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domingo, 23 de setembro de 2012

Journal Club Iba: HD6, a α-defensina capaz de prender


A interação do homem com sua microbiota é uma relação complexa de simbiose que gera benefícios mútuos. No entanto, diversos microrganismos representam ameaça de quebra do equilíbrio. O sistema imune tem a função de manter a homeostase com a microbiota residente utilizando diversos mecanismos, entre eles, a secreção de moléculas antimicrobianas, como as α-defensinas.

Dentre as α-defensinas humanas, a HD5 e HD6 são produzidas e secretadas exclusivamente pelas células de Paneth, localizadas na base das criptas de Lieberkuhn no intestino delgado. Diversos estudos elucidaram a função da HD5, enfatizando seu efeito microbicida contra diversos tipos de patógenos (1, 2, 3). Além da capacidade microbicida, Salzman e colaboradores (2010) verificaram que a presença de HD5 em camundongos transgênicos era capaz de alterar a composição da microbiota no íleo (4). Por outro lado, a função da HD6 permaneceu indefinida por anos, já que ela não apresentava o efeito antimicrobiano da HD5.

A fim de investigar a função da HD6 na imunidade da mucosa intestinal, Chu e colaboradores (2012) desenvolveram camundongos transgênicos que expressavam o gene da HD6 (DEFA6) nas células de Paneth. Quando desafiados com Salmonella Typhimurium (STM) por via intragástrica, os camundongos HD6+ eram capazes de sobreviver por mais tempo e ainda possuíam menor carga bacteriana nas Placas de Payer e no baço em relação aos camundongos WT. Por meio de experimentos bem coordenados, os autores demonstram que a STM tratada com HD6 possuía menor capacidade de infectar células intestinais. No entanto, o tratamento com HD6 não alterou a microbiota intestinal, a adesão das bactérias às células intestinais e a expressão de genes bacterianos relacionados com invasão (5). Então, qual seria o mecanismo de ação da HD6, afinal?

Evidências moleculares sugeriram que a HD6 era mesmo diferente. Enquanto as α-defensinas em geral possuem um resíduo de aminoácido aromático não polar na posição 27 que parece ser essencial para a função microbicida, alguns estudos mostraram que a HD6 possui uma histidina nesta posição. Esta sutil diferença foi suficiente para sugerir uma função biológica distinta. Diferente de outras α-defensinas, a HD6 pode se oligomerizar, formando uma estrutura alongada, com ligação de múltiplos tetrâmeros que podem se auto-associar e formar polímeros. A formação do polímero é dependente da histidina na posição 27 e necessita de um sítio de ancoramento, por exemplo, proteínas patogênicas não-glicosiladas. Essa estrutura alongada forma redes de fibrilas, também chamadas de nets, que “prendem” a bactéria, impedindo que ela invada as células intestinais. Além de demonstrar a formação das nets in vitro, os autores, de maneira elegante, demonstram que elas também são formadas in vivo. Embora documentada apenas em bactérias, a propriedade da HD6 de formar nets parece ser independente de uma sequência proteica específica (5, 6), sugerindo que ela também pode ser formada em resposta a fungos e protozoários.

 

A α-defensina HD6 confere proteção da mucosa intestinal através da formação de nanonets.

  

Post de Milena Sobral Espíndola e Juliana E. Toller Kawahisa

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