O
parasito Toxoplasma gondii foi
descoberto há mais de 100 anos, em 1908 por Nicole a Monceaux. A partir daí,
acumulamos uma infinidade de informações sobre seu ciclo de vida, morfologia,
mecanismos de infecção, manifestações clinicas, formas de prevenção e tratamento.
Trata-se
de um parasito extremamente versátil e adaptado. Versátil por ser capaz de
infectar virtualmente todos os animais de sangue quente, o que inclui aves e
mamíferos. Adaptado porque cerca de 30% da população mundial carrega esse
parasito em si e menos de 80% dos soropositivos desenvolve sintomas decorrentes
da infecção.
O
que é bastante peculiar nesse parasito é o fato de ser capaz de sobreviver em
harmonia durante anos no hospedeiro sadio, mas quando há queda de imunidade,
ele pode levar a sérios problemas. Dentre as manifestações clínicas estão:
encefalite grave, aborto espontâneo e mal formações congênitas durante o
desenvolvimento fetal. Além disso, nos cerca de 20% dos indivíduos sadios
infectados com T. gondii pode haver o
desenvolvimento de lesões oculares que atingem a córnea e a retina, o que
chamamos de retinocoroidite (Figura 1).
Durante anos acreditou-se que a retinocoroidite era
causada apenas por uma reação inflamatória exacerbada. Principalmente
decorrente da produção de altos níveis de IFN-g,
citocina crucial na eliminação do parasito. Vários trabalhos mostram que a
infecção com T. gondii na ausência de
citocinas que modulam e contrabalanceiam o papel do IFN-g, como
IL-10, levam à morte o hospedeiro. Dessa forma, o fino equilíbrio entre
controle da infecção e inflamação é importante para manter a integridade física
do hospedeiro.
No
entanto, um trabalho publicado recentemente mostra que pode haver algo além de IFN-g.
Pacientes com lesão ocular presuntiva de toxoplasmose apresentam produção
elevada de IL-17, uma citocina conhecidamente envolvida em processos
inflamatórios destrutivos. Esse trabalho também mostra a presença de variações
genéticas no gene do receptor NOD2 nos indivíduos infectados com lesões
oculares.
O
receptor NOD2 é um sensor da imunidade inata capaz de reconhecer padrões
moleculares comuns a diversos patógenos. Esses receptores estão presentes em
células apresentadoras de antígenos, como células dendríticas. Uma vez
estimulados, eles fazem com que essas células apresentem antígenos para
linfócitos T CD4+ que então produzem IL-17. Qual molécula
proveniente de T. gondii estaria
sendo reconhecida pelo NOD2? Ainda não sabemos.
A
IL-17 é uma citocina comumente associada a doenças autoimunes e estudos
realizados em modelos animal indicam que a sua produção durante a infecção por T. gondii aumenta o processo
inflamatório na ausência de controle do parasito. Dessa forma, acredita-se que a
produção dessa citocina estaria relacionada ao processo degenerativo que ocorre
na toxoplasmose ocular, mas não no controle e eliminação do parasito. Mais
trabalhos são necessário para entendermos efetivamente qual o envolvimento dos
receptores NOD2 no reconhecimento do parasito e como eles estariam envolvidos
na susceptibilidade ao desenvolvimento das lesões oculares durante a
toxoplasmose.
Referência:
Association of a NOD2 gene polymorphism and Th17
lymphocytes with presumed ocular toxoplasmosis. Dutra MS, Béla SR,
Peixoto-Rangel AL, Fakiola M, Cruz AG, Gazzinelli A, Quites HF, Bahia-Oliveira
LM, Peixe RG, Campos WR, Higino-Rocha AC, Miller NE, Blackwell JM, Antonelli LR,
Gazzinelli RT. J Infect Dis. 2012 Oct 24.
Texto
de Miriam Dutra
Não gostei.
ResponderExcluirAcho que se vangloriar do próprio trabalho é uma coisa, mas escrever um post destacando o próprio trabalho é demais pra mim.