Post por Bernardo Sgarbi Reis
Células cancerígenas utilizam de diversos mecanismos para escapar apoptose e migrar através de estruturas normais enquanto evadem a resposta imune do hospedeiro. No entanto, esses mecanismos não são completamente entendidos. Um modelo interessante para melhor entender como células malígnas podem proliferar e metastatizar sem serem detectadas pelo sistema imune do hospedeiro é a gravidez humana, no qual a placenta invade o útero e o semi-alogênico feto escapa uma rejeição pelo sistema imune materno. Diversas propriedades imunomodulatórias na interface feto-materna (placenta) têm evoluído para permitir a sobrevivência do feto durante a gestação. As similaridades entre os mecanismos envolvidos no desenvolvimento do câncer e da placenta são intrigantes e sugerem um padrão comum.
Assim como células tumorais, células do trofoblasto possuem uma alta capacidade proliferativa e exibem características moleculares comuns às encontradas em células cancerígenas com divisão rápida. Um exemplo é o aumento de atividade da telomerase, tipicamente observada durante o desenvolvimento da placenta e também na maioria dos cânceres humanos. Além de características proliferativas e invasivas similares, células do trofoblasto e células cancerígenas modulam ativamente a resposta imune do hospedeiro. A célula imune mais abundante na interface feto-materna é a células NK uterina (uNK). Células uNK são distintas das células NK da periferia por não expressar CD16, o receptor FcR*IIIA, responsável pela citotoxidade dependente de anticorpos, possivelmente pelos altos níveis de TGF-beta encontrados no microambiente placentário. Também ao contrário das células NK periféricas, uNK possuem características mais imunomodulatórias ao invés de citotóxicas, secretando galectina 1 o qual induz células dendríticas tolerogênicas. Células NK CD16 negativas também foram caraterizadas no infiltrado tumoral e apresentam comportamento similares à uNK.
Células T reguladoras (Treg) também participam do processo de tolerância observado tanto na gravidez quanto no câncer. Durante a gravidez, a população de células Treg é expandida tanto na região placentária quanto na periferia. Essa expansão é antígeno específica e induzida por aloantígenos feto-paternos. Treg também são expandidas durante o câncer e estão implicadas em promover supressão da imunidade anti-tumoral e aumento da densidade de vasos no tumor, sugerindo uma importante correlação entre imunidade e angiogênese. Acredita-se que a ativação e proliferação de Treg em pacientes com câncer seja também antígeno específica.
As similaridades encontradas entre os processos de gravidez e câncer tornam o modelo de desenvolvimento da placenta importante para o estudo do câncer. Uma melhor compreensão dos processos biológicos envolvidos no desenvolvimento da placenta e principalmente dos mecanismos imunomodulatórios ativados durante a gestação poderiam trazer novos e importantes conhecimentos para a biologia do câncer. Será o câncer uma célula somática grávida?
Células cancerígenas utilizam de diversos mecanismos para escapar apoptose e migrar através de estruturas normais enquanto evadem a resposta imune do hospedeiro. No entanto, esses mecanismos não são completamente entendidos. Um modelo interessante para melhor entender como células malígnas podem proliferar e metastatizar sem serem detectadas pelo sistema imune do hospedeiro é a gravidez humana, no qual a placenta invade o útero e o semi-alogênico feto escapa uma rejeição pelo sistema imune materno. Diversas propriedades imunomodulatórias na interface feto-materna (placenta) têm evoluído para permitir a sobrevivência do feto durante a gestação. As similaridades entre os mecanismos envolvidos no desenvolvimento do câncer e da placenta são intrigantes e sugerem um padrão comum.
Assim como células tumorais, células do trofoblasto possuem uma alta capacidade proliferativa e exibem características moleculares comuns às encontradas em células cancerígenas com divisão rápida. Um exemplo é o aumento de atividade da telomerase, tipicamente observada durante o desenvolvimento da placenta e também na maioria dos cânceres humanos. Além de características proliferativas e invasivas similares, células do trofoblasto e células cancerígenas modulam ativamente a resposta imune do hospedeiro. A célula imune mais abundante na interface feto-materna é a células NK uterina (uNK). Células uNK são distintas das células NK da periferia por não expressar CD16, o receptor FcR*IIIA, responsável pela citotoxidade dependente de anticorpos, possivelmente pelos altos níveis de TGF-beta encontrados no microambiente placentário. Também ao contrário das células NK periféricas, uNK possuem características mais imunomodulatórias ao invés de citotóxicas, secretando galectina 1 o qual induz células dendríticas tolerogênicas. Células NK CD16 negativas também foram caraterizadas no infiltrado tumoral e apresentam comportamento similares à uNK.
Células T reguladoras (Treg) também participam do processo de tolerância observado tanto na gravidez quanto no câncer. Durante a gravidez, a população de células Treg é expandida tanto na região placentária quanto na periferia. Essa expansão é antígeno específica e induzida por aloantígenos feto-paternos. Treg também são expandidas durante o câncer e estão implicadas em promover supressão da imunidade anti-tumoral e aumento da densidade de vasos no tumor, sugerindo uma importante correlação entre imunidade e angiogênese. Acredita-se que a ativação e proliferação de Treg em pacientes com câncer seja também antígeno específica.
As similaridades encontradas entre os processos de gravidez e câncer tornam o modelo de desenvolvimento da placenta importante para o estudo do câncer. Uma melhor compreensão dos processos biológicos envolvidos no desenvolvimento da placenta e principalmente dos mecanismos imunomodulatórios ativados durante a gestação poderiam trazer novos e importantes conhecimentos para a biologia do câncer. Será o câncer uma célula somática grávida?
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