Por Gabriel Shimizu Bassi (FMRP-IBA)
Por décadas
havia o consentimento geral de quando uma célula entra em apoptose, a morte
celular é algo fatídico e irreversível. A apoptose em si é benéfica para o desenvolvimento
natural do organismo, porém também é maléfica em eventos traumáticos, tais como
derrames encefálicos, ataques cardíacos e doenças degenerativas, tais como o
Parkinson e o Alzheimer. Durante o processo apoptótico, alterações físicas são
encontradas na célula (blebs) e
várias proteínas são expressas e outras são suprimidas. Porém, ficava a dúvida
se o processo de apoptose poderia ser reversível.
Em um
experimento um tanto inusitado, Tang e colaboradores
(2012) expuseram vários tipos celulares (hepatócitos, cardiomiócitos,
macrófagos, células HeLA, NIH 3T3 e neuroniais) em meio contendo etanol, DMSO
ou cucurbitacina I. Como esperado, as células começaram a apresentar os sinais
clássicos de entrada na apoptose, tais como diminuição do corpo celular e
nuclear, blebbing e deformidades de
organelas. Porém, quando se removeu o composto apoptótico, essas mesmas células
começaram a voltar a sua conformidade normal, reorganizando organelas, núcleo e
membrana plasmática. Porém, quais os mecanismos envolvidos nessa “ressurreição”
celular?
Um estudo mais
aprofundado mostrou que durante a apoptose houve ativação da Caspase 3, assim
como a translocação nuclear de AIF mitocondrial e EndoG e fragmentação nuclear
em micron, sugerindo dano ao DNA e quebra cromossômica. A remoção dos indutores
apoptóticos reduziu a expressão dessas
proteínas, mostrando que o processo de morte pode ser revertido mesmo após dano
ao DNA. Mas como a célula reverte a apoptose e mantém o DNA íntegro?
Imediatamente
após a remoção do estímulo apoptótico, uma nova síntese de RNA se iniciou sob
influência de genes clássicos de sobrevivência celular, tais como da família
BCL-2 (Bag3, Bcl2, Mcl1), XIAP, MDM2, proteínas de choque térmico (Dnajb1,
Dnajb9, Hsp90aa1, Hspa1b e Hspb1).
Modelo
proposto para a apoptose reversa (anastase)
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Esses dados mostram
que a apoptose é um mecanismo reversível, ocorrendo tanto em células normais
como em cancerosas. A esse fenômeno os autores cunharam o termo “anastase”,
designando, em grego, “retorno a vida”, contrastando com a palavra apoptose (“queda”).
Em termos práticos, a
anastase em si pode explicar o aumento a propensão de câncer na ocorrência de
danos celulares repetidos. Além disso, a anastase pode ser um dos mecanismos utilizados
por células cancerosas para desenvolverem resistência a quimio e radioterapia,
tendo-se como resultado o rearranjo gênico e, em alguns casos, o aumento da agressividade
e propensão metastática. Levando-se para um lado mais evolutivo, a anastase é
um mecanismo de sobrevivência pelo qual a célula pode se utilizar quando há
estresses ambientais, resultando em rearranjo gênico e aumentando sua probabilidade
de sobrevivência (adaptabilidade) num ambiente hostil.
Fonte: Tang et al. Cell
survival, DNA damage, and oncogenic transformation after a transient and
reversible apoptotic response. Mol BiolCell, 23: 2240-2252, 2012.
Parabéns pelo post!!
ResponderExcluirUma vez mais a ciência mostra um processo adaptativo aconteciendo no nível micro e cujo conhecimento pode contribuir em um melhor entendimento de doenças como o cancer e sem dúvida, em aquelas doenças que afetam células que difícilmente podemos substituir. Parabéns pelo post
ResponderExcluirExcelente Post !
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