Usando reagentes comuns de laboratório, um
pesquisador japonês recentemente encontrou um método para fabricar tecidos
transparentes.
Alguns anos atrás, um colega chegou até o
pesquisador japonês Atushi Miyawaki com uma observação simples. Enquanto estava
fazendo um experimento de western blot com géis, ele notou que a propriedades
de dispersão da luz dos géis desapareciam quando eram submergidos numa solução
contendo uréia. Então, Miyawaki se perguntou se a solução de uréia poderia
também reduzir a dispersão de luz de tecidos, o que permitiria aos
pesquisadores ter uma visão mais profunda de um organismo para observar sua
fisiologia de uma forma mais ampla.
A partir dessa hipótese, Miyawaki e
seus colaboradores do Cell Function
Dynamics Laboratory, RIKEN Brain Science Institute no Japão desenvolveram
um reagente clarificante capaz de tornar tecidos transparentes sem afetar as
técnicas fluorescentes de marcação. Os pesquisadores descobriram que uma mistura
de uréia, glicerol e tensioativo tornava membranas sintéticas transparentes.
Quando eles aplicaram a mistura em fetos de camundongos, observaram que a
solução removia todo o pigmento dos tecidos, fazendo com que se tornassem
transparentes.
Diz Miyawaki: “Métodos convencionais são laboriosos e difíceis para produzir
reconstruções tridimensionais de tecido cerebral. Por outro lado, durante a
obtenção de seções óticas, a penetração dos tecidos é um desafio, pois a
realização de imagens mais profundas é limitada pela dispersão da luz. Foi
quando surgiu a idéia de se usar a solução de uréia para diminuir as
propriedades de dispersão da luz. Uréia é um reagente de laboratório muito
comum e barato usado para desnaturar proteínas. Em animais, a uréia é um
metabólito de compostos nitrogenados, eliminado pela urina.”
A descoberta do cientista japonês interessa particularmente
os neurobiologistas, porque o reagente promete revelar a estrutura do sistema
nervoso sem as limitações das técnicas de análise de seções de tecidos
convencionais. Miyawaki e seus colaboradores passaram anos desenvolvendo a fórmula
que levaria a uma clarificação total dos tecidos, preservando as funções da
proteínas fluorescentes. Em artigo científico publicado na Nature Neurobioscence,
em Setembro de 2011, usando o reagente clarificante denominado Scale, o grupo
do cientista japonês produziu imagens de neurônios marcados com fluorescência
em tecido cerebral fixado de camundongos a uma profundidade de 4mm.
Pela facilidade de obtenção e custo baixo do
reagente, alguns laboratórios ao redor do mundo já estão testando as
propriedades da solução clarificante. A Scale não é patenteada e como os
reagentes da solução estão apresentados no artigo, qualquer pesquisador pode
modificar a fórmula, caso haja necessidade de aplicação em outros tipos de
amostras. Uma vez que a fórmula está disponível para todos, Miyawaki espera dar
aos pesquisadores flexibilidade para desenvolver novas aplicações para a
solução.
Referência:
Hama H, Kurokawa H, Kawano H, Ando R, Shimogori
T, Noda H, Fukami K, Sakaue-Sawano A, Miyawaki A. 2011. Scale: a
chemical approach for fluorescence imaging and reconstruction of transparent
mouse brain. Nat Neurosci. 14:1481-8.
proximo passo eh deixar o bicho transparente e vivo...
ResponderExcluirAndréa, sensacional! Concordo com a Cris, um bicho transparente e vivo ia ser uma revolução. Por mais que temos em mãos hoje em dia tecnologias para a observação de fluorescência em animais vivos, a pele e os pelos ainda são grandes barreiras. De qualquer forma, pela simplicidade do protocolo, a aplicabilidade da técnica é fantástica.
ResponderExcluirParabéns pelo post!
Fantástico! especialmente pelo fácil acesso a metodologia, sem o impasse de patentes e falta de clareza na metodologia. Isso que é ciência altruísta!
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