A
formação do inflamassoma é uma resposta fortemente regulada do sistema imune
inato durante infecções e lesões teciduais e tem o objetivo de restaurar a
homeostase tecidual. Tanto a IL-1β como a IL-18 necessitam de um processo pós-transcricional
para se estabelecerem na sua forma ativa. Após a detecção de PAMPs ou DAMPs, moléculas
“sensoras” do inflamassoma como o AIM2 ou o NLRP3 irão induzir a polimerização
do adaptador ASC (proteína speck-like
associada à apoptose com domínio de recrutamento de caspase), conhecido também
como PYCARD, que por sua vez, irá recrutar a pro-caspase-1, resultando na sua
auto-ativação. A pro-caspase-1 ativa induzirá a maturação das citocinas da
família IL-1 e mediará a sua liberação para o espaço extracelular.
Este
é um breve resumo de como ocorre a ativação do inflamassoma. Até aí nada de
novo. Porém, estudo de Franklin et al, 2014, mostrou um novo papel para o
adaptor ASC, que passa de mocinho para um potencial vilão da inflamação. Neste trabalho, eles viram que o ASC, em células que o inflamassoma havia sido previamente
ativado, ele se acumulava no espaço extracelular gerando uma desordem no sistema. O
ASC extracelular manteve a sua habilidade de promover a maturação da pró-IL-1β,
contribuindo para a formação de “depósitos” de inflamassomas, após a piroptose
(morte celular dependente da atividade de caspases) de células imunes,
prolongando assim, a sua atividade inflamatória. Além disso, por serem
reconhecidos como DAMPs pelos macrófagos, estes DAMPs são fagocitados, levando a uma
nova sinalização celular, representando um mecanismo adicional de comunicação
célula-a-célula. Essa característica do ASC se assemelha a de proteínas príons,
que são resistentes a proteases e induzem a conversão de proteínas corretamente
dobradas para príons que se acumulam e eventualmente causam doença.
Foi constatada
também a presença do ASC extracelular no lavado bronco alveolar de camundongos
expostos a fumaça de cigarro e em pacientes com doença pulmonar obstrutiva
crônica, sugerindo a sua participação nas doenças inflamatórias crônicas. Por
se tratar de uma ameaça extracelular, a utilização de terapia com anticorpos
contra o ASC poderia ser empregada. Alguns estudos com modelos de lesão cerebral
traumática e lesão da medula espinhal demonstraram com sucesso a terapia
anti-ASC em reduzir os danos teciduais através da redução da ativação de
caspase-1 e IL-1β. Porém, os autores deste estudo mostraram que, para o ASC, a
história não é tão simples assim. A opsonização por anti-ASC resultou em uma maior
fagocitose por macrófagos. Além disso, observou-se a presença de auto-anticorpos
que reagiram com ASC em pacientes com doenças auto-imunes e camundongos com lúpus
experimental, os quais contribuíram para exacerbação
da resposta inflamatória. Apesar de tudo, a terapia com anticorpos ainda parece
ser a melhor solução, pois com os atuais avanços da engenharia de anticorpos já é
permitido manipular a interação destes, produzindo, por exemplo, aqueles que
não interagem com os receptores Fc, e consequentemente não ativam a inflamação.
Macrófagos
contendo inflamassomas ativados. Redistribuição das moléculas ASC (verde) para
formar ASC specks (estruturas fibrilares verde). Azul: núcleos; Membranas
plasmáticas: Vermelho. [Eicke Latz / Uni Bonn].
Franklin BS, Bossaller L, De Nardo D, Ratter JM, Stutz A, Engels G, Brenker C, Nordhoff M, Mirandola SR, Al-Amoudi A, Mangan MS, Zimmer S, Monks BG, Fricke M, Schmidt RE, Espevik T, Jones B, Jarnicki AG, Hansbro PM, Busto P, Marshak-Rothstein A, Hornemann S, Aguzzi A, Kastenmüller W, Latz E,
2014, The adaptor ASC has extracellular and ‘prionoid’ activities that
propagate inflammation: Nat Immunol, v. 15, p. 727-37
Baroja-Mazo A, Martín-Sánchez F, Gomez AI, Martínez CM, Amores-Iniesta J, Compan V, Barberà-Cremades M, Yagüe J, Ruiz-Ortiz E, Antón J, Buján S, Couillin I, Brough D, Arostegui JI, Pelegrín P,
2014, The NLRP3 inflammasome is released as a particulate danger signal that
amplifies the inflammatory response: Nat Immunol, v. 15, p. 738-48
Post por Lucilla Ribeiro Ávila
Doutoranda em Imunologia pelo PPGMTSP/UFG
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