, de tão focados, não perceberam. As vezes, estamos tao focados em um pb q nao conseguimos velo em uma dimensao mais simplista. Ai chega alguém q nao é da sua área, ou q é leigo, e te faz aquela pergunta mais simples, mas q vc nunca tinha se perguntado, pois estava ocupado demais pensando nos pequenos detalhes...

      Isso mostra como a ciência e dinamica e depende da interação entre as diferentes áreas.

      Achei isso sensacional....

      Excluir

©SBI Sociedade Brasileira de Imunologia. Desenvolvido por: