Célula T. AJC ajcann.wordpress.com, 2007.
O curso clínico de doenças infecciosas e autoimunes varia significativamente, mesmo entre indivíduos apresentando uma mesma condição. A compreensão das bases moleculares para presença dessa heterogeneidade poderia trazer melhorias consideráveis para sua monitoração e tratamento.
Durante infecções crônicas virais, a exaustão de células T
promove persistência viral e está associada com pior desfecho clínico. Contudo,
não estava claro se exaustão de células T desempenharia um papel relevante em
autoimunidade. Em artigo publicado na revista Nature em Julho de 2015, o grupo
liderado pelo Dr. Kenneth G. C. Smith do Departamento de Medicina da
Universidade de Cambridge, Cambrige, Reino unido, mostrou por análise
transcriptômica que existe uma assinatura de exaustão de células T CD8+ que está
associada com um clareamento pior da infecção viral e que está inversamente
associada com a assinatura de coestimulação de células T CD4+, sendo capaz de
predizer uma menor taxa de reincidência de doenças inflamatórias e autoimunes. Para
investigar os mecanismos responsáveis pela autoimunidade reincidente, os autores
analisaram o transcriptoma de células T CD4+ e CD8+ isoladas de 44 pacientes
com vasculite associada a anticorpos anti-citoplasma de neutrófilos (VAA) ativa
e não tratada e 24 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) ativo e não
tratado.
Utilizando diferentes estratégias de análises, eles
encontraram que a assinatura gênica de células T CD4+ está associada com
coestimulação e correlacionada com reincidência das doenças, enquanto a
assinatura gênica de exaustão de células T CD8+ está correlacionada com baixo
risco de reincidência e, dessa forma, tem prognóstico melhor. Esses dados
sugerem que a assinatura transcripcional de exaustão de células T CD8+, em
conjunto com a assinatura de baixa coestimulação de células T CD4+ pode estar
associada com um desfecho clínico de longo prazo favorável em doenças
autoimunes.
Sabe-se que a estimulação persistente do receptor de células
T promove exaustão celular. De forma interessante, os autores do trabalho
mostraram que coestimulação via CD2 previne o desenvolvimento do fenótipo de
exaustão em células T CD8+ humanas in
vitro. Esse efeito inibidor da sinalização via CD2 na exaustão poderia ser
revertido por estimulação do receptor inibitório PD1. Portanto, a indução da
exaustão poderia ser manipulada, pelo menos in
vitro, por meio de PD1 e CD2. Analisando a expressão de assinaturas gênicas
para coestimulação/exaustão em um grupo de dados independentes foi confirmada a
associação entre assinatura de coestimulação e não exaustão de células T com
desfechos clínicos favoráveis para terapêutica de infecção viral (vírus da hepatite
C) e vacinação (febre amarela e influenza), mas desfechos clínicos pouco
favoráveis para doenças inflamatórias e autoimunes (diabetes tipo 1, VAA, LES,
fibrose pulmonary idiopática e dengue hemorrágica).
De forma geral, o estudo mostra que ao contrário de infecções
virais, a exaustão de células T CD8+ está associada com um bom desfecho clínico
em doenças inflamatórias e autoimunes. Dessa forma, a manipulação da exaustão
pode ser futuramente um mecanismo terapêutico possível para suprimir
autorreatividade.
Desejo a todos Boas Festas. Até o nosso próximo encontro em 2016.
Referências:
McKinney EF, Lee JC, Jayne DR, Lyons PA, Smith KG. T-cell
exhaustion, co-stimulation and clinical outcome in autoimmunity and infection.
Nature. 2015 Jul 30;523(7562):612-6. doi: 10.1038/nature14468. Epub 2015 Jun
29.
Wherry EJ, Kurachi M. Molecular and cellular insights into T
cell exhaustion. Nat Rev Immunol. 2015 Aug;15(8):486-99. doi: 10.1038/nri3862.
Review.
Nenhum comentário:
Postar um comentário