O envolvimento de células T CD4+
na patogênese da artrite reumatoide (AR), uma doença de caráter autoimune, é
muito bem estudado. Entretanto, ainda não se tem a identificação do peptídeo
artritogênico ou do clone de TCR capaz de reconhecer antígenos próprios que
levam a AR. a fim de se detectar precocemente a doença e possivelmente impedir
seu estabelecimento.
A obtenção de clones de células T
autorreativas é uma tarefa difícil, uma vez que são eliminadas no timo ou se
encontram em estado inativo na periferia. Além disso, quando obtidas,
geralmente estas células apresentam um perfil regulador (FoxP3+),
sendo portanto incapazes de transferir doença. Para contornar esta questão, Ito
e colaboradores (aqui)
utilizaram animais SKG, que desenvolvem artrite autoimune por uma falha nos
mecanismos de seleção negativa, para desvendar clones de células T
autorreativos capazes de induzir artrite.
Células T CD4+ de animais SKG foram
transferidas para animais Rag2-/-
e posteriormente recuperadas da sinóvia acometida para sequenciamento da
região CDR3 do TCR. Observou-se uma grande diversidade na sequência do TCR das
células artritogênicas, sendo que células T com TCR Vb6,
Vb8.1/8.2
e Vb10
são capazes de induzir artrite em animais Rag2-/-.
Entretanto, células Va2 e Vb6 são predominantes
na articulação inflamada. O TCR destas células FoxP3-Va2
e Vb6
obtidas da articulação foi clonado e transfectado em células da medula, que
foram posteriormente transferidas para animais Rag2-/-. Desta forma, foi possível obter camundongos com
sequências artritogênicas no TCR das células T em desenvolvimento.
Observou-se então que camundongos que
expressavam o TCR R7-39 apresentavam alta incidência e score patológico de AR,
assim como alguns sinais de dermatite compatíveis com a psoríase humana. Posteriormente,
determinou-se que o TCR R7-39 reconhece uma proteína de 18 kDa, identificada por espectrometria de massa como 60S ribosomal protein L23a (RPL23A). Esta
proteína, por sua vez, é expressa de forma ubíqua em camundongos e humanos,
principalmente na pele e na articulação, por sinoviócitos.
Por fim, demonstrou-se que células T
CD4+ de pacientes com AR produzem IFN-g e IL-17 quando
estimuladas com RPL23A, assim como pacientes com AR ou psoríase apresentam
anticorpos anti-RPL23A no soro. De forma interessante, em ensaios de supressão,
foi observado que células T reguladoras não suprimem a resposta de células T
efetoras contra RPL23A.
No geral, este trabalho sugere uma
proteína ubíqua como um importante antígeno relacionado ao desenvolvimento de
AR. Além disso, o modelo utilizado no trabalho permite a obtenção e
caracterização de antígenos próprios que podem desencadear uma resposta
autoimune mediada por células T.
Post de Gustavo Fernando da Silva
Quirino (Mestrando IBA – FMRP/USP)
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