Podemos dizer que os eosinófilos (EØs) são
tanto os “good guys” quanto os “bad guys” do sistema imunológico. Essa
dicotomia é decorrente, primeiro, de sua atuação no controle de infecções helmínticas
(Simons, 2005), virais (Davoine et al., 2008), fúngicas (Yoon et al., 2008), bacterianas (Yousefi et al., 2008) (good guys); e, segundo, de seu papel na
amplificação de respostas alérgicas (Bandeira-Melo et al., 2002) (bad guys). Diferentemente
do que se possa imaginar, os EØs não são apenas células recrutáveis da
circulação em resposta a algum tipo de reação previamente iniciada. O intestino,
por exemplo, é um dos órgãos de nosso corpo que alojam essas células mesmo em
condições saudáveis. No entanto, pouco se sabe sobre qual seria o papel dessas
células residentes em um ambiente inflamatório. Colaborando para o entendimento
dessa lacuna, o trabalho de Chu et al., 2014 demonstrou o quão
essenciais são estas células na geração da imunidade do tipo Th2, regulando a
ativação e a migração das células dendríticas (DCs). Examinando a distribuição
dos EØs ao longo do intestino, observaram que existe maior quantidade dessas
células no intestino delgado (SI) do que no intestino grosso (LI). Os EØs
presentes no SI são fenotipicamente diferentes daqueles encontrados no LI. Focados em entender o papel dos EØs no SI, os
autores utilizaram o camundongo ∆dblGATA1, que é deficiente na diferenciação de
EØs, mas não de outras células da origem mielóide Yu et al., 2002. Nesse caso, os animais falharam na
montagem da resposta do tipo Th2, obtida no modelo de alergia alimentar
induzida por extrato de amendoim. Contudo, quando reconstituídos por EØs, esses
animais apresentaram a resposta alérgica esperada, tanto do ponto de vista
imunológico (produção de anticorpos, citocinas etc) quanto do ponto de vista
fisiológico (sinais de choque anafilático). Além disso, demonstraram que a capacidade dos
EØs induzirem a resposta Th2 foi independente de seu potencial em produzir IL-4.
Ao invés disso, a presença dos EØs no SI era importante para a ativação e
migração das DCs CD103+ para o linfonodo mesentérico (MLN) durante o
processo de sensibilização com amendoim. Importante destacar que após o desafio
com o extrato de amendoim, os EØs sofreram intensa desgranulação, com alta liberação
da enzima catiônica peroxidase do EØs (EPO). O trabalho demonstrou ainda que é
através dessa enzima que os EØs regulam a expressão de moléculas
co-estimuladoras como CD80, CD86, OX40L nas DCs, bem como a expressão de CCR7,
importante para sua migração até o linfonodo. Sendo assim, a contribuição deste
estudo ocorreu no sentido de esclarecer que os EØs residentes no intestino são
capazes de controlar a ativação e a migração das DCs por meio da ação da EPO,
liberada diretamente após o encontro com o extrato de amendoim. As DCs, por sua
vez, após migrarem até o MLN, atuam induzindo a imunidade Th2 nos linfócitos,
porque seu potencial de produção de IL-12 fica suprimido pelo contato prévio
com a EPO. Esse achado também foi verificado em modelo de alergia pulmonar
induzida por OVA ±EPO, demonstrando que a interação EPO-DC vai além das
barreiras intestinais. Desta forma, os eosinófilos, que anteriormente eram
considerados como células de fases mais tardias do processo inflamatório,
aparecem aqui como células capazes de iniciar uma resposta imune Th2, através
de sua peroxidase (EPO) interagindo com DC. So, indeed, they do get the party started!
Post por Frederico Ribeiro e Gisele
Locachevic (Doutorandos IBA/FMRP-USP)
Eosinofofos !!!
ResponderExcluirA imunologia sempre me surpreendendo!
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