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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um câncer social chamado malária


Por que milhões de pessoas ainda morrem de malária nos dias de hoje? Faço-lhes essa indagação porque não sei ao certo o real motivo de tantas mortes. Será que temos competência suficiente para erradicar essa moléstia? O mundo tem interesse em dizimar uma doença que afeta somente países pobres? Seria falta de vontade política? Ou talvez resultado de medidas escusas adotadas para alimentar a indústria da fome? Essa última pergunta é propositalmente antitética/paradoxal.

Citada na obra do maestro Tom Jobim, a febre terçã - termo em desuso que caracteriza a periodicidade sintomatológica da malária – faz alusão ao efeito devastador das “águas de março”, na canção homônima imortalizada na voz de Elis Regina. E na malária não é diferente. Somente quem teve a oportunidade de presenciar uma criança com malária tem a real dimensão do efeito devastador da doença.

Em meio à falta de credulidade, um sopro de esperança nos alenta. Um artigo publicado na Science por Riehle e colaboradores revela a descoberta de um novo subgrupo de Anopheles gambiae, a principal espécie de culicídeo transmissor de malária na África. Após a análise de larvas e de mosquitos adultos, foi observado que esse novo subgrupo compreende vetores exofílicos (aqueles que vivem em regiões não tão próximas aos vilarejos africanos) e são extremamente suscetíveis à infecção por Plasmodium falciparum, o que pode explicar o porquê da ineficácia dos programas de combate à malária adotados no continente africano, uma vez que medidas de combate ao mosquito, como a utilização de inseticidas e de mosquiteiros, são eficazes apenas para o combate de vetores endofílicos (os que vivem próximos aos vilarejos).

Os resultados descritos no trabalho de Riehle e colaboradores podem ser fundamentais para o norteamento de novos programas de combate à malária no continente africano, amparando-se em medidas capazes de eliminar eficientemente não apenas os vetores endofílicos, mas também os exofílicos. Parafraseando novamente o maestro Tom, “são as águas de março fechando o verão/É a promessa de vida no teu coração”.

Pois é, caro leitor! Se você levou cerca de cinco minutos para ler esse post, – acredite! – dez crianças africanas acabaram de falecer em virtude da infecção por Plasmodium nesse ínterim. Enfim, só nos resta torcer para que as águas sejam menos turbulentas em um futuro próximo, afinal o mar da história sempre foi agitado.

Referência Bibliográfica:

A cryptic subgroup of Anopheles gambiae is highly susceptible to human malaria parasites. Riehle MM, Guelbeogo WM, Gneme A, Eiglmeier K, Holm I, Bischoff E, Garnier T, Snyder GM, Li X, Markianos K, Sagnon N, Vernick KD. Science. 2011 Feb 4; 331(6017): 596-8.

Tiago Medina, FMRP-USP, Programa de Imunologia


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