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quinta-feira, 15 de março de 2012

Vacina de “poliproteína”para Leishmaniose


Leishmaniose representa um espectro de doença causada por protozoários do gênero Leishmania. De acordo com as manifestações clínicas, a leishmaniose é classificada em três tipos: leishmaniose cutânea (CL), leishmaniose de mucosas (ML), e leishmaniose visceral (VL). Estas três formas clínicas são causadas por diferentes espécies de parasitas, incluindo Leishmania major (CL), Leishmania amazonensis (CL, ML e VL), Leishmania braziliensis (CL e ML) e Leishmania donovani e Leishmania infantum / chagasi (VL). No Novo Mundo, o agente causador da leishmaniose visceral é a Leishmania chagasi. A doença é endêmica em 88 países, com 350 milhões de pessoas em situação de risco e uma prevalência de 12 milhões de casos. Há 2 milhões de novos casos de leishmaniose e 59.000 mortes por ano. A LV, por ser uma doença sistêmica, consiste na forma mais grave de leishmaniose. Tem uma taxa de incidência de 500.000 casos por ano, 90% dos casos em Bangladesh, Índia, Nepal, Sudão, Etiópia e Brasil (WHO, 2011). No Brasil, 34.000 casos ocorreram entre 2003 a 2009, com 219 óbitos em 2010 (Ministério da Saúde, Brasil, 2010).  A LV humana é caracterizada por febre, hepatoesplenomegalia, anemia, leucopenia e perda de peso, sendo fatal se não for tratada. LV está associada a uma depressão da resposta imune mediada por células T helper de tipo 1 (Th1), marcada pela ausência de interleucina IL -2 e interferon IFN-gama em resposta a antígenos de Leishmania in vitro. Após a o tratamento e cura do paciente há uma recuperação da resposta celular com produção de IFN-gama.  

Devido a complexidade dos mecanismos de doença e da estrutura antigênica do parasita, as várias tentativas de vacinação, ainda não surtiram o efeito desejado. Todavia, o fato de que as pessoas curadas de LV desenvolverem proteção contra a reinfecção mediada por células  Th1, com produção de IFN-gama, favorece a possibilidade de uma vacina para a prevenção da doença. A primeira geração de vacinas utilizando lisados ​​do parasita ou parasitas mortos foram, ocasionalmente,  seguras e imunogênicas e exibiram proteção contra a leishmaniose experimental. Contudo, alguns fatores são difíceis de controlar na produção destes antígenos, tais como: Leishmania inativadas podem não fornecer, consistentemente, uma fonte segura, eficaz, estável e confiável de antígenos, necessária para um programa de vacinação em grande escala; além de custo elevado de produção. Recentemente, alguns antígenos foram utilizados, com algum sucesso, em vacinação contra leishmaniose cutânea e leishmaniose visceral experimental.  Os antígenos isolados, tais quais, LACK, GP63, TSA, HASPB, SMT, KMP11, CBP conferem proteção contra a doença em diferentes modelos animais de leishmaniose.  No entanto, devido ao polimorfismo genético no sistema imune dos mamíferos, uma vacina composta de antigénios múltiplos, em vez de um produto de único gene, é mais promissora para induzir uma resposta imune protetora contra a leishmaniose em um amplo espectro de indivíduos. Na publicação de Yasuyuki Goto,  KSAC, the First Defined Polyprotein Vaccine Candidate for Visceral Leishmaniasis”,  os autores construiram uma poliproteina, geneticamente fundidas, compostas de antígenos de Leishmania que, isoladamente, foram protetoras contra LV em modelos animais, incluindo cães, e reconhecidas por seres humanos curados de LV. A poliproteína foi composta com as seguintes proteínas: KMP-11, SMT, A2 e CBP. Nos modelos murinos de LC e LV, esta poliproteina foi capaz de induzir resposta imune celular com produção de IFN-gama e proteger contra infecção cutânea na orelha do camundongo. Os autores sugerem ser factível produzir uma vacina prática, com custo-efetividade e capaz de proteger humanos e cães contra múltiplas espécies de Leishmania.

Roque Almeida

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