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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Será que pode mudar?


Então, me atrasei no Universal porque parei no meio do projeto hipnotizada por um filme que estava começando na TV e tinha o atraente titulo de Einstein e Eddington. Sempre olho alguma coisa que diga Einstein. Não sabia quem era o Eddington.  Esse cara era tido em Cambridge no inicio do século XX como The Best Measuring Man in England, era um astrônomo prático, Newtoniano da gema, que tinha um modelo do sistema solar em casa.  Logo antes de começar a primeira guerra pediram pra ele, que falava alemão, que traduzisse o trabalho de um físico que parecia estava desafiando os paradigmas ingleses – um cara chamado Einstein. O Eddington foi na biblioteca de Cambridge. Pediu o paper da relatividade do Einstein, leu, traduziu, decifrou os símbolos de matemática - parece que o Einstein escrevia numa linguagem matemática diferente de todo mundo – e pensou – Se este cara estiver certo, o Newton e toda a física que conhecemos está incorreta.  O Universo não é o que a gente pensa que ele é, não estamos trabalhando direito.

Em vez de largar o paper, o Eddington não descansou enquanto não testou a teoria do Einstein. Passou anos, inclusive durante a guerra – em que alemães e ingleses não podiam se falar -  se comunicando com o Einstein e sugerindo a ele como testar previsões da sua hipótese. Até que provou – foi para a África medir a luz das estrelas no pico de uma montanha no meio de um eclipse solar, pra mostrar que a proximidade do sol conseguia influenciar a trajetória da luz das estrelas – bum, o espaço era curvo. Mudou tudo. O Universo não era mais o mesmo.

Que loucura! Na imunologia, a coisa mais difícil que existe é mudar um paradigma. As pessoas tem uma resistência incrível a pensar em testar idéias novas,  olha, essa coisa das T regs é o exemplo mais recente disso – o tempão que se levou pra se aceitar que essas células estavam lá! E nós com internet e multifoton confocal e não precisa traduzir matemática nem viajar pra África.

Hoje de manhã abro o NY times o os físicos do CERN estão super felizes por terem descoberto uma partícula nova subatômica, que procuram há décadas . Por que essa felicidade toda, perguntam os repórteres? Porque essa partícula pode nos mostrar que a realidade como a gente conhece não está correta – provavelmente existem mais dessas partículas e isso significaria que há muito mais diversidade na Natureza do que jamais imaginamos. Bum. Pode mudar tudo.

Os físicos tem uma coisa que eu tenho invejinha – eles sabem o segredo de fazer previsões que se confirmam – mas isso, pra mim, passa por uma tradição de estar sempre duvidando que as coisas são assim mesmo. E não tem como avançar na ciência sem considerar essa possibilidade.Na hora de escrever ou analisar um projeto, não deveria ser nossa obrigação, ou pelo menos tradição, pesar sempre a possibilidade de que a própria coisa que estamos propondo pode não ser assim? E termos espaço pra escrever isso, vontade de ler isso, e saber apreciar os pensadores que conseguem sair dos moldes e nos mostrar um vislumbre do que pode ser?

O Universo e o Universal ainda parecem estar longe um do outro. Mas sou otimista: acho que pode mudar!

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11 comentários:

  1. Cris adorei seu post!
    Hoje, sem duvida foi um dia espetacular pra fisica. A existencia da particula tinha sido proposta por Higgs em 64....fabiola gianotti, lider de um dos dois grupos que falaram hoje, disse uma frase ao fim da sua apresentacao : obrigado, natureza....

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  2. Digo, um dia espetacular pra ciencia....e muito bonito, higgs tava la pra ver...

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  3. obrigada querido! Realmente, imagina a emoção de ver alguma coisa que pode mudar o mundo, por que vc imaginou, trabalhou... e acertou!

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  4. Cris, Rafael veio nos visitar, foi otimo!
    O meu primeiro comentario saiu truncado, detesto essa interface do blog que nao permite editar os comentarios...quis dizer que fabiola disse ao fim do talk: obrigado, natureza .. que maneira de terminar uma palestra nao? vou mandar fazer uma camiseta pra mim...

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    Respostas
    1. Dá pra fazer duas? Que fantástico agradecer a natureza e não ao seu próprio ego! Afinal, somos apenas observadores e hipotetizadores, as respostas estão ai, na natureza, nosso papel é observar da maneira correta para encontra-las. Amei o post! Devagarinho vamos nos flexibilizando e não nos tornando cegos com os conhecimentos pré-concebidos. E viva a evolução :)

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  5. Cris
    ótimos post!Parei um bom tempo do dia para pensar sobre isso.
    A dúvida é o primeiro passo para um "bum" na ciência e muita coisa ter que ser revista. Outra coisa, acho que o mais difícil, é colocar uma contra prova bem argumentada na comunidade científica. A história da ciência é a prova disso. Mas isso não significa que seja impossível,muitos dos grandes nomes pensaram nisso, é necessário apostarmos nossas fichas em nossas ideias e fazermos uma auto-crítica, sem arriscar não se muda nada.
    Também sou otimista , pode mudar, devemos mudar!
    Abraço

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  6. Oi Cris! Muito legal trazer um pouco de física para a Imuno, apesar das duas coisas não serem nada excludentes. Pelo contrário, a Imuno depende muito da física.
    Enfim, estava lendo mais sobre a partícula de Deus e já achei curioso cientistas colocarem esse nome em algo a ser descoberto. Acabei encontrando no site da BBC uma matéria muito legal sobre a grande de descoberta. Ver o vídeo do Sr. Higgs chorando foi muito legal. No site também tem um video do Stephen Hawking comentando o assunto e um vídeo deles didático explicando o que é o Bóson de Higgs. Ai vai o link:

    http://www.bbc.co.uk/news/world-18702455

    Bjs

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  7. Parabéns pelo post Profa. Cristina.
    Lendo o post e os comentários fiquei pensando em quantos nomes (cientistas e conceitos) e hipóteses e experimentos fazem a história da ciência e moldaram nossa forma de ver o mundo.
    E quanto nós sabemos disso tudo? E as pessoas que não trabalham diretamente com ciência ou áreas afins no seu dia a dia, quanto sabem?
    Para recuperar a paixão pela ciência e disseminar essa informação, uma iniciativa pretende (re)apresentar grandes cientistas e suas descobertas de uma maneira que inevitavelmente nos apaixona: fazendo experimentos. A inicitiva baseia-se na coleção "Os Cientistas", lançada pela Abril nos anos 70 (maiores informações a partir de http://blogs.estadao.com.br/daniel-martins-de-barros/abaixo-a-ignorancia-pela-volta-da-colecao-os-cientistas/)
    Eu não conheci essa coleção e confesso que a compraria.
    Me lembro que quando era criança existia o "Ciranda da Ciência" da Fundação Roberto Marinho. Bastava se inscrever para receber em casa instruções (e até reagentes) acompahadas de um fascículo instrutivo para fazer experimentos, pensar sobre a experiência realizada e confeccionar um relatório (ok, relatório não é a parte mais animadora, rs).
    Enfim, tomara que essas inicitativas retornem e reconquistem espaço na era da internet e da informação 'fast-food'.

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  8. Valeu pelos comentarios, e é muito legal alem de ouvir o entusiasmo do lira ver a garotada se emocionando com a ciencia. É isso aí gente, este trabalho é árduo, mas não tem nada igual! bjs

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  9. Carolina torronteguy6 de julho de 2012 às 01:13

    Cris! Excelente!
    Teu post me lembrou uma frase do Einstein: "Para construir caminhos é necessário sair dos trilhos".
    Sem dúvida temos muito a aprender com os físicos. Adoro a série de livros do Fritjof Capra que fala sobre a importância da mudança de paradigmas no avanço científico e questiona a lentidão da área da biologia/ saúde em relação a fîsica no que se refere a ter uma open mind científica.
    Bjo
    Carolina Torronteguy

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