O IFN-β é a principal terapia
para pacientes portadores da Esclerose Múltipla (MS, em inglês) em todo o
mundo. Desde o início da sua utilização, milhares de pessoas possuem melhoras
significativas de seus quadros clínicos frente ao uso deste potente
imunobiológico. O curioso é que, apesar de muitas pessoas portadoras da doença
se beneficiarem com seu uso, o IFN-β é efetivo apenas em 2/3
dos pacientes que os utilizam, enquanto que, dentre o 1/3 que não se
beneficiam, alguns exibem até uma piora de seu quadro clínico...Mas, por que
alguns pacientes respondem bem a esta terapia, e outros não?
Baseando-se nesta questão, o grupo da Universidade de Stanford, liderado
por Robert Axtell e Chander Raman, investigou os efeitos do IFN-β
sobre células Th1 e Th17, populações de células importantes na patogenia da MS.
Os autores demonstram que IFN-β é capaz de bloquear a
produção de IL-17, in vitro, atuando
de maneira sinérgica com IFN-γ na inibição da diferenciação das células Th17.
Apesar de exercer efeito direto sobre as células Th17, o IFN-β
parece não modular a produção de IFN- γ por células Th1. Entretanto, células
Th1 aumentam substancialmente a produção de IL-10 frente ao estímulo com esta
citocina. O mesmo foi observado em células humanas isoladas de indivíduos
saudáveis e polarizadas em cultura, sugerindo que, em caso de doença, o
mecanismo de controle pode depender do subtipo de célula T helper envolvido,
que possui ou não a capacidade de produzir IL-10 frente ao IFN-β. A
fim de correlacionar os dados obtidos in
vitro com o possível papel que IFN-β exerce in vivo, células Th1 ou
Th17-MOG-específicas foram transferidas para camundongos C57BL/6, submetidos ou
não ao tratamento com IFN-β. Apenas animais que
receberam células Th1 MOG-específicas e foram tratados com IFN-β não
desenvolveram EAE, enquanto os que receberam células Th17 exibiram piora dos
sinais clínicos da doença. Isso porque camundongos que receberam células Th1
MOG-específicas apresentaram aumento de células Th1 produtoras de IL-10 no baço
e baixíssimos números de células T inflamatórias na medula espinhal; enquanto
aqueles que receberam células Th17 MOG-específicas demonstraram um perfil
totalmente inverso. Assim como demonstrado
in vitro, para que IFN-β exerça sua função in vivo, também foi necessária a cooperação
com IFN-γ. Estes resultados demonstram, elegantemente, que no modelo de EAE, o
IFN-β é capaz de prevenir/melhorar a doença apenas quando desencadeada por
células Th1, e não por Th17.
Por fim, os autores investigaram
se os níveis de IL-17 no soro de pacientes com MS poderiam indicar se o
indivíduo responderá ou não ao tratamento com IFN-β. De fato, pacientes não
respondedores ao tratamento possuíam altos níveis de IFN-β e
IL-17F no soro. Assim, estas citocinas atuariam como possíveis biomarcadores,
que indicariam quais indivíduos deveriam ou não ser submetidos ao tratamento
com IFN- β, possibilitando que outros tratamentos
provavelmente mais eficazes sejam utilizados e evitando o desenvolvimeno de
efeitos colaterais indesejados.
Referências:
Axtell R
C et al. T helper type 1 and 17 cells determine
efficacy of interferon-β in
multiple sclerosis and experimental encephalomyelitis. Nat Med.
2010 Apr;16 (4) 406–412.
Wekerle H, Hohlfeld R. Molecular
oracles for multiple sclerosis therapy. Nat
Med. 2010
Apr;16(4):376-7.
Post de: Marcela Davoli e Renan Carvalho
(Doutorandos IBA- FMRP-USP).
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