Após uma infecção viral, linfócitos T CD8+ dão origem a células citotóxicas efetoras ao reconhecer peptídeos apresentados no contexto de moléculas de MHC de classe I expressas por células apresentadoras de antígeno (APCs). As APCs profissionais, altamente especializadas em promover a ativação destes linfócitos T, executam essa tarefa, segundo uma visão mais tradicional, de dois modos distintos. Uma primeira maneira seria a dita apresentação direta, quando a APC adquiri o antígeno porque ela própria foi infectada. A outra seria a apresentação cruzada, quando a APC fagocita uma segunda célula infectada e o antígeno é transferido para o seu citoplasma, processado e por fim passa a ocupar a fenda da molécula de classe I para que a apresentação ocorra. No entanto, já há algum tempo, uma terceira via de apresentação tem sido discutida. Por ela, uma APC não infectada seria capaz de realizar a apresentação antigênica por meio da transferência do complexo MHC-peptídeo já formado e posicionado na membrana de uma outra célula infectada. Em outras palavras, o complexo MHC-peptídeo já formado seria transferido da célula infectada para a APC não infectada e, deste modo, o antígeno poderia ser apresentado sem a necessidade de processamento adicional. Em inglês, este processo recebeu o nome de cross-dressing, em referência à "troca de roupagem" (moléculas de MHC) entre as células.
Alguns artigos já haviam demonstrado com experimentos in vitro a ocorrência deste fenômeno. Agora, neste último número da revista Nature, Linda M. Wakim e Michael J. Bevan voltam a abordar o tema em um artigo muito interessante. O estudo também conta com experimentos in vitro que confirmam em parte os dados anteriores e, além disso, agrega outras evidências experimentais demonstrando que após uma infecção viral em camundongos, cross-dressed DCs (CD11c+) são capazes de apresentar antígenos virais e promover a expansão de células T CD8+ de memória. Seguem as informações sobre o original, e também sobre um comentário, para os que se interessaram pelo assunto.
Linda M. Wakim e Michael J. Bevan. Cross-dressed dendritic cells drive memory CD8+ T-cell activation after viral infection. Nature 471, 629-632. doi: 10.1038/nature09863
Jonathan W. Yewdell e Brian P. Dolan. Cross-dressed turn on T cells. Nature 471, 581-582. doi:10.1038/471581a
Estou acompanhando a pouco tempo o blog, mas cada vez mais me apaixono pela imunologia e pelo trabalho desenvolvido pelo blog. Vocês estão de parabéns!! E sobre o assunto acima... as DCs cada vez mais nos surpreendendo, a capacidade destas células é incrível!!
ResponderExcluirÓtima postagem. Muito esclarecedora em relação ao termo cross-dressed = )
ResponderExcluir