Post de Sarah Falcão
Este texto foi originalmente postado no blog dos laboratórios LIMI / LIP -Scientia Totum circumit orbem por Sarah Falcão. Como o artigo é bem atual entre os Leishmaniacos, resolvi passar adiante
A inoculação de L. major pela picada do flebótomo ou pela agulha, induz intensiva infiltração de neutrófilos (PMN) que fagocitam a maioria dos parasitas, mas falham na sua eliminação. Além disso, depleção de PMNs, antes da infecção, leva a uma rápida remoção dos parasitas. Assim, este trabalho visou monitorar a sequência de eventos inflamatórios após a infecção com L. major na derme da orelha do camundongo, observando ainda o papel dos neutrófilos na indução da resposta imune adaptativa, via interação com DCs.
Em camundongos C57BL/6, infectados na orelha com L. major-RFP metacíclicas, foi observado que Neutrófilos Ly6G+ (PMNs) surgiram no sítio do inóculo 1 hora após a infecção. O animal que sofreu manipulação com agulha, mas não foi infectado, apresentou semelhante quantidade de PMN, indicando que apenas o dano tecidual provocado pela agulha já induz o seu recrutamento. Entretanto, após 4hs, foi observado um número elevado de PMNs induzido apenas pela presença da L. major. O recrutamento de monócitos (Mo) inflamatórios (Ly6Chi) iniciou mais tardiamente, após 12hs, apresentando um pico após 24hs de infecção. Células dendríticas (DCs) derivadas de monócitos (Ly6Chi CD11c+ MHCII+) foram encontradas na orelha a partir do 7º dia de infecção, aumentando após 14 dias. Macrófagos (MØs) (MHCII+, F4/80+) e DCs (CD11c+, MHCII+) da derme, permaneceram sem grandes alterações nos primeiros 7 dias, vindo a apresentar um aumento apensa com 14 dias de infecção.
Os neutrófilos foram as células predominantemente infectadas durante as primeiras horas (1-12hs) e foram as células com a maior taxa de infecção (72%). Experimentos com PMNs RFP+ de camundongo Lys-eGFP infectado com Lm-RFP obtidos por sorting e transferidos para animal C57BL/6 WT, demonstraram que após 4hs, a maioria das células RFP+, portanto, infectadas, eram eGFP-, sugerindo que muitos parasitas foram adquiridos dos neutrófilos infectados. Células CD11c+RFP+eGFP+ foram encontradas indicando que muitas DCS adquiriram parasitas via a captura de neutrófilos infectados. Ademais, os PMNs eGFP+RFP+ apresentaram alta expressão de anexina V, o que foi confirmada por TUNEL. Esses resultados sugerem que a captura daL.major induz apoptose nos PMNs que pode favorecer o seu reconhecimento e a captura pelas DCs da pele.
A expressão de mieloperoxidase (MPO) pelas células dendríticas CD11c+ foi acessada após a depleção de PMNs, no intuito de comprovar que PMNs foram fagocitados por células dendríticas. De fato, foi observada a expressão de MPO pelas DCs e essa expressão diminuiu após a depleção de PMNs. O mesmo foi observado em relação a produção de elastase neutrofílica. Com a depleção dos neutrófilos, por outro lado, a expressão de MHCII, CD86 e CD40 aumentou nas DCs RFP+. Além disso, após a depleção de PMN a produção de IFN-g foi maior.
Para avaliar a influência dos PMNs no priming das células T CD4+ ao antígeno derivado de L. major, camundongos foram depletados de PMNs 24hs antes da infecção com L. major SP-OVA e células T CD4+ naive OT-II específicas para OVA foram transferidos para o mesmo animal. A proliferação celular foi maior com a depleção de PMN. Assim, esses resultados juntos, sugerem que a captura de neutrófilos apoptóticos infectados pelas DCs da derme previne a ativação de células T CD4+ específicas para Leishmania enquanto houver a resposta neutrofílica aguda.
Ribeiro-Gomes FL, Peters NC, Debrabant A, & Sacks DL (2012). Efficient capture of infected neutrophils by dendritic cells in the skin inhibits the early anti-leishmania response. PLoS pathogens, 8 (2) PMID: 22359507
Muito legal, principalmente a cinética da chegada das diferentes células, que eh útil para comparação com vários outros sistemas experimentais. Também faz sentido não ativar os linfocitos T enquanto os neutrófilos dão conta do recado.
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