Há alguns meses, anunciamos aqui no Blog da SBI que
os alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em Imunologia Básica e
Aplicada e de graduação da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto, inspirados em iniciativas já bem sucedidas,
dariam início ao Projeto Imunologia nas
Escolas da USP/RP. Desde então, foram diversas as reuniões e discussões
levantadas a respeito de como seria esta versão ribeirão pretana do projeto. Nesse
sentido, nossa proposta é aproximar a ciência Imunologia do cotidiano do aluno
do ensino médio, e ao mesmo tempo, estimulá-lo a se interessar pelo pensamento
científico. Além disso, baseados na premissa de que a um dos deveres da
universidade é o de corresponder ao investimento feito pela sociedade,
delineamos uma proposta pautada na utilização da Imunologia como mecanismo de
transferência do conhecimento produzido na universidade para a comunidade.
Desse modo, estamos trabalhando na elaboração de aulas cujos conteúdos
teóricos/práticos abordados tenham uma forte relação com situações do cotidiano
do cidadão leigo em Imunologia. Tal abordagem soa bastante interessante pois o
aluno é capaz de trazer uma série de exemplos baseados em situações já
vivenciadas e fazer um link com a teoria exposta e por que não dizer, organizar
um conhecimento que não raro, já possui, mas que está descontextualizado.
Após
muita reflexão, definimos os conteúdos que seriam tratados ainda nesse ano
letivo de 2013 e nada mais óbvio do que iniciar o projeto com uma aula introdutória
do sistema imunológico. Os temas das atividades seguintes, que devem acontecer
nos meses de setembro, outubro e novembro, versarão a respeito da inflamação,
infecções por micro-organismos e vacinas, e alergias. Neste início de projeto,
optamos por oferecer as atividades a duas escolas da cidade de Ribeirão Preto,
sendo uma pública e outra particular. Após cada uma dessas aulas, teremos um
post no blog descrevendo a experiência. Por hora, nos reteremos na descrição do
primeiro encontro, ocorrido no dia 12/08/2013. Encontro que diga-se de
passagem, foi muito gratificante.
Nesta
primeira aula, quisemos mostrar aos alunos qual a importância fisiológica de
possuir um sistema relacionado à manutenção da homeostase diante de
adversidades como por exemplo, as infecções por microorganismos. É claro que em
momento algum utilizamos esta definição, pois mais acadêmica, impossível. Para
tal, lançamos mão de uma série de recursos na construção de nossa atividade que
pôde ser considerada uma aula teórico-prática expositiva, mas não convencional.
Aqui farei uma breve descrição do roteiro, de como utilizamos os recursos
didáticos.
Primeiramente,
dirigi-me aos alunos perguntando o que seria o sistema imunológico, qual sua
importância. Respostas diversas relacionadas à proteção contra doenças e tudo
mais surgiram. Passei a eles a noção de que não vivemos num ambiente estéril,
por mais que a higiene seja feita e para comprovar isso, trouxemos algumas
placas de cultura de bactérias coletadas de locais de circulação comum, da
própria faculdade de medicina. Tínhamos amostras de bactérias do banheiro, da
maçaneta do banheiro, do teclado de computador, e dos gatos que frequentam o
pátio do prédio central da FMRP/USP. Os alunos ficaram muito surpresos com a
quantidade de bactérias presentes nos locais. Naquele momento, indaguei a eles:
Se vivemos num ambiente tão contaminado, como é que não ficamos doentes o tempo
todo? Passei, então, o conceito de micro-organismo patogênicos e não
patogênicos, e da importância de muito deles na própria indústria alimentícia.
Tendo todo esse embasamento, os alunos foram questionados a respeito de quais
seriam as barreiras do nosso organismo que impediriam a infecção por micro-organismos. Dessa forma, exploramos o conceitos de barreiras da imunidade inata. O passo
seguinte de nossa sequencia didática foi explorar as maneiras de superação
dessas barreiras por tais micróbios. Para tal, fizemos uma pequena encenação,
cuja estrela maior foi a Pós-doutoranda Maria do Carmo Souza, que interpretou
Dona Maria, uma senhora do lar desastrada. Nossa personagem machuca-se enquanto
faz faxina em sua casa. Sem ligar muito para o ferimento, Dona Maria continua
seus afazeres e dias depois adoece apresentando sintomas de febre, gânglios
axilares, etc. Ela procura um médico (Alexandre Souza), que solicita um
hemograma. Dona Maria vai a um laboratório de análises clínicas e, muito
curiosa, pergunta à biomédica (Msc. Laís Sacramento) sobre as informações a
serem obtidas a partir do hemograma. Nesse momento, foi explicado aos alunos
sobre a técnica do esfregaço e o princípio da coloração por hematoxilina/eosina.
Em seguida, foram introduzidos os leucócitos e sua morfologia por meio de imagens
projetadas e por meio de material feito em placas de isopor. Após a explicação,
os alunos tiveram a oportunidade de observar cada um dos subtipos de células
nos microscópios já deixados à disposição. Após a observação, explicamos a eles
de maneira bastante simplificada o processo de recrutamento de células para o
sítio de infecção, utilizando como recurso maquetes de isopor representando rolamento, diapedese e migração de neutrófilos
em direção aos sinais emitidos por macrófagos residentes do sítio infeccioso. Outra
maquete utilizada representou a fagocitose feita por macrófagos. Como apoio,
projetamos vídeos que ilustraram a dinâmica desses processos. Por fim, Dona
Maria retornou ao consultório médico já com seu hemograma pronto. Um hemograma
representando um quadro de infecção bacteriana foi projetado, e Dona Maria,
muito curiosa, fez várias perguntas ao médico, que a ensinou como interpretar
um hemograma e qual origem dessas células que compõe o sistema imunológico.
Como
balanço geral dessa experiência inicial, podemos dizer que saímos bastante
satisfeitos com a reação dos alunos à nossa proposta. De modo geral, houve
muita participação, tanto no sentido de responderem às questões que
levantávamos a fim de fomentar discussão, bem como no sentido dos mesmos
levantarem muitas questões. Isso nos indicou que o raciocínio imunológico que
estávamos expondo estava sendo acompanhado, uma vez que foram perguntas feitas
a partir de reflexão sobre a informação
que estávamos levando, e não puramente do não entendimento sobre aquilo que
falávamos. Desse modo, toda a equipe terminou o dia com uma empolgação maior do
que começou, certos de que estamos no caminho de construir um bom trabalho que,
além de contribuir imensamente na formação dos graduandos e pós-graduando
envolvidos, também possui uma grande relevância social.
Imunologia nas
Escolas USP - Ribeirão Preto
Coordenadores
do Projeto:
Prof. Dra. Beatriz R. Ferreira - Escola de Enfermagem
de Ribeirão Preto (EERP)
Prof. Dra. Fabiani Gai Frantz - Faculdade de Ciência
Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP)
Prof. Dra. Vanessa Carregaro Pereira - Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto (FMRP)
Prof. Dra. Vânia L. D. Bonato - Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto (FMRP)
Equipe da
primeira atividade:
Alexandre Souza
Laís Amorim Sacramento
Maria do Carmo Souza
Murilo Solano Dias
Estela R. Cardoso ( Graduanda - FCFRP)
Parte da equipe. Da esquerda para direita: Maria do
Carmo Souza, Paulo Henrique Melo, Fabiana Albani Zambuzi, Prof. Vânia Bonato,
Laís Sacramento, João, Alexandre Souza, Estela Cardoso e Murilo Solano Dias.
Acesse a página do Facebook para
acompanhar este trabalho e visualizar as fotos tiradas durante as
apresentações:
https://www.facebook.com/pages/Projeto-Imunologia-nas-Escolas-USP-Ribeir%C3%A3o-Preto/527079130685177
Post de Murilo Solano Dias (FMRP-IBA)
Parabéns pelo trabalho... se alguns, dentre os muitos alunos que passarão por essas salas de aulas, desenvolverem o espírito crítico e a possibilidade da integração de conteúdos pedagógicos com seu cotidiano será um grande ganho.
ResponderExcluirÉ preciso estimular o desejo investigativo no aluno, e despertá-lo para a importância de conhecer, aprender, compartilhar e aplicar a ciência.
Abs
Excelente iniciativa na época da minha graduação eu participei de um programa parecido com esse que rende frutos até hoje. Parabéns a todos.
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluir