Na difícil guerra contra o câncer, uma doença
crônica degenerativa e com evolução progressiva, cada conquista representa um
grande avanço. Buscamos vencer uma dessas batalhas empunhando um armamento relativamente
simples composto exclusivamente de átomos de carbono. Os nanotubos de carbono
se organizam de maneira bem peculiar formando estruturas alongadas e
extremamente finas e resistentes que funcionam como perfeitas agulhas,
apresentando grande potencial como carreadores já antes relatado por vários autores.
Em recente trabalho publicado no mês passado na
revista Nano Letters (http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/nl502911a),
nosso grupo foi capaz de demonstrar o potencial dessas nanoestruturas em
penetrar a bicamada lipídica sem causar danos celulares levando consigo
biomoléculas capazes de deflagrar uma resposta antitumoral bastante
interessante. Nesse cenário contamos com dois grandes aliados: uma proteína
tumoral recombinante pertencente à família dos antígenos câncer testis -
NY-ESO-1 - e oligonucleotídeos CpG mapeados a partir do genoma de T. cruzi, ambos acoplados não
covalentemente à superfície dos nanotubos de carbono de paredes múltiplas.
Antes de testarmos o nosso “poder de fogo”, procuramos caracterizar cada
detalhe do que tínhamos em mãos. Todos os processos que envolveram a síntese de
nanotubos mais curtos, funcionalização com grupamentos carboxila, acoplamento
simultâneo da proteína e DNA, foram cuidadosamente planejados no sentido de
otimizar a entrega diminuir ao máximo a toxicidade da formulação.
O fato de esses carreadores facilitarem muito a
entrada do antígeno nas células (dendríticas principalmente), além de protegê-lo
contra uma degradação precoce e aliado ao poder co-estimulatório do CpG
aumentou significativamente tanto a resposta imune humoral (IgG) quanto a
resposta imune celular (CD4+ e CD8+) de maneira antígeno específica nos animais
que receberam a vacina. E o resultado final após o desafio com uma linhagem muito
agressiva de melanoma - B16F10 - foi uma média de 75% de sobrevivência desses
animais.
O nanotubo é uma arma silenciosa, biocompatível e
não imunogênica, mas satisfatoriamente eficaz também em território já ocupado
pelo inimigo. Foi o que observamos ao avaliar esse sistema carreador em uma
abordagem terapêutica. Ao final das observações pós-tratamento com duas doses
da formulação, foi constatado um retardo significativo no crescimento dos
tumores já estabelecidos nos animais levando a uma taxa de sobrevivência um
pouco menor, porém não menos importante, de 50% em média. Os testes com outra
linhagem celular tumoral - CT26 - em ambos os protocolos profilático e terapêutico,
revelaram resultados semelhantes aos observados para o melanoma.
Diante das dificuldades de encontrar
meios efetivos de contra-atracar diferentes tipos de cânceres, nosso nano-complexo
representa uma importante ferramenta na ativação celular in vivo, aliando dois estímulos diferentes simultaneamente. Esta
estratégia, empregando nanotubos como sistemas carreadores, oferece uma
alternativa interessante para uso em diversos protocolos vacinais que
necessitem deste perfil de resposta imune mediado tanto por células quanto por
anticorpos.
Estamos
a postos e prontos para a próxima batalha!
Por: Paula Cristina Batista de Faria ( Instituto de Genética e Bioquímica - UFU)
Referência: Paula C. Faria, Luara I. Santos, Jõao P. Coelho,
Henrique B. Ribeiro, Marcos A. Pimenta, Luiz O. Ladeira, Dawidson A. Santos,
Clascídia A. Furtado, Ricardo T. Gazzinelli. Oxidized multiwalled carbon nanotubes as antigen delivery system to
promote superior CD8+ T cell response and protection against cancer. Nano
Letters (Print), v. xx, p. 140812112722004, 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário