A desnutrição afeta mais de um bilhão de pessoas no mundo,
sendo uma das principais causas de mortalidade infantil. Sabe-se que a falta de
nutrientes em geral pode causar alterações em diversos processos biológicos e
sistemas de um organismo, incluindo o sistema imune, o que contribui para o
aumento da suscetibilidade e severidade de infecções. A maioria dos indivíduos desnutridos
apresenta diarreia e inflamação intestinal e, apesar destes fatos serem
conhecidos por décadas, os mecanismos moleculares que associam a desnutrição e
inflamação intestinal ainda não foram elucidados.
Com o intuito de entender estas questões de forma mais
detalhada, Hashimoto e colaboradores realizaram um trabalho (aqui),
que demonstra de forma elegante uma rede intrincada envolvendo o transporte e
absorção de aminoácidos, respostas antimicrobianas, ecologia microbiana, e
inflamação.
Recentemente foi descoberto que a Enzima Conversora de
Angiotensina 2, ou do inglês Angiotensin
Converting Enzime (ACE), enzima chave do Sistema Renina-Angiotensina (RAS)
tem outras funções independentes de RAS (aqui),
sendo que uma delas envolve a regulação da expressão de um transportador de
aminoácidos neutros, B0AT1 no intestino. O estudo de Hashimoto e
colaboradores mostra que camundongos nocautes de ACE2 apresentam uma
suscetibilidade aumentada à inflamação intestinal induzida por Dextran Sulfato
de Sódio (DSS). Além disso, foi observado que na ausência da ACE2, o nível de
aminoácidos neutros no sangue é significativamente mais baixo, principalmente
triptofano. Seria então este aminoácido necessário para manutenção da
homeostase intestinal?
Os pesquisadores reportaram que a inativação genética da ACE2
ou uma dieta pobre em triptofano resulta em menor ativação de mTOR, diminuindo
a produção de alguns peptídeos antimicrobianos no intestino. De maneira
esperada, isto resulta na alteração da população bacteriana constituinte da
microbiota intestinal.
Para provar que a alteração na microbiota é a causa da maior
suscetibilidade a inflamação na ausência de ACE2 ou carência de triptofano, foi
feita a transferência da microbiota destes animais para camundongos
“germ-free”, gerando o mesmo fenótipo. Ainda, a depleção desta microbiota
alterada com antibiótico de amplo espectro faz com que a reação inflamatória
induzida por DSS assemelhe-se com a de camundongos selvagens.
Sendo assim, uma dieta rica em triptofano (carnes, soja,
leite e derivados) ajuda a manter a integridade intestinal e como Jorge Ben Jor
já disse: canja de galinha não faz mal a ninguém!
Post de Luiz Gustavo Gardinassi e Maria Cláudia da Silva
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