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quarta-feira, 18 de julho de 2012

Efeitos inesperados do Foxp3


O fator de transcrição Foxp3 apresenta um papel central na diferenciação e função das células T reguladoras (Tregs). Esse fator de transcrição é conhecido por modular a expressão de inúmeros genes, bem como a sua própria expressão, agindo de maneira direta ou interagindo com outras proteínas. Entretanto, a contribuição fisiológica e o impacto dessas interações em moldar o desenvolvimento e a função das Tregs e seu possível impacto em patologias ainda não estão totalmente esclarecidos. Dois estudos recentes publicados na revista Immunity mostram os efeitos inesperados do uso do gene repórter Foxp3-EGFP em diferentes backgrounds genéticos de camundongos.
 O camundongo Foxp3gfp é muito utilizado pela comunidade científica, pois permite o acompanhamento e a análise das Tregs in vivo. A proteína Foxp3-EGFP é resultado de uma fusão do GFP à região amino-terminal do Foxp3. Esta fusão, como demonstrado, resulta em alterações nas interações descritas desta proteína.
O trabalho de Jaime Darce demonstrou que há uma redução na severidade da artrite induzida em camundongos K/BxN.Foxp3fgfp e o agravamento do diabetes nos camundongos NOD.Foxp3fgfp. Esses efeitos têm relação com alterações surgidas nas interações do Foxp3-EGFP com outros fatores de transcrição. Os resultados mostram um aumento da ligação de Foxp3-EGFP com o IRF4 (fator regulador de insulina 4) resultando na transcrição aumentada de genes regulados por esse fator de transcrição, alterando assim a resposta das Tregs. Acredita-se que as alterações causadas pela adição de EGFP apresentaram efeitos diferentes nos modelos experimentais de diabetes e artrite dado ao diferente contexto imunológico característico de cada uma das condições patológicas.
De maneira similar o trabalho de Matthew Bettini observou um desenvolvimento acelerado de diabetes nos camundongos NOD.Foxp3fgfp. Além disso, o desenvolvimento das Tregs naturais provenientes do timo e a indução das Tregs na periferia foram prejudicados. Neste estudo a proteína Foxp3-EGFP apresentou reduzidas interações com a histona acetiltransferase Tip60, a histona deacetilase 7 e o fator de transcrição Eos. Essas alterações resultaram em modificações no transcriptoma das Tregs e ocasionaram sua resposta deficiente.
Esses dois grupos destacam a importância de se preservar as interações do Foxp3 com outras proteínas reguladoras para o correto programa transcricional das Tregs e ressaltam a necessidade de se reavaliar estudos prévios que utilizaram com ferramenta esse gene repórter.
Para os que se interessam pelo assunto vale à pena dar uma olhada em mais essa novidade!

 
Paula Barbim Donate
Pós-Doutoranda do Laboratório de Inflamação e Dor
Departamento de Farmacologia - FMRP/USP


Referências:
Darce JRudra DLi LNishio JCipolletta DRudensky AYMathis DBenoist C. An N-Terminal Mutation of the Foxp3 Transcription Factor Alleviates Arthritis but Exacerbates Diabetes. Immunity. 36(5):731-41, (2012).

Bettini MLPan FBettini MFinkelstein DRehg JEFloess SBell BDZiegler SFHuehn JPardoll DMVignali DA. Loss of Epigenetic Modification Driven by the Foxp3 Transcription Factor Leads to Regulatory T Cell Insufficiency. Immunity. 36(5):717-30 (2012).

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Um comentário:

  1. Muito bem! hoje mesmo surgiu esta discussão durante o Curso de Inverno, se haveria a possibilidade da introdução de um gene reporter alterar a função da proteína avaliada!

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