Micrografia de transmissão eletrônica do vírus Oeste do Nilo. Crédito da foto: Cynthia Goldsmith. Fonte: http:// http://www.news-medical.net/health/West-Nile-Virus.aspx
A Febre do Oeste do Nilo é uma virose
transmitida por mosquitos do gênero Culex que causa encefalite ou meningite.
Seu nome foi dado devido ao fato do vírus ter sido isolado, pela primeira vez
em 1937, na região do Oeste do Nilo em Uganda. O vírus pode infectar humanos e
animais e é transmitido por meio da picada de mosquitos que tenham se alimentado
de aves infectadas, geralmente migratórias.
O vírus Oeste do Nilo (do inglês West Nile Virus - WNV) é um flavivírus envelopado composto de RNA de fita simples com polaridade positiva. A maioria das infecções causadas pelo vírus
são assintomáticas (cerca de 80%). Nas infecções sintomáticas, os sintomas
variam de doença febril até sintomas graves podendo levar o indivíduo a óbito. Do
ponto de vista da distribuição global do vírus no mundo, de acordo com o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a
doença é endêmica ou potencialmente endêmica em 83 países.
Recentemente, a disseminação do vírus para o
hemisfério sul foi confirmada com a detecção de animais infectados pelo WNV em
território sul-americano. A soropositividade para WNV em equídeos na Colômbia e
Venezuela e o isolamento do vírus nestes animais na Argentina, reiteram a
necessidade da manutenção do sistema de vigilância enzoótica para WNV em
território brasileiro. No Brasil, recentemente evidências sorológicas da
presença do vírus foram encontradas em cavalos do Pantanal. Nos Estados Unidos,
onde o vírus causa surtos anuais desde 1999, cerca de 36.000 pessoas já apresentaram
a doença, com mais de 15.000 casos neuroinvasivos e cerca de 1.500 mortes. Cabe
ressaltar, que até o momento, não há tratamento específico ou uma vacina
aprovada contra o vírus.
Muitas tecnologias têm sido usadas no
desenvolvimento de candidatos vacinais contra o WNV. Quatro candidatos vacinais
já foram testados para o perfil de segurança e imunogenicidade em triagens
clínicas: 1) Vacina WNV/YF 17D: quimera composta do vírus vivo atenuado e da
cepa vacinal contra febre amarela 17D; 2) Vacina WNV/DENV4 Δ30: quimera composta
do vírus vivo atenuado e do dengue 4 com deleção na posição 30; 3) Vacina de DNA
WNV prM-E: composta por um plasmídeo simples que codifica glicoproteínas de
pré-membrana e envelope do vírus e 4) Vacina composta de um polipeptídeo recombinante
da proteína do envelope viral. Até o momento, apenas a pré-candidata WNV/YF 17D
teve ensaios clínicos de fase II em humanos realizados. Apesar de resultados
promissores, o desenvolvimento da vacina foi paralisado devido a incertezas de
mercado.
Já a vacina quimérica WNV/DENV4 Δ30 apresentou
em estudos prévios um desempenho promissor, sendo altamente imunogênica em
camundongos e macacos com bom perfil de segurança. A vacina também foi bem
tolerada e imunogênica em voluntários saudáveis adultos com faixa de idade
variando entre 18 a 50 anos. A disponibilidade de uma vacina segura e eficaz
contra o WNV em áreas endêmicas, particularmente para as populações idosas que
apresentam risco maior de desenvolverem doença neuroinvasiva causada pela
infecção viral, traria importantes benefícios. Contudo, seria necessário antes que
testes fossem realizados nessa população vulnerável que a candidata vacinal
fosse avaliada considerando-se o seu grau de neuroatenuação.
Nesse contexto, foi publicado na edição de maio
de 2014 na revista Vaccine um estudo liderado pelo pesquisador Alexander G.
Pletnev do Laboratory of Infectious Diseases, National Institute of Allergy and
Infectious Diseases, National Institutes of Health, Estados Unidos para avaliar
a neurovirulência da candidata vacinal WNV/DENV4 Δ30 em comparação a dois vírus
parentais (WNV e DENV4 Δ30) e a cepa vacinal 17D utilizada na vacina contra
febre amarela. Os estudos foram realizados em primatas não humanos (PNH). Dados
virológicos e clínicos demonstraram que a candidata vacinal é altamente
atenuada para o sistema nervoso central (SNC) em comparação ao vírus selvagem.
Além disso, baseado na capacidade replicativa viral no SNC dos animais e o grau
de alterações histopatológicas induzidas, o nível de atenuação da candidata vacinal
é similar aquele encontrado para a vacina 17D. Os resultados demonstraram ainda
a aplicabilidade do uso do modelo animal utilizado no estudo em ensaios pré-clinicos
futuros de neuropatogênese, testes vacinais e avaliações terapêuticas para uma
vacina contra o vírus Oeste do Nilo.
Referências
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