O ano de 2011 foi marcado como o ano da imunidade inata. Isso se deve principalmente pelo fato do Premio Nobel em Medicina e Fisiologia ter sido outorgado aos cientistas que contribuíram para o nascimento de uma nova e revolucionária visão da resposta imune em mamíferos.
Qualquer um de nós que trabalha com TLRs ou Inflammasomes consegue ter uma noção do quanto a descoberta destes cientistas foi essencial.
Recentes acontecimentos no entanto colocam em cheque a probidade de um dos premiados e com isso a forma com que todo o processo seletivo e a premiação são realizados.
O laureado imunologista francês Dr. Jules Hoffmann (à direita na foto) tem sido alvo de acusações de ninguém mais, ninguém menos do que o 1o autor do paper que lhe rendeu a premiação, Dr. Bruno Lemaitre (à esquerda na foto).
Lemaitre, que trabalhou por 6 anos como pesquisador associado no laboratório de Hoffmann no National Centre for Scientific Research (CNRS) em Estrasburgo, na França, afirmou que por grande parte deste tempo ele foi o único pesquisador a trabalhar com Toll e Drosophila. Segundo Lemaitre, Hoffmann nunca expressou qualquer interesse e, na maior parte do tempo, esteve alheio ao seu trabalho. No entanto, é Hoffmann que hoje goza dos louros obtidos pelo do estudo.
“Jules never provided any ideas for my project, being very far from the realities of experimental bench work…[and] was not very supportive of the genetics approach I had undertaken...”
Trecho de uma entrevista cedida por Lemaitre ao The-scientist em que Bruno discorre sobre os acontecimentos que antecederam a premiação e o trabalho que rendeu o Nobel a Hoffmann.
“Subsequently, he has never been able to fully recognize my contribution, yet somehow it is he who is now collecting the honours for my work.”
Bruno ainda apresenta uma série de documentos recolhidos durante o tempo em que trabalhou no CNRS que dão suporte às suas alegações.
“Like traditional French laboratories, the Hoffmann lab was organised into subteams. This series of organograms clearly shows that the work on Toll was not the laboratory’s priority during 1992-1995. None of the lab’s key technicians, nor its “best” PhD students, were injected into the Toll project at that time. For instance in September 1993, none of the 7 students starting their PhDs or DEA (masters) began work on a genetics-based project, at a time when I was already working on Toll!”
“Acknowledgements and any credit go in priority to members known to be fully devoted to the ‘chief’ rather than to those who actually did the work. In a way, this is reminiscent of the story about an army general, who always stays two men away from the battle."
Parte de um texto publicado no website criado por Lemaitre para expressar suas frustrações com relação a entrega do premio.
“For a long time now, I have wanted to express my feelings about events relating to my work on immunity in Drosophila and the Cell 1996 paper in which the role of Toll in the antifungal response is described. The 2011 Nobel prize has now precipitated my response. I know some of you may think this is a little too late, but this has not been easy for me. Even now, I do not know whether it is such a good idea to raise these issues.I have set up a website where you will find background information relating to this matter (points 1 and 2). I have also included personal perspectives about these key discoveries and how they have been ‘marketed’ (points 3 and 4). Now that I have finally written these texts, I understand better why I have had such mixed feelings about the choice of the Nobel Laureates However, this website is also a way for me to turn the page and move on with a lighter heart.”
Qualquer um de nós que trabalha com TLRs ou Inflammasomes consegue ter uma noção do quanto a descoberta destes cientistas foi essencial.
Recentes acontecimentos no entanto colocam em cheque a probidade de um dos premiados e com isso a forma com que todo o processo seletivo e a premiação são realizados.
O laureado imunologista francês Dr. Jules Hoffmann (à direita na foto) tem sido alvo de acusações de ninguém mais, ninguém menos do que o 1o autor do paper que lhe rendeu a premiação, Dr. Bruno Lemaitre (à esquerda na foto).
Lemaitre, que trabalhou por 6 anos como pesquisador associado no laboratório de Hoffmann no National Centre for Scientific Research (CNRS) em Estrasburgo, na França, afirmou que por grande parte deste tempo ele foi o único pesquisador a trabalhar com Toll e Drosophila. Segundo Lemaitre, Hoffmann nunca expressou qualquer interesse e, na maior parte do tempo, esteve alheio ao seu trabalho. No entanto, é Hoffmann que hoje goza dos louros obtidos pelo do estudo.
“Jules never provided any ideas for my project, being very far from the realities of experimental bench work…[and] was not very supportive of the genetics approach I had undertaken...”
Trecho de uma entrevista cedida por Lemaitre ao The-scientist em que Bruno discorre sobre os acontecimentos que antecederam a premiação e o trabalho que rendeu o Nobel a Hoffmann.
“Subsequently, he has never been able to fully recognize my contribution, yet somehow it is he who is now collecting the honours for my work.”
Bruno ainda apresenta uma série de documentos recolhidos durante o tempo em que trabalhou no CNRS que dão suporte às suas alegações.
“Like traditional French laboratories, the Hoffmann lab was organised into subteams. This series of organograms clearly shows that the work on Toll was not the laboratory’s priority during 1992-1995. None of the lab’s key technicians, nor its “best” PhD students, were injected into the Toll project at that time. For instance in September 1993, none of the 7 students starting their PhDs or DEA (masters) began work on a genetics-based project, at a time when I was already working on Toll!”
“Acknowledgements and any credit go in priority to members known to be fully devoted to the ‘chief’ rather than to those who actually did the work. In a way, this is reminiscent of the story about an army general, who always stays two men away from the battle."
Parte de um texto publicado no website criado por Lemaitre para expressar suas frustrações com relação a entrega do premio.
“For a long time now, I have wanted to express my feelings about events relating to my work on immunity in Drosophila and the Cell 1996 paper in which the role of Toll in the antifungal response is described. The 2011 Nobel prize has now precipitated my response. I know some of you may think this is a little too late, but this has not been easy for me. Even now, I do not know whether it is such a good idea to raise these issues.I have set up a website where you will find background information relating to this matter (points 1 and 2). I have also included personal perspectives about these key discoveries and how they have been ‘marketed’ (points 3 and 4). Now that I have finally written these texts, I understand better why I have had such mixed feelings about the choice of the Nobel Laureates However, this website is also a way for me to turn the page and move on with a lighter heart.”
Bruno Lemaitre Lausanne, December 4th 2011
Até o momento, Hoffmann não se pronunciou à respeito do assunto. Procurado por uma revista ScienceInsider, o pesquisador se recusou a responder às acusações de Lemaitre sobre a alegação: “would not be elegant”.
Quem quiser ler mais: Mixed feelings about the Nobel Prize, 2011
CARACA!!!!
ResponderExcluirOlá Bernardo. Isso é muito comum. Bem mais frequente do que imagina. O exemplo do general expressa exatamente o que acontece. Resta saber se Lemaitre seria capaz de fazer os estudos em outro laboratório e também se ele publicaria na Immunity e na Cell se ele não estivesse no laboratório que estava.
ResponderExcluirFrequentemente, o interesse de uma chefe de um laboratório surge quando o mesmo nota interesse externo nos dados/trabalho do seu grupo que até então passava-se despercebido. E de repente, o treco vira prioridade. Às vezes há o crédito merecido, às vezes não. As relações de poder e hierarquia na ciência são bem complexas e, porque não são claras, constantemente ouvimos falar de situações parecidas com essa.
Abraço
Olá Bruno,
ResponderExcluirEu concordo com vc. Inclusive, eu até dou razão ao Lemaitre de ficar frustrado e com raiva, e até acho q ele tem direito a expressar sua frustração. No entanto, não concordo com a forma q ele fez. Afinal, todo mundo sabe que o mérito é sim também do grupo de pesquisa, do laboratório, dos técnicos e de toda a equipe envolvida. E o Lemaitre a todo momento fala coisas como "EU fiz isso, EU fui responsável por aquilo outro, etc..."
Todo mundo sabe que é impossível ele ter feito o trabalho sozinho. E mais.. A maneira em que o Nobel é concedido é exatamente essa. Ele é dado ao representante do laboratório, da equipe. O cara q representa o local e as condições (especialmente financeiras) em que o trabalho foi feito.
Afinal, sem os Grants do Hoffmann, o Lemaitre mal poderia manter um insetário para realizar o trabalho.
Há sempre dois lados em uma história.
Bernardo, obrigado de novo. Gostei do seu post. Acredito que vai ficar cada vez mais dificil decidir quem merece. Luke o'Neill disse que nesse caso podia pensar em pelo menos 5 pessoas que mereciam.
ResponderExcluirAgora, in the long run estamos todos mortos...Alguem ai lembra do Nobel de Medicina de 1935?
Consigo entender perfeitamente o Bruno Lemaitre. Porém, tudo o que ele relatou já foi vivenciado por todos aqueles que já trabalharam em grandes laboratórios. Acho curioso que ele o mesmo critério utilizado por ele para criticar o Hoffman (a pouca atenção dada ao seu trabalho) tenha sido, provavelmente, a mola propulsora de tudo: a sua total liberdade para testar hipóteses. Uma das maiores críticas à ciência brasileira é a falta de liberdade que temos para testar hipóteses. Porém, no nosso caso, essa falta de liberdade é fruto, na maior parte das vezes, da falta de recursos que nos leva a repetição do que já esta publicado. Será que o Lemaitre gostaria que o Hoffman passasse o tempo todo atrás dele olhando por cima de seus ombros e checando o que ele estava fazendo? Ou que o Hoffman desenhasse num guardanapo o experimento que o Lemaitre deveria fazer? Certamente nao!
ResponderExcluirÉ assim que funciona, alguém consegue o dinheiro pro lab e se for inteligente deixa os bons pós-docs travalharem durante tempo suficiente para os primeiros resultados aparecerem.
De tudo o que foi dito pelo Lemaitre eu concordo com duas coisas: a transformação de alguns personagens em heróis e a estrutura extremamente hierarquica da ciência francesa. Ainda hoje, existe a figura do grande chefe de unidade com um número absurdo de sub-grupos sob o seu guarda chuva. Grandes talentos acabam abandonando a pesquisa por simplesmente não conseguirem furar essa estrutura arcaica.
Abs
PS. Meus escolhidos seriam: Hoffman, Medzhitov, Akira e Beutler
Concordo que o Akira deveria ter sido incluído. O Medzhitov eu tenho minhas dúvidas.
ResponderExcluir``Todo mundo sabe que é impossível ele ter feito o trabalho sozinho` Eu também concordo com vc Franklin…
ResponderExcluirPois é GK,
ResponderExcluirComo eu disse: dou razão ao Lemaitre por sua frustração. Não sei como eu reagiria se estivesse na posição dele. Deve ser algo que te consome a todo dia pensar que o trabalho em que vc teve participação rendeu um premio Nobel e seu nome foi muito pouco ou nada citado. Deve ser o fim do fim mesmo.
Eu provavelmente faria alguma manifestação como ele fez. Entretanto, se formos avaliar direitinho,é uma situação muito delicada. Pode ser que ele tenha perdido mais com isso. Possivelmente ele se queimou entre os que trabalham na área e isso pode ter um preço ainda maior pra ele do que não ter sido citado no Nobel. Pode ser difícil pra ele conseguir colaborações e grants daqui pra frente. Certamente ele perdeu o apoio do chefe e de toda a equipe que, mesmo de forma menos significativa, ajudou no trabalho.
É difícil avaliar os resultados que a reação dele vão gerar.
Como também é difícil julgar a reação dele dizendo que não faríamos isso, etc.. Afinal, que dá uma raiva, isso dá....
COLOCAM "EM XEQUE" E NÃO "EM CHEQUE"
ResponderExcluirSe pensarmos em termos de "in the long run", não se faz é nada na vida, pois estamos todos, inclusive nossas ações, fadadas ao esquecimento eterno.
ResponderExcluirCorretissimo, companheiro anonimo. Portanto porque nao focar a discussao em descobrir?
ResponderExcluirDescobrir, aprender, e compartir, no meu entender sao mais importantes que ganhar