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domingo, 21 de setembro de 2014

Journal Club IBA: Eosinófilos: they get the party started!



Podemos dizer que os eosinófilos (EØs) são tanto os “good guys” quanto os “bad guys” do sistema imunológico. Essa dicotomia é decorrente, primeiro, de sua atuação no controle de infecções helmínticas (Simons, 2005), virais (Davoine et al., 2008), fúngicas (Yoon et al., 2008), bacterianas (Yousefi et al., 2008)  (good guys); e, segundo, de seu papel na amplificação de respostas alérgicas (Bandeira-Melo et al., 2002) (bad guys). Diferentemente do que se possa imaginar, os EØs não são apenas células recrutáveis da circulação em resposta a algum tipo de reação previamente iniciada. O intestino, por exemplo, é um dos órgãos de nosso corpo que alojam essas células mesmo em condições saudáveis. No entanto, pouco se sabe sobre qual seria o papel dessas células residentes em um ambiente inflamatório. Colaborando para o entendimento dessa lacuna, o trabalho de Chu et al., 2014 demonstrou o quão essenciais são estas células na geração da imunidade do tipo Th2, regulando a ativação e a migração das células dendríticas (DCs). Examinando a distribuição dos EØs ao longo do intestino, observaram que existe maior quantidade dessas células no intestino delgado (SI) do que no intestino grosso (LI). Os EØs presentes no SI são fenotipicamente diferentes daqueles encontrados no LI.  Focados em entender o papel dos EØs no SI, os autores utilizaram o camundongo ∆dblGATA1, que é deficiente na diferenciação de EØs, mas não de outras células da origem mielóide Yu et al., 2002. Nesse caso, os animais falharam na montagem da resposta do tipo Th2, obtida no modelo de alergia alimentar induzida por extrato de amendoim. Contudo, quando reconstituídos por EØs, esses animais apresentaram a resposta alérgica esperada, tanto do ponto de vista imunológico (produção de anticorpos, citocinas etc) quanto do ponto de vista fisiológico (sinais de choque anafilático).  Além disso, demonstraram que a capacidade dos EØs induzirem a resposta Th2 foi independente de seu potencial em produzir IL-4. Ao invés disso, a presença dos EØs no SI era importante para a ativação e migração das DCs CD103+ para o linfonodo mesentérico (MLN) durante o processo de sensibilização com amendoim. Importante destacar que após o desafio com o extrato de amendoim, os EØs sofreram intensa desgranulação, com alta liberação da enzima catiônica peroxidase do EØs (EPO). O trabalho demonstrou ainda que é através dessa enzima que os EØs regulam a expressão de moléculas co-estimuladoras como CD80, CD86, OX40L nas DCs, bem como a expressão de CCR7, importante para sua migração até o linfonodo. Sendo assim, a contribuição deste estudo ocorreu no sentido de esclarecer que os EØs residentes no intestino são capazes de controlar a ativação e a migração das DCs por meio da ação da EPO, liberada diretamente após o encontro com o extrato de amendoim. As DCs, por sua vez, após migrarem até o MLN, atuam induzindo a imunidade Th2 nos linfócitos, porque seu potencial de produção de IL-12 fica suprimido pelo contato prévio com a EPO. Esse achado também foi verificado em modelo de alergia pulmonar induzida por OVA ±EPO, demonstrando que a interação EPO-DC vai além das barreiras intestinais. Desta forma, os eosinófilos, que anteriormente eram considerados como células de fases mais tardias do processo inflamatório, aparecem aqui como células capazes de iniciar uma resposta imune Th2, através de sua peroxidase (EPO) interagindo com DC. So, indeed, they do get the party started!
Comentário sobre o artigo no journal  Mucosal Immunology (aqui).

Post por Frederico Ribeiro e Gisele Locachevic (Doutorandos IBA/FMRP-USP)


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