Leishmaniose representa um espectro de doença causada por
protozoários do gênero Leishmania. De acordo com as manifestações
clínicas, a leishmaniose é classificada em três tipos: leishmaniose cutânea
(CL), leishmaniose de mucosas (ML), e leishmaniose visceral (VL). Estas três
formas clínicas são causadas por diferentes espécies de parasitas, incluindo Leishmania major (CL), Leishmania amazonensis (CL, ML e VL), Leishmania braziliensis (CL e ML) e Leishmania donovani e Leishmania infantum / chagasi
(VL). No Novo Mundo, o agente causador da leishmaniose visceral é a Leishmania chagasi. A doença é endêmica
em 88 países, com 350 milhões de pessoas em situação de risco e uma prevalência
de 12 milhões de casos. Há 2 milhões de novos casos de leishmaniose e
59.000 mortes por ano. A LV, por ser uma doença sistêmica, consiste na forma
mais grave de leishmaniose. Tem uma taxa de incidência de 500.000 casos por
ano, 90% dos casos em Bangladesh, Índia, Nepal, Sudão, Etiópia e Brasil (WHO,
2011). No Brasil, 34.000 casos ocorreram entre 2003 a 2009, com 219 óbitos
em 2010 (Ministério da Saúde, Brasil, 2010). A LV humana é caracterizada
por febre, hepatoesplenomegalia, anemia, leucopenia e perda de peso, sendo
fatal se não for tratada. LV está associada a uma depressão da resposta imune
mediada por células T helper de tipo 1 (Th1), marcada pela ausência de interleucina
IL -2 e interferon IFN-gama em resposta a antígenos de Leishmania in vitro. Após a o tratamento e cura do paciente há uma recuperação
da resposta celular com produção de IFN-gama.
Devido a complexidade dos mecanismos de doença e da estrutura
antigênica do parasita, as várias tentativas de vacinação, ainda não surtiram o
efeito desejado. Todavia, o fato de
que as pessoas curadas de LV desenvolverem proteção contra a reinfecção mediada
por células Th1, com produção de
IFN-gama, favorece a possibilidade de uma vacina para a prevenção da
doença. A primeira geração de vacinas utilizando lisados do parasita ou
parasitas mortos foram, ocasionalmente,
seguras e imunogênicas e exibiram proteção contra a leishmaniose
experimental. Contudo, alguns fatores são difíceis de controlar na
produção destes antígenos, tais como: Leishmania inativadas podem não fornecer,
consistentemente, uma fonte segura, eficaz, estável e confiável de antígenos, necessária
para um programa de vacinação em grande escala; além de custo elevado de
produção. Recentemente, alguns antígenos foram utilizados, com algum sucesso,
em vacinação contra leishmaniose cutânea e leishmaniose visceral experimental.
Os antígenos isolados, tais quais, LACK, GP63, TSA, HASPB, SMT, KMP11,
CBP conferem proteção contra a doença em diferentes modelos animais de
leishmaniose. No entanto, devido ao polimorfismo genético no sistema
imune dos mamíferos, uma vacina composta de antigénios múltiplos, em vez de um
produto de único gene, é mais promissora para induzir uma resposta imune protetora
contra a leishmaniose em um amplo espectro de indivíduos. Na publicação de Yasuyuki
Goto, KSAC, the First Defined
Polyprotein Vaccine Candidate for Visceral Leishmaniasis”, os autores construiram uma poliproteina,
geneticamente fundidas, compostas de antígenos de Leishmania que, isoladamente,
foram protetoras contra LV em
modelos animais, incluindo cães, e reconhecidas por seres humanos curados de
LV. A poliproteína foi composta com as seguintes proteínas: KMP-11, SMT, A2 e
CBP. Nos modelos murinos de LC e LV, esta poliproteina foi capaz de induzir
resposta imune celular com produção de IFN-gama e proteger contra infecção cutânea
na orelha do camundongo. Os autores sugerem ser factível
produzir uma vacina prática, com custo-efetividade e capaz de proteger humanos
e cães contra múltiplas espécies de Leishmania.
Roque
Almeida
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