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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Anastase e a vida pós-apoptose


Por Gabriel Shimizu Bassi (FMRP-IBA) 

Por décadas havia o consentimento geral de quando uma célula entra em apoptose, a morte celular é algo fatídico e irreversível. A apoptose em si é benéfica para o desenvolvimento natural do organismo, porém também é maléfica em eventos traumáticos, tais como derrames encefálicos, ataques cardíacos e doenças degenerativas, tais como o Parkinson e o Alzheimer. Durante o processo apoptótico, alterações físicas são encontradas na célula (blebs) e várias proteínas são expressas e outras são suprimidas. Porém, ficava a dúvida se o processo de apoptose poderia ser reversível.

Em um experimento um tanto inusitado, Tang e colaboradores (2012) expuseram vários tipos celulares (hepatócitos, cardiomiócitos, macrófagos, células HeLA, NIH 3T3 e neuroniais) em meio contendo etanol, DMSO ou cucurbitacina I. Como esperado, as células começaram a apresentar os sinais clássicos de entrada na apoptose, tais como diminuição do corpo celular e nuclear, blebbing e deformidades de organelas. Porém, quando se removeu o composto apoptótico, essas mesmas células começaram a voltar a sua conformidade normal, reorganizando organelas, núcleo e membrana plasmática. Porém, quais os mecanismos envolvidos nessa “ressurreição” celular?

Um estudo mais aprofundado mostrou que durante a apoptose houve ativação da Caspase 3, assim como a translocação nuclear de AIF mitocondrial e EndoG e fragmentação nuclear em micron, sugerindo dano ao DNA e quebra cromossômica. A remoção dos indutores apoptóticos reduziu a expressão dessas proteínas, mostrando que o processo de morte pode ser revertido mesmo após dano ao DNA. Mas como a célula reverte a apoptose e mantém o DNA íntegro?


Imediatamente após a remoção do estímulo apoptótico, uma nova síntese de RNA se iniciou sob influência de genes clássicos de sobrevivência celular, tais como da família BCL-2 (Bag3, Bcl2, Mcl1), XIAP, MDM2, proteínas de choque térmico (Dnajb1, Dnajb9, Hsp90aa1, Hspa1b e Hspb1). 

Modelo proposto para a apoptose reversa (anastase)

Esses dados mostram que a apoptose é um mecanismo reversível, ocorrendo tanto em células normais como em cancerosas. A esse fenômeno os autores cunharam o termo “anastase”, designando, em grego, “retorno a vida”, contrastando com a palavra apoptose (“queda”).

Em termos práticos, a anastase em si pode explicar o aumento a propensão de câncer na ocorrência de danos celulares repetidos. Além disso, a anastase pode ser um dos mecanismos utilizados por células cancerosas para desenvolverem resistência a quimio e radioterapia, tendo-se como resultado o rearranjo gênico e, em alguns casos, o aumento da agressividade e propensão metastática. Levando-se para um lado mais evolutivo, a anastase é um mecanismo de sobrevivência pelo qual a célula pode se utilizar quando há estresses ambientais, resultando em rearranjo gênico e aumentando sua probabilidade de sobrevivência (adaptabilidade) num ambiente hostil.


Fonte: Tang et al. Cell survival, DNA damage, and oncogenic transformation after a transient and reversible apoptotic response. Mol BiolCell, 23: 2240-2252, 2012.

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3 comentários:

  1. Uma vez mais a ciência mostra um processo adaptativo aconteciendo no nível micro e cujo conhecimento pode contribuir em um melhor entendimento de doenças como o cancer e sem dúvida, em aquelas doenças que afetam células que difícilmente podemos substituir. Parabéns pelo post

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