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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ciência aberta, ciência fechada

Volto a um assunto que já foi comentado aqui no SBI Blog, mas dois artigos recentes no NYTimes chamaram a minha atenção. O primeiro, com o título de “Cracking Open the Scientific Process”, fala sobre o processo “tradicional” de publicação de artigos científicos, e a briga com os promotores da “ciência aberta” (http://www.nytimes.com/2012/01/17/science/open-science-challenges-journal-tradition-with-web-collaboration.html?ref=science). O artigo faz uma promoção bem pouco velada do site ResearchGate, que é chamado de “Facebook para cientistas”. Ainda não usei este site, talvez seja assunto para um outro blog. Mas acho que os pontos levantados pelo artigo são válidos, e provavelmente se tornarão cada vez mais importantes para a divulgação dos resultados científicos. Até que ponto o modelo de publicação tradicional, onde a maneira principal de divulgação científica é através da publicação em jornais com modelo comercial, vai continuar sendo o meio dominante? Os jornais funcionam efetivamente como “filtros” do processo científico. A lentidão, custo e inflexibilidade deste processo são citados como obstáculos à divulgação científica. Um aspecto relacionado, mas específico à pesquisas financiadas com dinheiro público, foi levantado pelo Michael B. Eisen uma semana antes (http://www.nytimes.com/2012/01/11/opinion/research-bought-then-paid-for.html). Ele comenta o fato destas pesquisas serem pagas pelo governo, e os revisores, que trabalham de graça, são muitas vezes também financiados pelo governo. Mas os jornais cobram (e não pouco), do governo e do público em geral, pelo acesso a estas pesquisas. O governo (público) acaba pagando 2 vezes pelo mesmo “produto”. Sem falar que muito do trabalho gráfico tambem é nas nossas costas agora.

Mas o processo está mudando. Um trabalho que refuta o trabalho publicado na Science que descreveu bactérias que sobreviveriam usando arsênico, ao inves de fósforo, está sendo publicado em um blog (http://rrresearch.fieldofscience.com/). A autora do trabalho, Rosie Redfield, da Universidade da Columbia Britânica em Vancouver, diz que vai submeter o trabalho para a Science, num caso que pode se tornar um teste para a ciência aberta. As questões vão então aparecendo. Discussão de resultados em blog desqualificaria um trabalho para ser publicado? Jornais de acesso livre como os Plos são uma opção, mas o custo para publicar o artigo pode ser um deterrente para alguns autores. E como seria, e quem seria responsável, pela preservação dos trabalhos na internet? E seja lá como for a publicação, acredito que algum processo de seleção vai ser necessário. Já é difícil seguir a literatura agora, imagine se a publicação se tornar mais livre. Vamos ver (e participar de) como este processo se desenrola.

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5 comentários:

  1. Muito bom esse seu post Cláudia e num momento oportuno.
    Parabéns.

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  2. Quanto mais a nova geração entrar no meio decisivo da ciência, mais esta tende a tornar todos os processos mais descentralizados e "conectados". Precisamos pensar em uma maneira de usar o melhor dos dois mundos, rigor cientifico e transparência

    Obrigado pelo post

    Anônimo

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  3. E viva a ciência aberta!

    No meu mundo ideal, cada cientista teria o seu próprio blog e publicaria os seus resultados. A comunidade, como um todo, julgaria a pertinência, relevância e acuidade dos resultados... e poderia-se mensurar tudo isso por meio de audiência e citações.

    Quem sabe um dia chegaremos a esse modelo.

    Ótimo post, Cláudia!

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    Respostas
    1. Apoiado esse mundo ideal Prof. Mineo. Assim, também seria possível a comunidade científica ter acesso aos "descartados" resultados negativos, que ficam perdidos nas gavetas e só os componentes do grupo, ou nem todos estes, ficam conhecendo. Quem sabe diminua a perda de tempo e dinheiro tentando fazer o que já fizeram mas nao conseguiram publicar.
      Adorei o Post, Cláudia! Parabéns pela escolha do tema.

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    2. Obrigada pessoal! Quem sabe nao poderiamos comecar um espaco assim, onde os brasileiros poderiam discutir seus resultados, trocar ideias. ao sei se ja existe...
      E realmente, acho que espaco para os resultados negativos e sem duvida importante. Abracos, Claudia

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