Há limites para a ciência? Estariam os pesquisadores preparados para produzir tecidos e órgãos humanos in vitro a partir de células-tronco totipotentes? Imaginem o anúncio de que fora feito o primeiro transplante de coração produzido em laboratório. Alguns diriam em uníssono: “maravilhoso!”; os anticlericais, agnósticos e ateus, em tom irônico, bradariam: “divino!”; outros, no entanto, ficariam em inércia mental, sem entender o que estava acontecendo. Essa possibilidade nos remete ao embate ardiloso travado entre ciência e religião. Até onde uma pode interferir na outra?
Se houvesse um plebiscito acerca da liberação de pesquisas com células-tronco, provavelmente os mais religiosos as recriminariam, alegando que o homem estaria mais uma vez “brincando” de Deus, enquanto os menos conservadores e menos apegados à religião provavelmente apoiariam tais pesquisas, ao crer que esse ato não seria ofensivo a qualquer tipo de manifestação religiosa. Além disso, ninguém pode negar que órgãos ou tecidos feitos in vitro poderão salvar milhões de vidas num futuro próximo.
Revolucionário. Moderno. Panacéico. Adjetivos não faltam para caracterizar a utilização de células-tronco para fins terapêuticos, uma técnica capaz de mudar o mundo da medicina regenerativa. As opiniões sobre o tema, porém, são sempre muito polêmicas e divergentes, como pode ser evidenciado nas charges abaixo – o propósito das charges é o de deixar o assunto mais descontraído. O primeiro cartunista é visivelmente contra as pesquisas com células-tronco, enquanto o segundo as defende veementemente.
Trago à tona essa questão porque Eiraku e colaboradores conseguiram, pela primeira vez, gerar retinas inteiras de camundongos em laboratório, o que os possibilitou estampar seu trabalho na capa da nature desse mês (aqui). A partir do cultivo de células-tronco embrionárias na presença de fatores de crescimento, o ectoderma e o neuroepitélio tornam-se mais espessos e sofrem invaginação para formar a retina primitiva (optic cup). A camada mais externa origina o epitélio pigmentado da retina, e a camada mais interna origina a retina neural, que é formada por fotorreceptores, interneurônios e células ganglionares (ver figura abaixo).
Retorno, portanto, à questão levantada no início do texto: há limites para a ciência? Vou além: a pesquisa está no caminho certo? A religião deve mesmo intervir em questões científicas? O transplante de órgãos e tecidos produzidos em laboratório pode gerar complicações para o transplantado? As interrogações são muitas, as respostas são poucas, mas entre as concepções estabelecidas pela igreja e aquelas estabelecidas pela ciência, eu certamente fico com a ciência.
Post Scriptum: a intenção do post não é disseminar a cizânia entre religiosos e céticos, mas sim discutirmos acerca de princípios éticos que norteiam a pesquisa e dos possíveis benefícios que a medicina regenerativa trará para a população.
Post de Tiago Medina - FMRP: IBA
valeu cara!!!
ResponderExcluira religião sempre atrasou e continua atrasando avanços científicos e tecnológicos...eu, indubitavelmente, fico com a ciência!
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