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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ratundongo? Ou será um Camundato?




Fugindo um pouco da imunologia, um artigo excepcional publicado no último número da Cell (3 de setembro) mostrou que é possível gerar órgãos inteiros e funcionais a partir de células tronco usando a técnica de complementação de blastocisto (blastocyst complementation).

Essa técnica consiste em injetar células tronco de um animal wild-type em um blastocisto proveniente de um animal com uma deficiência genética que leva à ausência de algum órgão. Nos animais quiméricos que resultam dessa mistura, o órgão em questão é derivado inteiramente do doador wild-type.

Até aí, tudo bem – técnicas semelhantes vêm sendo utilizadas há vários anos por centenas de grupos mudo a fora para, entre outras coisas para gerar os camundongos nocaute tão queridos pelos imunologistas. O que diferencia esse trabalho dos demais é que o grupo de Nakauchi, da universidade de Tokyo, no Japão, fez quimeras de células tronco de animais não só de espécies, mas de gêneros diferentes—rato e camundongo. Mais impressionante ainda, os autores conseguiram gerar essas quimeras não só com células tronco embrionárias, mas também com células tronco pluripotentes induzidas (iPS cells) reprogramadas a partir de fibroblastos por transdução com os famosos fatores Oct3/4, Sox2 e Klf4.

Os autores vão além, e mostram que a injeção de células iPS de rato em blastocistos de camundongos nocaute para o gene Pdx1, que são desprovidos de pâncreas, gerou quimeras onde o pâncreas era quase inteiramente derivado das células do rato, e que tinham níveis normais de glicose no soro, mostrando que o órgão gerado a partir das células injetadas era funcional.

Na discussão, os autores consideram que o seu trabalho é uma prova de princípio (proof-of-principle) de que órgãos humanos inteiros poderão no futuro ser gerados a partir de células iPS humanas em animais quiméricos. Mas antes que os comitês de ética do mundo inteiro entrem em pânico—os autores ressaltam que os aspectos éticos da construção de híbridos com células humanas podem ser contornados pela utilização de células tronco mais diferenciadas, capazes de contribuir para a formação apenas de alguns órgãos no animal quimérico.

E vc, leitor, o que acha? Será que o tempo dos minotauros voltou?

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2 comentários:

  1. Excelente, Gabriel. Me lembrou do Zedonk (zebra+donkey):
    http://www.theatlantic.com/technology/archive/2010/07/meet-the-zedonk-the-zebra-donkey-hybrid/60609/
    Brincadeiras a parte, acho importante discutir os aspectos éticos, como você destacou.

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  2. Excelente Peter... adorei.. vou levar essa discussão aos meus alunos na sala de aula.. Estou dando aula de Imuno para a Biologia e acho fundamental discutir os aspectos éticos na ciência, tanto quanto os avanços científicos. Saudades de vc.. dê notícias... beijos.. Evelyn

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